Bolívia: Sul pode se consolidar como enclave anti-Evo – 12/08/2025 – Mundo

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“Não dá mais, precisamos de uma mudança”, comenta o taxista Martín Vargas, 52, enquanto dirige por uma ladeira de Tarija, no sul da Bolívia. “Nenhum candidato tem uma personalidade muito cativante, mas vou votar em quem aparece melhor nas pesquisas, para não corrermos o risco de o grupo do [ex-presidente] Evo Morales ficar no poder.”

A cidade que é capital do departamento de mesmo nome pode ser um termômetro da guinada à direita que os bolivianos estão sinalizando para as eleições presidenciais, marcadas para o próximo domingo (17), após duas décadas de vitórias do MAS (Movimento ao Socialismo), antigo partido de Evo.

O país, que é rico em recursos minerais, enfrenta uma crise econômica severa, caracterizada pela escassez de dólares, combustíveis e alimentos, além de uma inflação acumulada de cerca de 25%, a mais alta desde 2008. A insatisfação com o governo do presidente Luis Arce, que não buscará reeleição, é palpável.

A fratura na esquerda, após o rompimento entre Evo e Arce, prejudicou a popularidade do MAS e intensificou a crise econômica, levando a episódios de violência e bloqueios de estradas. A esquerda chega enfraquecida às urnas e se prepara para o que pode ser a sua maior derrota desde que assumiu o poder em 2006. Embora Evo tenha tentado se candidatar, a Justiça o impediu, e agora ele está promovendo o voto nulo.

“Arce não tinha a menor chance. Pode ser que a esquerda se saia melhor em Cochabamba e La Paz, que são lugares onde eles são mais fortes, mas a vontade de mudança é grande”, reforça o agente de turismo Julián Guines, 33, enquanto se prepara para organizar uma visita de turistas argentinos ao vale dos vinhos, símbolo de Tarija.

A cidade está enfeitada para a procissão de São Roque, nesta quarta-feira (13), e as marcas da campanha eleitoral são pontuais. Instalado em um prédio em frente à estátua do libertador Antonio José de Sucre, o comitê de campanha presidencial do multimilionário Samuel Doria Medina (Aliança Unidade) acaba se destacando.

Uma semana antes das eleições deste ano, a pesquisa Ipsos-Ciemori, feita para o canal de TV Unitel e dividida por departamentos, mostrava que era justamente em Tarija que Doria Medina obtinha sua maior intenção de votos, 37,5%; seguido pelo ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga (18,9%) e o esquerdista Andrónico Rodríguez (5,6%), antes tido como herdeiro político de Evo, até os dois se afastarem. Na mesma pesquisa, a nível nacional, Doria Medina aparecia com uma intenção de voto de 21,2%, enquanto Quiroga detinha 20%.

A região já dava sinais de que se tornaria um novo bastião da oposição nas últimas eleições presidenciais, quando Arce saiu vitorioso, em 2020. O MAS (Movimento ao Socialismo) recebeu 55% dos votos a nível nacional, mas Tarija foi um dos poucos departamentos em que o agrupamento de esquerda perdeu, aliando-se a Santa Cruz, tradicional enclave de oposição a Evo.

Os tarijeños deram 50,24% (10 pontos percentuais a mais) ao grupo político Comunidad Ciudadana (CC), do ex-presidente Carlos Mesa, ante 41% para a chapa de Arce. No departamento de Beni, que faz fronteira com o Brasil, o MAS também ficou numericamente em segundo lugar, mas praticamente empatados com a CC.

Em outubro de 2024, foi uma promotora de Tarija quem emitiu um mandado de prisão contra Evo, por supostamente ter abusado sexualmente de uma adolescente, o que ele nega.

O departamento, que tem o terceiro maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, é uma síntese da situação atual da Bolívia, depende da exportação de gás natural, sobretudo para o Brasil.

Nos últimos anos, no entanto, a região viu um crescimento da venda de soja e subprodutos e também se consolida como destino turístico, apresentando-se como a capital vinícola da Bolívia. O produto ganha mercado no exterior, o que fez crescer o número de negócios e profissionais liberais —o comércio já emprega mais que o setor de mineração e energia.

Em 2023, o número de visitantes internacionais atingiu 147,5 mil e o de visitantes nacionais, 173,3 mil, segundo o INE (Instituto Nacional de Estatísticas).

A Bolívia depende das exportações de gás, mas a produção tem caído desde antes da pandemia. A crise sanitária representou um outro golpe para a economia, e o país viu suas reservas internacionais diminuírem e o dólar disparar.

Tanto Medina quanto Quiroga prometem mudar o modelo econômico estatal, privatizar empresas e abrir a exploração de recursos naturais para estrangeiros, usando os governos de Venezuela e Cuba como fantasmas contra a esquerda.

Quase oito milhões de bolivianos estão registrados como eleitores, e o voto é obrigatório no país de 12 milhões de pessoas. A campanha termina na quarta (13) após um último debate dos candidatos na noite desta terça (12).

“Vou votar nulo, mas com tristeza. Na direita, temos candidatos que serviram a ditadores ou que se aliaram a corruptos, mas, infelizmente, o atual presidente e os candidatos de esquerda são políticos sem imaginação. Evo é inteligente, mas cometeu erros”, lamenta o aposentado Alberto Vallencia, 72, enquanto descansa na praça principal de Tarija. “Precisamos de um salto criativo que nos faça depender menos do gás e reative a nossa economia”, diz.



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