França e Reino Unido propuseram uma trégua de um mês na Guerra da Ucrânia, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, ao jornal Le Figaro. O cessar-fogo incluiria ataques aéreos, marítimos e infraestruturas energéticas, mas não combates terrestres.
A iniciativa é, ao que tudo indica, o resultado mais concreto das discussões realizadas por líderes europeus em Londres neste domingo (2).
A convite do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, representantes de todo o continente se reuniram para demonstrar apoio ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, confrontado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, no Salão Oval da Casa Branca na sexta-feira (28).
Na capital britânica, todos concordaram com a necessidade de aumentar seus orçamentos para a defesa para assim mostrar a Trump que são capazes de proteger a si mesmos.
Segundo o premiê da Polônia, Donald Tusk, também houve uma consonância em relação à ideia de a Europa assumir mais gastos dentro da Otan (a Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar liderada pelos americanos).
Com as finanças de muitas das nações já sob pressão, a alemã Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, sugeriu que o bloco poderia flexibilizar suas regras sobre dívidas públicas.
“Os Estados-membros precisam de mais espaço fiscal para fazer um aumento nos gastos com defesa”, disse ela, acrescentando que a Europa precisava transformar “a Ucrânia em um porco-espinho de aço que seja indigesto para potenciais invasores”.
Os líderes também acolheram a ideia de elaborar um plano de paz a ser levado aos EUA. A etapa é considerada vital para que Washington ofereça as garantias de segurança que Kiev considera essenciais para dissuadir a Rússia. O continente busca ainda garantir que Kiev não será excluída das negociações.
Starmer —que recebeu com um abraço um Zelenski visivelmente abalado no sábado (1º)— disse que o Reino Unido, a Ucrânia, a França e outros países formariam uma “coalizão dos dispostos” e elaborariam um plano de paz para apresentar a Trump. Sem mencionar nomes, acrescentou que mais países se juntariam ao movimento.
Fez a ressalva, porém, de que sem Washington, as tratativas seriam inúteis. “A Europa deve fazer o trabalho pesado, mas para apoiar a paz em nosso continente, e para ter sucesso, esse esforço deve ter um forte apoio dos EUA”, disse a repórteres.
Ao fim da cúpula, segundo o jornal Washington Post, o britânico anunciou um empréstimo de US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão) para a Ucrânia, garantido por ativos russos congelados, além de US$ 2 bilhões (R$ 1,2 trilhão) em financiamento para que o país invadido compre mísseis de defesa aérea.
O constrangedor bate-boca de Trump com Zelenski levantou temores de que os EUA pretendem retirar seu apoio à Ucrânia e impor um plano de paz negociado com a Rússia. Durante o confronto, transmitido ao vivo, Trump acusou o ucraniano de não agradecer o suficiente a ajuda dos EUA na guerra e arriscar uma Terceira Guerra Mundial.
Zelenski —que ainda no domingo voou para se encontrar com o rei Charles 3º em Sandringham, residência privada do monarca no leste da Inglaterra— disse após a cúpula acreditar ser possível recuperar a relação com Trump após a discussão. Ressaltou, porém, que o diálogo precisa continuar a portas fechadas.
“Não acho que seja certo quando essas discussões são totalmente abertas. O formato do que houve, não acho que ele trouxe nada de positivo ou que tenha acrescentado algo para nós enquanto parceiros”, disse o ucraniano. Afirmou ainda que continua disposto a assinar o acordo de minerais proposto pelos americanos.
Trump reverteu a política dos EUA sobre a guerra no Leste Europeu desde que voltou à Casa Branca em janeiro, lançando dúvidas sobre seu apoio militar e político à Ucrânia —e à Europa— e encerrando o isolamento russo.
Ele surpreendeu o continente ao ligar para Putin sem aviso e ao enviar uma delegação à Arábia Saudita para conversar com a Rússia sem que isso incluísse a Ucrânia ou a Europa. Ainda sugeriu falsamente que Kiev era responsável por iniciar a guerra.
A reação do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, à cúpula deste domingo pode ser usada como evidência do alinhamento do republicano com os interesses de seu país. Lavrov elogiou o que chamou de “abordagem de bom senso” de Trump e acusou os países europeus de buscarem prolongar o conflito apoiando Zelenski “com suas baionetas na forma de unidades de manutenção da paz”.
A discussão de Zelenski com Trump na sexta encerrou uma semana em que a Europa parecia ter avançado em sua tentativa de encorajar o americano a continuar oferecendo apoio à Ucrânia, após visitas cordiais de Starmer e de Macron a Washington.