A relação entre os Estados Unidos e o Irã foi marcada ao longo dos anos por desconfiança e tensão, incluindo episódios de tomada de reféns e duras sanções, culminando neste sábado (21) com um bombardeio liderado pelo governo de Donald Trump.
As duas nações, porém, também passaram por períodos de aproximação diplomática e chegaram a ser aliadas após a Segunda Guerra Mundial. A situação azedou de vez com a fundação da República Islâmica em 1979, celebrada com a queima de bandeiras americanas e uma humilhante tomada de reféns na embaixada dos EUA em Teerã.
Devido ao episódio, Washington rompeu oficialmente as relações com o Irã em 1980 e impôs duras sanções ao regime de Teerã.
O gatilho principal da atual crise foi o programa nuclear iraniano. O Irã passou a acelerar o ritmo de enriquecimento de seu urânio, e especialistas alertam que o país poderia fabricar até seis bombas em pouco tempo. Trump declarou que não toleraria que o país persa tivesse armas nucleares e exigiu o fim total do programa.
O líder supremo iraniano, Ali Khamenei, ignorou as exigências. O impasse e um relatório da ONU que considerava o Irã em violação de compromissos de transparência deram a senha para Israel agir. Tel Aviv foi seguido por Washington, que atacou instalações nucleares.
Relembre, a seguir, os principais marcos da relação entre os dois países:
Aliados e golpe de Estado
Em 1957, as duas nações assinaram um acordo de cooperação como parte da iniciativa “Átomos para a Paz”, lançada pelo então presidente americano Dwight Eisenhower, que prometia facilitar o acesso a usos pacíficos da energia nuclear para países que renunciassem à bomba.
Teerã recebeu apoio direto de Washington. Os EUA, juntamente com Israel, foram dos maiores fornecedores de armas e tecnologia militar ao Irã pré-revolucionário. Em contrapartida, o xá fornecia petróleo para os dois países.
Por outro lado, o período foi marcado por uma repressão interna severa, por meio da Savak, a temível polícia secreta do xá. Ela perseguia, torturava e assassinava opositores do regime —justamente aiatolás e seus seguidores— alimentando o sentimento antiamericano e uma onda de nacionalismo.
A Revolução
A insatisfação generalizada com o autoritarismo do xá explodiu em 1979. Religiosos fundamentalistas liderados pelo então exilado aiatolá Ruhollah Khomeini tomaram o poder.
A revolução instaurou uma república teocrática. A tomada da embaixada americana em Teerã, prego no caixão do governo de Jimmy Carter, acabou de vez com as relações diplomáticas entre os ex-aliados.
O episódio ocorreu em novembro de 1979, quando um grupo de manifestantes manteve como reféns diplomatas e outros cidadãos americanos que estavam no edifício. O cerco ao local durou 444 dias.
Guerra Irã-Iraque
Durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), os EUA apoiaram o regime de Saddam Hussein contra o regime persa, aprofundando o antagonismo entre os dois países.
A política de expansão iraniana por meio de prepostos como o Hezbollah libanês floresceu, com choques como o atentado que matou 241 fuzileiros americanos em Beirute em 1984.
No final dos anos 1980, o Golfo Pérsico passava pela “Guerra dos Navios-Tanque”, em que navios americanos escoltavam petroleiros que circulavam pelo estreito de Hormuz após minas iranianas terem atingido embarcações na região. Os EUA estimam em 160 os navios atacados pelo regime.
Em 1988, um navio de guerra americano acertou, por engano, um avião comercial iraniano. O episódio matou as 290 pessoas a bordo. O Irā não comprou a explicação americana de que a derrubada fora um acidente. O episódio azedou ainda mais as relações entre os lados.
Escalada dos anos 1990 e ‘Eixo do Mal’
Após a primeira Guerra do Golfo (1991), os EUA buscaram conter a proliferação de armas de destruição em massa na região. Isso leva a um embargo total à venda de petróleo e gás pelos iranianos.
Teerã tinha um programa nuclear assistido pela ONU desde os anos 1950, mas nos anos 1980 a suspeita de que ele servia para disfarçar a busca pela bomba cresceu.
A tensão aumentou em 2002, quando o presidente George W. Bush colocou o país persa ao lado de Coreia do Norte e Iraque no chamado “eixo do mal”.
Acordo nuclear e pressão de Trump
Já sob a liderança de Barack Obama e Hasan Rowhani, Washington e Teerã assinaram, em 2013, um acordo nuclear. As negociações de 20 meses se deram junto aos outros membros do Conselho de Segurança da ONU e da Alemanha, e o documento seria aperfeiçoado dois anos depois, marcando a melhor relação entre os dois países desde a Revolução Islâmica.
Em 2018, Trump decidiu abandonar unilateralmente o acordo, pressionando Teerã a negociar sob a ameaça de ataques às instalações do programa.
Nos primeiros dias de 2020, um novo ápice de conflito se deu depois de os EUA matarem em um ataque de drone o principal comandante militar do Irã, o general Qassim Suleimani. Considerado um herói no país, ele era chefe da força de elite Quds, da Guarda Revolucionária.
Dias mais tarde, o Irã revidou, atacando com mísseis bases iraquianas que abrigam militares dos Estados Unidos, e anunciou que não limitaria mais o enriquecimento de urânio, sepultando o acordo nuclear.
Retomada
Pressionada, a teocracia decide acelerar a produção de material físsil, que é enriquecido em ultracentrífugas, A agência da ONU diz que as “linhas vermelhas” estão rompidas e que a bomba está à mão do Irã em questão de meses.
O regime, porém, deu sinais de instabilidade. Em outubro de 2022, uma onda de atos tomou as ruas do Irã em protesto contra a morte de Mahsa Amini, 22, que estava sob custódia da polícia moral do país por supostamente não usar o hijab da forma correta.
Depois, a guerra disparada pelo aliado Hamas contra Israel levou à destruição de boa parte da defesa primária de Teerã, na forma de grupos como o terrorista palestino ou o Hezbollah libanês. E, no fim de 2024, o presidente radical Ebrahim Raisi morreu em 2024 em uma estranha queda de helicóptero.