No dia seguinte a um bate-boca escancarado entre Donald Trump e Elon Musk, o clima nas redes sociais parecia mais calmo, sem ataques mútuos, mas também sem sinais de reconciliação. Ao contrário: em conversas por telefone com jornais americanos nesta sexta-feira (6), Trump afirmou que não pretende falar com o empresário e “nem pensa” nele, indicando um rompimento definitivo com o até então aliado.
“Acho que não vou falar com ele por um tempo, mas desejo tudo de bom”, disse Trump à CNN. “Nem estou pensando no Elon. Ele tem um problema. O coitado tem um problema.”
Na rede ABC, Trump foi questionado sobre possível chance de reaproximação. “Você quer dizer o homem que perdeu a cabeça?”, respondeu. Em seguida, afirmou que “não estava particularmente” interessado em falar com o bilionário a quem delegou um departamento sob medida em seu retorno à Casa Branca.
Funcionários da Casa Branca disseram também a jornais americanos que Trump avalia vender o Tesla vermelho que comprou de Musk em março. O veículo foi adquirido como um sinal de apoio do republicano ao bilionário, que enfrentou protestos pelo mundo com seus carros como alvo. Se confirmada, a venda terá um peso simbólico expressivo do rompimento. Na manhã desta sexta, o Tesla ainda podia ser visto estacionado em uma das entradas da Casa Branca.
Mais cedo, o site Politico relatou ter conversado com Trump pelo telefone e informou que ele havia dito que “estava tudo bem”. O portal também afirmou que assessores do presidente americano haviam agendado uma conversa dele com o bilionário, algo que depois o presidente disse que não iria acontecer.
Segundo o Politico, assessores da Casa Branca teriam tentado convencer Trump a moderar seus comentários para evitar um agravamento da situação. Musk também havia sinalizado que poderia concordar com um apaziguamento.
O gestor de fundos de hedge Bill Ackman sugeriu numa mensagem no X que houvesse uma reconciliação. “Eu apoio Donald Trump e Elon Musk, e eles deveriam fazer as pazes pelo bem do nosso grande país”, escreveu. Musk foi receptivo e respondeu: “Você não está errado.”
Nenhum gesto concreto nesse sentido foi tornado público até aqui.
Questionado novamente por jornalistas a bordo do avião presidencial, Trump basicamente disse que tem mais o que fazer. “Honestamente, tenho estado tão ocupado lidando com a China, com a Rússia, com o Irã, que não estou pensando em Elon Musk. Só desejo o melhor para ele.”
A briga tem potencial de prejudicar os dois, que têm controle sobre um volume exorbitante de capital: pecuniário e político. No caso de Trump, ele poderia suspender contratos de Musk, como ameaçou fazer. Só no ano passado, segundo o jornal The New York Times, a Tesla e a SpaceX tiveram promessas de US$ 3 bilhões em cerca de cem contratos com 17 agências federais —um conflito de interesses tão evidente quanto reiteradamente negado por ambas as partes.
O presidente também poderia, em tese, contestar o status migratório de Musk, que nasceu na África do Sul; alavancar a polêmica sobre o suposto uso de drogas do bilionário e usar poderes presidenciais de uma forma mais ampla contra o ex-aliado.
Musk poderia, por sua vez, colocar a máquina do X contra Trump e emperrar missões da agência espacial americana, que tem usado um dos seus foguetes para transporte. E ele mesmo diz ter segredos a revelar, insinuando que o presidente tinha ligações obscuras com Jeffrey Epstein, o bilionário que morreu em 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual de menores.
Os sinais de desgaste na relação entre Musk e Trump tornaram-se mais claros na semana passada, quando o empresário criticou o megaprojeto de lei orçamentária do presidente. O ápice das divergências, porém, girou em torno da indicação feita pelo bilionário de um nome para gerir a Nasa.
Segundo o New York Times, pouco antes de participar de uma entrevista de despedida de Musk, Trump recebeu um documento mostrando que o indicado do empresário havia feito doações no passado a políticos do Partido Democrata. Os dois, então, teriam discutido a nomeação para depois participar da entrevista coletiva, em que Trump não poupou elogios ao bilionário. Horas depois, o presidente retirou a nomeação do indicado de Musk.
Dias depois, o bilionário elevou o tom das críticas ao projeto de lei de Trump, chamando-o de abominação. Segundo o presidente, Musk enlouqueceu em reação a uma medida que seria desfavorável aos veículos elétricos — a Tesla é uma das maiores montadoras globais da categoria.
A briga de foices ganhou maior proporção quando o bilionário disse que, sem a sua ajuda (quase US$ 300 milhões), o republicano teria perdido as eleições presidenciais de novembro. A menção ao caso Epstein veio em seguida, bem como um barulhento sim em resposta a um usuário do X que perguntou se Trump deveria sofrer um impeachment. A Casa Branca chamou os ataques de lamentáveis.