Mesmo após trocar Nova York pela Flórida, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem acompanhado de perto a eleição municipal nova-iorquina e cogitado intervir na disputa para impedir a vitória de Zohran Mamdani, nomeado democrata e favorito da ala mais à esquerda do partido. A informação foi publicada nesta terça (6) pelo jornal The New York Times (NYT), com base em relatos de oito fontes próximas às conversas.
Segundo o jornal, Trump consultou políticos e empresários sobre qual dos nomes em campanha teria melhores condições de enfrentar Mamdani. Entre os cotados estão o atual prefeito da cidade, Eric Adams, o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa.
O presidente foi aconselhado por Mark Penn, ex-estrategista dos Clinton, e por Andrew Stein, ex-presidente do Conselho Municipal de Nova York e amigo de longa data de Trump. Ambos defendem que Cuomo poderia ser competitivo mesmo fora do Partido Democrata, com base em dados de pesquisas internas — uma delas, segundo o jornal, feita por uma empresa ligada a Penn, que trabalhou para um comitê de apoio financeiro à campanha pró-Cuomo durante as eleições primárias.
De acordo com três fontes ouvidas pelo NYT, Trump e Cuomo chegaram a conversar diretamente por telefone nas últimas semanas, num diálogo que até então não havia sido revelado. O conteúdo da conversa e quem a iniciou não foram esclarecidos.
Durante a pandemia de Covid-19, Trump e Cuomo protagonizaram embates públicos frequentes. Enquanto governador de Nova York, Cuomo criticou a resposta federal à crise sanitária, acusando o então presidente de negligência e falta de coordenação. Trump, por sua vez, acusava Cuomo de má gestão local e chegou a ameaçar cortar recursos do estado. Apesar das acusações, ambos mantiveram contato direto em alguns momentos críticos, em meio a negociações sobre equipamentos médicos e medidas emergenciais.
Ainda segundo o jornal, o possível envolvimento de Trump tem sido incentivado por aliados de Adams e Cuomo, que desejam evitar uma fragmentação dos votos anti-Mamdani. Parte deles defende que Trump poderia pressionar por uma retirada estratégica de algum dos adversários para consolidar a oposição ao socialista, que defende medidas como congelamento de aluguéis e aumento de impostos para os mais ricos.
O bilionário John Catsimatidis, republicano próximo de Trump, confirmou ao NYT que aconselhou o ex-presidente a não agir com pressa. “A única coisa que disse ao presidente foi: ‘te vejo em setembro’. Em outras palavras, que deixe as coisas se resolverem sozinhas.”
Apesar das discussões, não está claro se Trump vai de fato se envolver diretamente. Fontes próximas à Casa Branca indicaram que o ex-presidente pode optar por se manter à margem da disputa. Ainda assim, ele tem buscado informações para embasar uma possível decisão.
Em julho, Trump recebeu no Salão Oval o deputado republicano Mike Lawler, representante dos subúrbios de Nova York. Na reunião, quis saber quem teria mais força contra Mamdani em um eventual segundo turno. Segundo o NYT, Trump demonstrou ceticismo em relação a Sliwa, elogiou Adams e disse manter boa relação com Cuomo.
Poucos dias antes, ele também havia se reunido com Stein e Penn, que apresentaram pesquisas internas reforçando a viabilidade de Cuomo. Embora não tenha se comprometido, Trump afirmou, segundo uma das fontes, que o ex-governador administraria melhor a cidade, mas que quem vencesse teria que dialogar com o governo federal.
Consultados pelo jornal, Stein e Penn preferiram não comentar. Já o porta-voz de Cuomo, Rich Azzopardi, disse que os dois “não se falam há algum tempo” e que, até onde sabe, a eleição municipal não foi discutida.
O NYT afirma que, nos bastidores republicanos, Mamdani já é visto como um símbolo útil da esquerda radical, que poderá ser explorado como antagonista nas eleições de meio de mandato de 2026. Assessores de Trump teriam defendido esse argumento após a derrota de Cuomo nas primárias —o ex-governador renunciou ao cargo em 2021, em meio a acusações de assédio sexual, que ele nega.
Embora Trump tenha tradição de influenciar primárias republicanas, sua capacidade de moldar uma disputa majoritariamente democrata como a de Nova York ainda é incerta. Ferramentas que costuma usar, como mobilização da imprensa aliada, podem ter menos efeito em uma eleição local, apesar do crescimento de sua votação na cidade em 2024.