Aulas de teatro em escolas viram campo de batalha nos EUA – 09/07/2023 – Mundo

Aulas de teatro em escolas viram campo de batalha nos


Stevie Ray Dallimore, ator e professor, dirigiu um programa de teatro de um colégio particular para meninos em Chattanooga, Tennesse, por uma década, mas nunca havia enfrentado um ano letivo problemático como este nos Estados Unidos.

Uma proposta de produção da obra “She Kills Monsters” em uma escola vizinha para meninas e que teria incluído seus alunos foi rejeitada por ter conteúdo gay, segundo Dallimore. Da mesma forma, uma montagem de “Shakespeare Apaixonado” foi rejeitada porque os rapazes vestiriam trajes femininos para representar mulheres.

A produção que seu colégio faria de “As Três Irmãs”, obra clássica de Anton Tchékhov, foi rejeitada por tratar de adultério. E também houve preocupação com a possibilidade de alguns meninos representarem papéis femininos, como foi feito no passado, disse.

As aulas de teatro em escolas viraram o mais recente campo de batalha em um momento em que as divisões políticas e culturais americanas têm levado à proibição de livros, divergências em torno do ensino sobre raça e sexualidade nas escolas e esforços de alguns políticos para limitar apresentações de drags e restringir assistência de saúde transgênero para crianças e adolescentes.

Durante décadas as produções teatrais estudantis foram avaliadas para saber se eram apropriadas para diferentes faixas etárias. Mais recentemente, estudantes e pais de viés esquerdista rejeitaram muitas produções pelo modo como retratam mulheres e pessoas não brancas. A onda mais recente de objeções vem em grande parte de pais e autoridades escolares de direita.

O ato final do drama enfrentado por Dallimore no colégio em Chattanooga chegou quando ele soube que seu cargo na escola McCallie estava sendo eliminado, e que a mesma coisa seria feita com o cargo de sua colega na escola vizinha Girls Preparatory. Ele e sua colega foram convidados a candidatar-se a um cargo novo, com apenas uma vaga, de supervisão do teatro nas duas escolas. Ambos os educadores agora se encontram desempregados.

“É evidente que este é um problema que afeta o país todo e do qual nós somos apenas uma pequena parte”, comentou Dallimore. “Faz parte de um movimento maior, um esforço coordenado de juntar política e religião, proibindo livros, procurando deletar a história e vilipendiar a alteridade.”

Porta-voz do colégio McCallie, Jamie Baker reconheceu que os dois cargos de professor de teatro nas escolas haviam sido eliminados para que os programas pudessem ser combinados, mas disse que “deixar entender ou afirmar que o contrato do diretor de teatro não foi renovado devido a preocupações com conteúdo seria um equívoco”. Ela ainda destacou que a instituição tem “herança judaico-cristã e é comprometida com os princípios cristãos”.

Professores de teatro em todo o país dizem que estão enfrentando um patrulhamento crescente de suas escolhas, e que obras teatrais que eram aceitáveis poucos anos atrás hoje não podem mais ser encenadas em alguns distritos escolares. A Associação de Teatro Educativo divulgou no mês passado uma sondagem realizada com professores que apontou que 67% deles dizem que preocupações com a censura estão influenciando suas escolhas de peças para o próximo ano letivo.

Em emails e telefonemas trocados nas últimas semanas, professores e pais citaram uma série de exemplos. Da parte da direita, objeções foram apresentadas à homossexualidade no musical “The Prom” (“A Festa de Formatura”) e na peça “Almost, Maine”, além de outras encenadas com frequência.

Da parte da esquerda, queixas foram apresentadas sobre retratos da questão racial em “South Pacific” (“Ao Sul do Pacífico”) e “Thoroughly Modern Millie” (“Positivamente Millie”) e questões de gênero em “How to Succeed in Business Without Really Trying”, “Bye Bye Birdie”(“Adeus, Amor”) e “Grease”. E inúmeras queixas inesperadas têm sido apresentadas em escolas individuais —sobre a presença de bullying em “Mean Girls”(“Meninas Malvadas”) e ausência de personagens brancos em “Fences” (“Um Limite Entre Nós”), além de palavrões em “Oklahoma” e “Newsies”.

Hoje os professores procuram ansiosamente por peças que sejam relevantes para os adolescentes, mas que não lhes causem problemas.

“Existe muita vontade de evitar polêmicas de qualquer tipo”, comentou Chris Hamilton, diretor da disciplina teatro em um colégio de ensino médio de Kennewick, Washington. Hamilton disse que este ano letivo que passou foi o primeiro, em dez anos de sua vida profissional, que uma peça que ele propôs foi proibida pela direção da escola: “She Kills Monsters”, comédia sobre uma adolescente que se consola jogando Dungeons & Dragons. É a sétima mais popular peça de teatro encenada em escolas do país e inclui personagens gays. “O nível de patrulhamento aumentou”, disse Hamilton.

Em todo o país, seja em Estados de maioria democrata ou republicana, professores de teatro dizem que está cada vez mais difícil encontrar peças e musicais capazes de escapar do tipo de críticas que eles receiam que possam lhes custar seus empregos ou levar a cortes nas verbas para as escolas. “Há gente perdendo o emprego por escolher o musical errado”, disse Ralph Sevush, do Sindicato de Dramaturgos da América. “A sociedade polarizada está travando suas guerras culturais nas escolas de ensino médio.”

As restrições estariam afetando a educação de futuros artistas e membros de plateias artísticas.

Howard Sherman, diretor-gerente do Centro Baruch de Artes Cênicas, de Nova York, que acompanha a questão há anos, disse: “Os estudantes merecem ter a oportunidade de ser expostos a uma grande diversidade de trabalho, e não apenas aos materiais mais seguros, mais próprios para o público familiar, mais benignos”.

Em algumas regiões, as peças de teatro contestadas não podem sequer ser lidas. Em Kansas, respondendo a objeções apresentadas por um pai, o conselho escolar de Lansing proibiu alunos do ensino médio de lerem “The Laramie Project”, peça que trata do assassinato de Matthew Shepard, estudante gay de Wyoming, e que normalmente é encenada e estudada com frequência.

“Todos os anos, sempre houve algumas poucas escolas que proibiram uma produção, mas esta é a primeira vez que se proíbe até a leitura da peça”, disse o autor principal da peça, Moisés Kaufman, cuja companhia de teatro se ofereceu para enviar o roteiro a qualquer aluno de Lansing que o pedir. “Não quero ser alarmista, mas isto é alarmante.”



Fonte CNN BRASIL

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