A eletricidade e a água corrente voltaram à maioria dos bairros de Goma. Os habitantes da cidade no leste da República Democrática do Congo (RDC) viveram dias dramáticos desde que uma coligação rebelde liderada pela milícia M23 iniciou o seu avanço no final de janeiro. Após dias de combates, tomaram o controlo de Goma; segundo a ONU, cerca de 900 pessoas foram mortas no processo.
Mas a eletricidade e a água, por si só, não são suficientes para estabilizar a situação humanitária, como a DW constatou no terreno. Um dos desafios é enterrar os muitos mortos antes que as doenças se comecem a propagar. Os hospitais também estão a ser sobrecarregados até ao limite, porque têm de tratar milhares de feridos, para além das suas operações normais.
A DW visitou um hospital da Cruz Vermelha que tem 146 camas – e está atualmente a tratar 290 pacientes. Foram montadas tendas brancas no terreno do edifício de um só piso para albergar mais feridos. Os médicos pedem mais condições para tratar os doentes.
“Neste momento, precisamos de consumíveis e medicamentos, ou seja, de tudo o que é necessário para prestar cuidados. Como sabem, o nosso armazém foi saqueado, o que dificulta a prestação de cuidados. Pedimos medicamentos aos nossos parceiros, mas eles demoram a chegar – já passaram dez dias. Isto está a dificultar a prestação de cuidados”, disse o médico Abdouraman Sidibé.
Para Stephanie Wolters, especialista na região dos Grandes Lagos no Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, declarar um cessar-fogo é sempre algo positivo.
“Parece que estão dispostos a negociar ou a pôr fim às hostilidades ou a permitir a retoma da ajuda humanitária. Eles também controlam praticamente tudo o que querem até agora. Ouvimos relatos de que se dirigiam para Bukavu e é provável que ainda o possam fazer ou que retomem os combates. Por isso, penso que se trata, em grande medida, de uma tática para acalmar algumas das críticas que lhes são dirigidas”, declarou.
Não é só por causa da retórica em Kigali e Kinshasa que existem preocupações de que a escalada possa transformar-se noutra grande guerra. Segundo informações, o Uganda já aumentou a sua presença militar no leste do Congo de 1.000 homens para cerca de 4.000 a 5000 soldados. A região, rica em recursos naturais, já foi palco de duas guerras entre 1996 e 2003, com numerosos grupos envolvidos e um total de seis milhões de mortos.
Os cerca de 20 anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra do Congo continuaram a ser caracterizados pela instabilidade para muitas pessoas: a presença de milícias em mutação, juntamente com os combates, as pilhagens e as violações levaram repetidamente as pessoas a fugir. Mesmo antes do início da última escalada, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) contabilizava 4,6 milhões de pessoas deslocadas internamente nas províncias problemáticas do Kivu do Norte e do Sul.
Eujin Byun, porta-voz mundial do ACNUR, fala em alguns constragimentos no terreno.
“Ouvimos dizer que os bloqueios de estrada são uma dificuldade para as pessoas que se deslocam em busca de segurança e é exatamente por isso que apelamos a uma passagem segura tanto para a ajuda humanitária como para as pessoas necessitadas”, frisou.
Se o M23 e os seus aliados continuarem a avançar após o fim do cessar-fogo, mais pessoas na província do Kivu do Sul poderão fugir.
Mas a fuga continua a ser a única saída minimamente segura para a população. Se o M23 avançar sobre Bukavu, muitos habitantes da cidade dos milhões poderão tomar a mesma decisão.
Entretanto, a cimeira dos líderes africanos reunidos na Tanzânia para enfrentar a crise na República Democrática do Congo apelou no sábado (08.02) aos chefes militares para estabelecerem um “cessar-fogo imediato e incondicional” no prazo de cinco dias.
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