Jovens iranianos estão divididos sobre conflito com Israel – 21/06/2025 – Mundo

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Durante os últimos dias, Israel lançou uma série de ataques aéreos massivos contra o Irã, o que levou o governo de Teerã a retaliar com mísseis e drones.

Em mensagem de vídeo, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse ao povo iraniano que, além de acabar com o programa nuclear do país, a operação tinha como objetivo abrir caminho “para alcançar a liberdade”.

Alguns setores da oposição fragmentada do Irã se uniram ao apelo de Netanyahu. Outros desconfiam das intenções do governo israelense.

Não há grupos oficiais de oposição dentro do Irã, onde as autoridades há muito tempo reprimem qualquer dissidência, o que inclui uma onda de execuções e prisões em massa a partir da década de 1980.

Desde então, a maioria dos grupos de oposição está no exterior, como dois mais organizados: aqueles que apoiam a volta da monarquia com Reza Pahlavi, o filho do último xá do Irã, e a Organização Mujahedin Khalq (MEK/MKO).

Também ficou cada vez mais difícil para jornalistas entrarem em contato com pessoas dentro do Irã, por causa das restrições de acesso à internet e às redes sociais impostas pelas autoridades. No entanto, nos últimos dias, a BBC conseguiu falar com vários jovens iranianos que se opõem ao regime do aiatolá —e que protestaram contra o governo no passado.

Os nomes dos entrevistados foram alterados por uma questão de segurança, já que as autoridades iranianas frequentemente prendem opositores na tentativa de reprimir qualquer voz contrária.

‘O inimigo é a República Islâmica’

Tara, 26, disse à BBC que, quando Israel emite alertas de retirada antes dos ataques, as autoridades cortam o acesso à internet “para que as pessoas não descubram e o número de mortos aumente”. Postos de controle e pedágios também são instalados, diz Tara. Ela acusa as autoridades de criarem trânsito deliberadamente, o que “incentiva as pessoas a permanecerem em áreas que são alvo”.

“Falar sobre patriotismo, unidade e resistência ao inimigo é absurdo. O inimigo vem nos matando lentamente há décadas. E o inimigo é a República Islâmica”, diz ela.

O Exército israelense tem emitido alertas de retirada pelo aplicativos de mensagens Telegram e pelo X, ambos proibidos no Irã. Somado ao acesso limitado à internet, isso significa que é difícil para os iranianos receberem os avisos.

Sima, 27, contou à BBC que não se importa mais com isso. “Gostaria que Israel terminasse o trabalho o mais rápido possível. Estou exausta. Embora eu ainda não seja fã de Israel ou do que o país está fazendo, espero que eles terminem o que começaram.”

“Isso é uma ilusão, eu sei. Mas eu quero que eles nos livrem da ameaça do IRGC [Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã], [do aiatolá Ali] Khamenei e dos aiatolás como um todo.”

Ali Khamenei, o líder supremo do Irã, é o comandante-chefe das Forças Armadas, que inclui o poderoso IRGC, grupo com a tarefa de defender o sistema islâmico e supervisionar os mísseis balísticos do país.

‘Eles nos mataram nas ruas’

Algumas pessoas que falaram com a BBC foram ainda mais enfáticas no apoio aos ataques de Israel. Amir, 23, disse que os apoiava 100%. Questionado sobre o motivo, ele disse acreditar que ninguém mais estava preparado para enfrentar o regime iraniano.

“Nem a Organização das Nações Unidas, nem a Europa, nem mesmo nós. Nós tentamos, lembra? E eles nos mataram nas ruas. Fico feliz quando as pessoas que destruíram nossas vidas finalmente sentem o gosto do medo. Nós merecemos isso.”

Amir está se referindo aos protestos generalizados no Irã após a morte de Mahsa Amini. A jovem de 22 anos morreu sob custódia policial em 2022, após ser presa por supostamente violar as regras que exigem o uso de véu por mulheres.

O grupo Iran Human Rights (Direitos Humanos no Irã, em tradução livre), sediado na Noruega, relatou que 537 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança do Estado durante os protestos realizados há cerca de três anos. A versão oficial do governo é que “as forças de segurança agiram com responsabilidade”, e a culpa pelas mortes foi de manifestantes violentos ou agitadores estrangeiros.

O lema dos protestos de 2022 —“mulher, vida, liberdade”— foi repetido por Netanyahu recentemente, tanto em inglês quanto em persa, ao instar os iranianos a “se levantarem e fazerem com que suas vozes sejam ouvidas”.

O Irã não respondeu oficialmente aos apelos do primeiro-ministro israelense, mas alguns radicais e figuras da mídia zombaram e menosprezaram as declarações dele. Enquanto isso, representantes do governo alertaram contra o compartilhamento de campanhas e declarações de autoridades israelenses e americanas sobre o Irã.

No entanto, alguns opositores da República Islâmica desconfiam das intenções de Netanyahu. “Participei dos protestos [em 2022] porque tinha esperança de uma mudança de regime naquela época. Simplesmente não vejo como o regime poderia ser derrubado no atual conflito sem que o próprio Irã fosse destruído no processo”, avalia Navid, um ativista de 25 anos que foi brevemente preso durante os protestos.

“Israel também está matando pessoas comuns. Em algum momento, todos começarão a ficar do lado da República Islâmica”, acrescenta ele.

Para Darya, 26, “o fato de as pessoas não saírem para protestar já é uma resposta clara” ao apelo de Netanyahu. “Eu não iria, mesmo que Israel bombardeasse minha casa. Netanyahu se esconde atrás de slogans nacionalistas iranianos e finge que ajuda os iranianos a alcançar a liberdade enquanto mira áreas residenciais. Levaremos anos para reconstruir o país.”

Já Arezou, 22, não sabia o que pensar sobre os últimos desdobramentos. “Odeio o regime e odeio o que ele fez conosco. Mas quando vejo as bombas caindo, penso na minha avó, na minha priminha. E eu vi o que Netanyahu fez com Gaza. Você acha mesmo que ele se importa com os iranianos? Não se trata de nós, trata-se da política [israelense]”, afirma ela.

“Sinto que tenho uma escolha entre dois males, e não consigo. Só quero meu povo seguro. Quero respirar sem medo.”

Mina, 27, diz querer “que este regime acabe mais do que qualquer outra coisa, mas não desse jeito”.

“Não com mais bombas, com mais mortes. Israel não é nossa salvação. Quando pessoas inocentes morrem, não damos um passo em direção à liberdade. Essa é só mais uma forma de injustiça. Não quero trocar um tipo de terror por outro. Sou contra este regime e também contra esta guerra. Merecemos uma saída melhor do que esta”, conclui ela.

Esta reportagem foi originalmente publicada aqui.



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