Rússia recruta adolescentes ucranianos como espiões – 01/07/2025 – Mundo

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Ele se misturava facilmente, mais um adolescente rolando a tela do celular em um ônibus. Mas em seu bolso, segundo o serviço de segurança da Ucrânia, estavam coordenadas e fotografias de alvos militares sensíveis destinados à inteligência russa.

O ucraniano de 16 anos, cujo nome não foi divulgado por ser menor de idade, foi preso e acusado de espionagem para a Rússia, informou o serviço de segurança ucraniano (SBU) no início desta semana.

Autoridades ucranianas disseram que ele foi recrutado pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) através do aplicativo de mensagens Telegram, no qual agentes russos têm cada vez mais visado usuários jovens com ofertas de dinheiro rápido em troca de sua colaboração.

O adolescente foi instruído a tirar fotos de posições de tropas ucranianas e enviar dados de localização por canais criptografados. Mas o SBU estava rastreando-o, disseram as autoridades, e quando ele levantou seu telefone perto de um local militar na cidade de Dnipro, no sul da Ucrânia, foi preso no local.

Investigadores acreditam que as informações coletadas poderiam ter sido usadas para orientar ataques de mísseis ou drones russos como os milhares que devastaram cidades e infraestrutura crítica em toda a Ucrânia nos últimos meses. Na terça-feira (24), mísseis balísticos russos atingiram alvos em Dnipro, matando 20 pessoas e ferindo mais de 170 outras, segundo autoridades regionais.

O adolescente agora enfrenta acusações de alta traição e uma possível sentença de prisão perpétua.

Autoridades ucranianas alertam que o caso não é isolado, mas parte dos esforços da Rússia para desestabilizar o país internamente, recrutando agentes jovens e vulneráveis, transformando a curiosidade adolescente em uma ferramenta de espionagem e sabotagem.

Além do front tradicional de guerra, altos funcionários em Kiev disseram ao Financial Times que estão vendo o aliciamento sistemático de adolescentes e jovens adultos, incluindo órfãos e deslocados pelos combates, com dificuldades financeiras ou simplesmente ansiosos para conseguir dinheiro suficiente para comprar um novo iPhone.

“O inimigo é agressivo, cometendo vários crimes contra a segurança nacional, incluindo o recrutamento de agentes entre nossos próprios cidadãos”, disse o chefe do SBU, tenente-general Vasil Maliuk. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia não respondeu a um pedido de comentário.

O porta-voz do SBU, Artem Dekhtiarenko, disse ao FT que, desde o início do ano passado, a agência prendeu mais de 700 pessoas implicadas em espionagem, incêndios criminosos e planos de bombas orquestrados remotamente por agentes de inteligência russos. Desses, cerca de 175 — ou aproximadamente 25% — tinham menos de 18 anos.

A maioria dos recrutas realizou suas missões conscientemente, mas alguns o fizeram sem saber após serem enganados, disse o porta-voz do SBU.

“Pessoas menores de idade não conseguem prever as consequências de suas ações”, tornando-as especialmente vulneráveis ao recrutamento russo, disse Dekhtiarenko.

As consequências têm sido graves e até mesmo letais. A campanha da Rússia “começou no ano passado com tarefas de queimar carros [e] centrais elétricas ao longo da ferrovia”, disse ele. Então eles “atualizaram sua estratégia e começaram a queimar centros de recrutamento militar”. No início deste ano, disse ele, “eles mudaram para usar ucranianos como homens-bomba”.

O problema cresceu a tal ponto que as autoridades ucranianas lançaram uma campanha nacional de conscientização: avisos são enviados em mensagens de texto em massa; espalhados em outdoors ao longo das rodovias; e exibidos repetidamente em trens de passageiros. Um vídeo voltado para adolescentes para aumentar a conscientização sobre o assunto ensina-lhes “como não cair em uma armadilha e ficar um passo à frente” do FSB.

Agentes do SBU também foram convidados para escolas para ensinar as crianças a identificar os esforços russos de aliciamento. O slogan da campanha visa inverter o roteiro contra Moscou: “Não queime os seus! Queime o inimigo!”

Até o final de maio, cerca de 50 menores ucranianos haviam relatado tentativas de suborno em aplicativos de mensagens, segundo a polícia juvenil da Ucrânia, que está envolvida na campanha de conscientização.

Os canais de recrutamento seguem um padrão semelhante: um usuário anônimo entra em contato com jovens pelo Telegram, Discord, WhatsApp ou Viber com ofertas atraentes de dinheiro rápido e fácil.

Uma vez estabelecido o contato, os manipuladores russos fornecem coordenadas e instruções, que vão desde fotografar objetos militares ou sistemas de defesa aérea até plantar dispositivos explosivos ou realizar ataques incendiários contra infraestrutura energética e escritórios de recrutamento. Os pagamentos prometidos variam entre US$ 100 (cerca de R$ 550) e US$ 1.000 (aproximadamente R$ 5.500).

Se há uma década havia alguns ucranianos simpáticos às ações militares da Rússia, quase não resta ninguém que apoie o “Russkiy mir” —o mundo russo— disse Dekhtiarenko. “Então [as agências de inteligência da Rússia] mudaram sua abordagem para oferecer dinheiro às pessoas.”

Na quarta-feira (25), o SBU e a polícia nacional prenderam uma mulher de 19 anos na cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, que supostamente realizou um bombardeio sob instruções de agentes russos.

Após ser abordada em um canal de anúncios de emprego no Telegram, as autoridades disseram que ela recebeu instruções sobre como fazer um dispositivo explosivo improvisado. Em seguida, ela plantou a bomba dentro de um patinete elétrico que foi doado ao Exército ucraniano, disse o SBU. A explosão resultante matou um soldado e feriu outro.

Em outro caso, em março, dois meninos de 15 e 17 anos foram recrutados para realizar um bombardeio em uma estação ferroviária na cidade ocidental de Ivano-Frankivsk. O explosivo escondido dentro de uma bolsa que um dos meninos carregava detonou prematuramente, supostamente acionado remotamente por seus manipuladores russos, essencialmente transformando-os em homens-bomba involuntários. Um menino foi morto, o outro ferido, junto com dois pedestres.

Às vezes, espiões russos recrutam ucranianos sob o disfarce de “missões” —jogos semelhantes a caças ao tesouro que são populares entre adolescentes.

Dois amigos de 15 e 16 anos foram interceptados em dezembro em Kharkiv enquanto supostamente realizavam vigilância em posições de defesa aérea e coordenavam alvos para ataques aéreos e incêndios criminosos. Eles acreditavam estar jogando um jogo que prometia uma recompensa financeira aos vencedores, segundo o SBU.

“Sob as regras do jogo de missões, as crianças receberam geolocalizações do FSB”, disse. “A tarefa deles era chegar a um local específico, tirar fotos e vídeos de locais designados e fornecer uma breve descrição da área.”

Os adolescentes enviaram as informações coletadas para um manipulador do FSB pelo Telegram e, segundo o SBU, “os russos usaram essas informações para realizar ataques aéreos em Kharkiv“.

Em junho, o SBU alertou sobre uma nova tática de recrutamento: agentes russos se passando por autoridades ucranianas para enganar ou pressionar crianças a realizar atos de sabotagem ou intrusão cibernética em nome de seu país.

Muitas das crianças acusadas dos crimes foram indiciadas e julgadas como adultos, levantando preocupações entre alguns defensores dos direitos humanos e especialistas jurídicos. Sob a lei marcial da Ucrânia, pessoas acusadas de sabotagem, terrorismo, colaboração e alta traição enfrentam longas sentenças, potencialmente incluindo prisão perpétua.

Iulia Gorbunova, pesquisadora sênior da Ucrânia na Human Rights Watch, disse que proteções especiais para crianças existem durante tempos de paz e durante a guerra, inclusive em casos em que são percebidas como ameaças à segurança e suspeitas de cometer crimes contra a segurança nacional.

“Quando crianças são suspeitas de atos ilegais, as autoridades são obrigadas a tratá-las de acordo com os padrões internacionais de justiça juvenil, priorizando a reabilitação e a reintegração”, disse ela.

“A detenção ou prisão de crianças deve ser usada apenas como último recurso e elas devem ter assistência jurídica desde o momento em que seu status de menor é confirmado.”

Autoridades ucranianas insistem que o devido processo está sendo observado e que suspeitos juvenis estão recebendo consideração especial. Dekhtiarenko disse que os menores acusados em casos de traição têm direito a representação legal. Nenhum de seus casos foi a julgamento ainda, mas alguns poderiam ser julgados este ano.

O governo também está sob pressão para demonstrar uma resposta firme à crescente ameaça de colaboradores, mesmo que sejam menores de idade. “Para nós, eles são traidores do Estado”, disse Malyuk, o chefe do SBU.



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