O regime do Irã luta pela sobrevivência – 19/06/2025 – Mundo

O regime do Irã luta pela sobrevivência - 19/06/2025 -


Quarenta anos após a guerra com o Iraque, a República Islâmica enfrenta um novo teste existencial. Quando a recém-estabelecida liderança islâmica do Irã foi arrastada para a guerra pelo ditador iraquiano Saddam Hussein em 1980, lutou, nas palavras de um dos principais comandantes, com “as mãos vazias”.

Para os jovens líderes ideológicos da república, determinados a exportar sua visão de radicalismo islâmico, foi um choque brutal: o Exército convencional do Irã estava em desordem e enfrentava um adversário apoiado por potências regionais e ocidentais.

Anos depois, esses mesmos líderes admitiram que o regime isolado teve de implorar aos poucos países com os quais mantinha relações por suprimentos básicos, como arame farpado.

Ainda assim, o Irã lutou por oito anos, apesar do custo humano esmagador, até que o líder da revolução, o aiatolá Ruhollah Khomeini, aceitou relutantemente um cessar-fogo com o Iraque —decisão que descreveu como “beber do cálice de veneno”.

Agora, o Irã enfrenta sua maior ameaça desde aquela guerra, enquanto a república é bombardeada por Israel, que possui um dos Exércitos mais sofisticados do mundo, repleto de equipamentos dos Estados Unidos e cujos serviços de inteligência penetraram profundamente dentro da República Islâmica.

Mais uma vez, os riscos para o regime iraniano são existenciais, com o sucessor de Khomeini, o aiatolá Ali Khamenei, 86, enfrentando o teste mais difícil de seu governo de quatro décadas.

“É o momento mais significativo de Khamenei. Ele enfrentou muitas reviravoltas desde que se tornou líder supremo em 1989, mas essa supera todas”, disse Sanam Vakil, diretora para o Oriente Médio da Chatham House. “A prioridade dele é a sobrevivência do regime —virar o jogo como o Irã conseguir. Eles se veem como Davi contra Golias, então conseguir sobreviver já é uma vitória para eles.”

Em poucos dias, Israel decapitou a liderança das Forças Armadas iranianas, atacou suas principais instalações nucleares, bombardeou infraestruturas energéticas vitais e espalhou o medo pelo país com enxames de drones e jatos sobrevoando a república, aparentemente sem resistência. Mais de 200 civis iranianos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde do Irã.

As agências de inteligência do regime foram humilhadas, e suas defesas aéreas, praticamente aniquiladas, deixando Teerã à mercê da Força Aérea israelense, que declarou na segunda-feira (17) “controle operacional total” dos céus da capital.

Israel afirmou ter atingido a sede da Força Quds —o temido braço internacional da Guarda Revolucionária— e destruído dezenas de lançadores usados para os mísseis iranianos.

Desarmado e em seu ponto mais vulnerável em décadas, mesmo antes de o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, lançar a guerra na sexta-feira (13), o Irã tem opções limitadas para repelir seu arqui-inimigo, segundo analistas.

A sociedade iraniana também é muito diferente da que lutou por sua sobrevivência contra o Iraque de Saddam Hussein.

O fervor revolucionário dos anos 1980 não une mais a população, e o apoio incondicional ao Estado está longe de ser garantido. Em vez disso, o regime entra em guerra num momento de descontentamento público sem precedentes com a liderança teocrática, com uma população jovem exausta após décadas de repressão, sanções dos EUA e dificuldades econômicas.

Mas desde que as bombas israelenses começaram a cair, para muitos iranianos —inclusive críticos do regime—, a segurança nacional superou as preocupações econômicas ou os pedidos por liberdade política.

Alguns iranianos questionam abertamente por que a república investiu tantos recursos estatais em seu programa nuclear e ainda não o transformou em arma para dissuadir ataques externos —mesmo quando os avanços nucleares servem de pretexto para o ataque de Netanyahu.

Ainda assim, muitos analistas e diplomatas ocidentais acreditam que a sobrevivência do regime não será determinada pelas bombas israelenses, mas pela dinâmica interna do próprio sistema, alertando que é cedo para prever seu colapso.

Por ora, a ausência de uma alternativa viável para substituir o regime continua sendo o maior fator de proteção dos governantes iranianos.

“Não há alternativa viável —dentro ou fora do Irã— ao sistema atual, tornando a reforma interna o único caminho realista”, disse Mohammad Atrianfar, político reformista e ex-prisioneiro político.

Não há oposição política organizada no Irã, e a oposição no exílio é tão impopular dentro da república quanto a liderança islâmica, dizem especialistas.

“Mesmo internamente, dentro do regime, eles provavelmente veem vantagens em se unir e manter a coesão em vez de se voltarem uns contra os outros”, disse Ali Vaez, especialista em Irã do think tank Crisis Group.

Referindo-se às duas guerras lideradas pelos EUA contra Saddam Hussein, ele acrescentou: “Acho que isso se assemelha mais ao Iraque de 1991 do que ao de 2003, no sentido de que o regime será esvaziado por dentro, mas duvido muito que colapse”.

Vaez afirmou que o regime tem poucas boas opções para atravessar o conflito com o menor dano possível. Dada a falta de uma saída evidente, a “única escolha” do Irã seria continuar com ataques de retaliação, na esperança de que mercados de energia abalados levem o presidente dos EUA, Donald Trump, a “puxar o freio” em Israel.

Depois da guerra com o Iraque —que ainda pesa na psique do regime— o Irã passou a investir em fabricação nacional de mísseis e drones, além de treinar e armar militantes regionais para enfrentar inimigos melhor equipados com guerra assimétrica.

Mas, nos 20 meses desde o ataque do Hamas em 7 de outubro, Israel tem desferido uma série de golpes devastadores contra o principal aliado de Teerã, o Hezbollah libanês, e destruiu grande parte das defesas aéreas iranianas durante duas rodadas de ataques de retaliação no ano passado.

Apesar das probabilidades desfavoráveis, a liderança iraniana —muitas vezes descrita como uma combinação de ideologia radical e pragmatismo calculado— promete revidar na mesma moeda, acreditando que o objetivo final de Netanyahu, com apoio dos EUA, é a destruição total do regime.

Mas, mesmo com os instintos de sobrevivência à flor da pele, o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, também sinalizou que Teerã estaria disposto a aceitar uma resolução diplomática em algum momento.

Enquanto elogiava o papel das Forças Armadas, Araghchi disse no domingo que Teerã buscaria “traduzir os resultados dessas ações corajosas em paz na arena diplomática”.

Saeed Laylaz, analista em Teerã, afirmou que Khamenei está “entre duas escolhas muito difíceis”. O Irã poderia aceitar um acordo com os EUA para abandonar seu programa nuclear, “o que seria uma capitulação”, ou continuar lutando, “o que não é uma opção realista”.

“Desta vez, estamos em uma guerra que a Otan travou contra o Irã por meio de Israel para forçar a república islâmica a se render”, afirmou, ecoando a suspeita iraniana de que o ataque israelense é apoiado pelos EUA e potências europeias.

O Irã foi inicialmente surpreendido pela rapidez e ferocidade dos ataques israelenses, que envolveram cerca de 200 aviões e mataram ao menos 17 comandantes seniores da Guarda Revolucionária —a força mais poderosa do país e responsável por qualquer resposta a agressões externas.

Contudo, os veteranos da guerra Irã-Iraque se reagruparam em menos de 24 horas, lançando uma primeira onda de mísseis balísticos que não apenas enviou uma mensagem a Israel, mas também demonstrou aos iranianos que o Exército ainda está ativo.

Desde então, o Irã tem seguido com novos lançamentos de mísseis. Pelo menos um atingiu perto da sede da defesa israelense, no coração de Tel Aviv, e outro atingiu um complexo de refinarias em Haifa, danificando oleodutos e linhas de transmissão. Áreas residenciais também foram atingidas, e os ataques iranianos já mataram pelo menos 24 civis israelenses, segundo Israel.

“Entender o pensamento iraniano é importante —mesmo que apenas três mísseis atinjam o alvo, isso já é uma vitória”, disse Vakil, da Chatham House.

Até agora, o Irã evitou ampliar o conflito para além de Israel. Ainda não cumpriu ameaças de atacar bases militares dos EUA na região, interromper o tráfego no estreito de Ormuz —por onde passa quase um terço do petróleo transportado por mar no mundo— ou alvejar instalações energéticas de Estados vizinhos do Golfo.

Analistas afirmam que isso se deve, em parte, ao desejo de evitar envolver os EUA na guerra e, em parte, ao esforço de preservar relações melhoradas com rivais do Golfo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

“Eles gostariam de manter isso contido, e acho que o objetivo é resistir o máximo possível enquanto buscam saídas quando elas surgirem”, disse Vakil. “É preciso algum tipo de estagnação declarada, redução de tensões ou um acordo por canais alternativos para encontrar uma forma de recuar.”

Mas, por enquanto, isso está fora do controle do Irã.

“Ainda não chegamos lá, porque claramente Netanyahu tem objetivos maiores”, disse Vakil.



Fonte CNN BRASIL

Leia Mais

O regime do Irã luta pela sobrevivência - 19/06/2025 -

O regime do Irã luta pela sobrevivência – 19/06/2025 – Mundo

junho 19, 2025

175028096868532b0857554_1750280968_3x2_lg.jpg

EUA: Australiano foi deportado por ativismo pró-Palestina – 19/06/2025 – Mundo

junho 19, 2025

naom_612df2f8a2df1.webp.webp

Putin parabeniza Dilma Rousseff por gestão no banco dos BRICS e reeleição

junho 19, 2025

SP: Torcedores acompanham o Campeonato Feminino no Museu do Futebol

SP: Torcedores acompanham o Campeonato Feminino no Museu do Futebol

junho 19, 2025

Veja também

O regime do Irã luta pela sobrevivência - 19/06/2025 -

O regime do Irã luta pela sobrevivência – 19/06/2025 – Mundo

junho 19, 2025

175028096868532b0857554_1750280968_3x2_lg.jpg

EUA: Australiano foi deportado por ativismo pró-Palestina – 19/06/2025 – Mundo

junho 19, 2025

naom_612df2f8a2df1.webp.webp

Putin parabeniza Dilma Rousseff por gestão no banco dos BRICS e reeleição

junho 19, 2025

SP: Torcedores acompanham o Campeonato Feminino no Museu do Futebol

SP: Torcedores acompanham o Campeonato Feminino no Museu do Futebol

junho 19, 2025