O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, rejeitou o ultimato feito por Donald Trump, que exigia a rendição incondicional do país ante os ataques feitos por Israel desde a última sexta-feira (13).
O presidente americano, por sua vez, passou esta quarta (18) fazendo suspense sobre a adesão ou não à ofensiva aérea lançada pelo seu aliado Binyamin Netanyahu. Segundo relatou o jornal The Wall Street Journal, Trump já aprovou um plano de ataque, mas não havia dado o ok final.
Em seu primeiro discurso desde o início dos ataques, Khamenei afirmou que a eventual entrada dos EUA no conflito “será acompanhada, sem dúvidas, de dano irreparável”.
“Pessoas inteligentes que conhecem o Irã, a nação iraniana e sua história, nunca falarão com essa nação em linguagem ameaçadora porque a nação iraniana não irá se render”, disse, segundo o que foi lido na TV. A ausência física do líder na tela chamou a atenção, mas depois a imagem dele lendo o texto foi transmitida, presumivelmente gravada.
Questionado sobre a fala por repórteres, Trump desejou “boa sorte” para o adversário. Ele se recusou a dizer se vai ou não atacar o Irã e afirmou que os EUA foram procurados por Teerã, embora considere que seja “bem tarde para conversar”.
“Há uma grande diferença entre agora e há uma semana”, disse na Casa Branca, em referência àquele momento, em que havia uma rodada de conversas sobre o programa nuclear iraniano marcada para o domingo (15). “Ninguém sabe o que eu vou fazer”, afirmou.
Mais tarde, antes de uma reunião sobre o tema, disse que o Irã talvez ainda fale com os americanos, mas que ele não tinha decidido qual rumo tomar. Após o encontro, o jornal americano relatou a aprovação inicial do plano.
Já outra publicação, o The New York Times, informou que o Irã vai fazer em breve uma proposta oficial de retomada do diálogo sobre seu programa nuclear, cujo colapso em negociações foi a justificativa inicial de Israel para atacar —os aiatolás, que lideram um regime que prega a extinção do Estado judeu, estariam próximos de ter a bomba atômica.
Na terça (17), Trump havia dito que Khamenei era “um alvo fácil” e que os EUA sabiam onde ele “se escondia”. O americano então o ameaçou sem sutileza, dizendo que os EUA não iriam matá-lo “por enquanto”.
A expectativa é sobre o que Washington irá fazer. Israel já havia trocado ataques diretos com o Irã em duas rodadas no ano passado, mas os americanos agiram para desescalar a crise, até porque uma guerra que se tornasse regional não interessava a ninguém.
Mas o governo de Netanyahu, ante a debacle das conversas Irã-EUA, resolveu ir em frente sozinho, algo antes visto como impensável.
Não só mirou o programa atômico iraniano, tarefa que para ser finalizada precisa da mão americana, mas suas capacidades defensivas e lideranças militares. O próprio Khamenei virou um alvo prioritário, segundo o premiê e, de forma menos direta, segundo Trump.
Tudo pode ser só pressão dos EUA, de carona na ação israelense que apoiam de todo modo. Mas a perspectiva de uma guerra maior, ainda mais com Washington deslocando forças militares para o Oriente Médio, assusta outros atores.
Na Rússia, aliada do Irã que paradoxalmente se beneficia da falta de foco em sua própria guerra na Ucrânia e na subida do preço do petróleo que financia as forças de Vladimir Putin, a quarta foi de críticas.
O vice-chanceler Serguei Riabkov disse que qualquer ação americana desestabilizaria todo o Oriente Médio. Há miríades de grupos pequenos que podem ameaçar interesses dos EUA na região e além, para não fala na ameaça terrorista global. Moscou e Teerã têm um pacto estratégico que não prevê ajuda mútua em caso de agressões.
Riabkov disse que a Rússia continua disposta a mediar o conflito, servindo de depositária do urânio enriquecido em excesso pelos iranianos, por exemplo. Em conversa com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed al-Nahyan, Putin reiterou a necessidade de uma solução negociada.
Já na Turquia, que também vive sua contradição por ser adversária tanto de Teerã quanto de Tel Aviv, o presidente Recep Tayyip Erdogan voltou a dizer que o Irã tem direito a se defender. Por óbvio, ele não fará nada, até porque é aliado dos EUA na Otan, e sua fala deve ser lida como endereçada à sua base conservadora islâmica.
No sexto dia da guerra aérea entre Israel e o Irã, uma megaexplosão causou pânico entre moradores de Teerã e acelerou o início de um êxodo da capital iraniana.
A grande explosão e seu cogumelo de fumaça vieram da fábrica de mísseis balísticos de Khojir, nos arredores da capital. Eram aproximadamente 5h (22h30 da terça em Brasília), e o céu ficou iluminado.
Mais tarde, a agência estatal iraniana Irna afirmou que um míssil atingiu a sede da polícia nacional e deixou vários feridos. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, havia anunciado anteriormente a destruição do quartel-general da força de segurança do rival.
Novos relatos de mortes no Irã não tinham sido divulgados. Em Israel, a noite foi marcada por mais barragens de mísseis balísticos contra centros urbanos, mas as imagens e os números divulgados pelas forças de Tel Aviv sugerem que o arsenal iraniano está acabando ou sendo poupado.
Desde sexta, foram cerca de 400 mísseis lançados, fora centenas de drones mais baratos e ineficazes. Na noite de terça, segundo as forças de Israel, foram apenas cerca de 15 mísseis, sem causar grandes danos.
O mesmo vale para o Estado judeu: segundo autoridades americanas disseram ao Wall Street Journal, Israel já está na reserva de seus mísseis de interceptação de primeira camada, de alta altitude, o chamado sistema Flecha.