Casal no Brasil espelha Coreia após libertação do Japão – 14/08/2025 – Mundo

Casal no Brasil espelha Coreia após libertação do Japão -


No romance “Pachinko”, que conta a história de coreanos durante o regime colonial japonês, a cevada é um alimento que aparece com frequência nas descrições da autora Min Jin Lee. Com a produção local de arroz quase toda desviada para o Japão, o grão menos nobre servia de substituto em um país pobre e explorado.

Nos 80 anos da libertação da Coreia do domínio nipônico, comemorados nesta sexta-feira (15), as memórias do período voltam à tona, como a do cenário social precário que obviamente não mudou logo que os Aliados derrotaram o Japão na Segunda Guerra Mundial e a nação asiática deixou de ser uma colônia de Tóquio.

Bang Soo Kim, 80, e Young Ok Kim, 79, espelham parte da trajetória da Coreia após a liberação. Viveram na infância os impactos de anos de regime colonial e acompanharam a reconstrução do país como migrantes.

Assim como em “Pachinko”, Bang e Young comiam muita cevada e, contam, mal sabiam como era o gosto de arroz. Num cenário de pobreza provocado, entre outros motivos, pelo confisco das terras dos coreanos, a refeição básica era sopa “de manhã, à tarde e à noite”. “O país estava moralmente triste e pobre”, diz Bang.

Han Soo, diretor do Museu Nacional de História Contemporânea Coreana, corrobora a descrição e aponta que, “logo depois da libertação, a Coreia era uma das nações mais pobres do mundo”. “Como a parte sul do país não tinha fábricas para desenvolver a indústria, por muito tempo o Sul foi mais pobre que o Norte.”

Milho e batata também substituíam o arroz, e ainda assim não havia comida suficiente, um contraste com a Seul atual, onde é comum ver em restaurantes sobras fartas após as refeições. “Por isso hoje sempre como arroz. Arroz branco”, afirma Young. “Não importa se a saúde vai estragar. Agora que tenho, eu vou comer.”

Não bastassem as consequências do domínio japonês, o país ainda enfrentou a Guerra da Coreia, de 1950 a 1953, uma marca que perdura até hoje. Foi só na década de 1960 que a situação passou a exibir sinais de melhora, com investimentos pesados na indústria e na educação, além da normalização das relações com o Japão mediante o pagamento de uma controversa indenização de US$ 500 milhões à Coreia do Sul.

Nesse ambiente, Bang, aos 17, conheceu engenheiros alemães que atuavam na construção de uma fábrica de fertilizantes na cidade de Naju. Com o pouco de alemão que aprendeu no colégio, fez contatos e soube que era possível obter uma bolsa para estudar na Alemanha Ocidental. Foi para Hannover, onde por dois anos recebeu aulas de alemão técnico para conseguir cursar engenharia numa universidade em Augsburg.

Young também iria para Augsburg. A Alemanha Ocidental precisava de mineiros e enfermeiras como ela, e a Coreia do Sul, de moeda estrangeira. Em 1977, já haviam ido para o país europeu 7.936 mineiros e 10.723 enfermeiras, que mandaram para casa US$ 153 milhões. “O que o país tinha de garantia eram as pessoas”, afirma ela, que enviava quase tudo o que recebia na Europa para a família em sua cidade-natal, Uiryeong.

A língua coreana, proibida pelo Japão durante o regime colonial, acabou os unindo. Conheceram-se em um restaurante, e Bang, ao saber que Young e as amigas não falavam alemão, ofereceu aulas grátis. “Ele nunca foi professor, né? Mas era caprichoso, tinha a letra bonita e se preparava para ensinar”, afirma Young. “Mas não durou muito tempo, ele ficou um pouco preguiçoso. Também, não ganhava nem mesmo um tostão!”

Ela conta que não estava procurando um marido na Alemanha, que já tinha um namorado na Coreia e que a intenção era retornar ao país. Mas “as coisas acontecem sempre sem querer”. Logo começou o namoro, e Bang, com o visto perto de vencer, recebeu um convite para trabalhar na construção da fábrica da Siemens em Curitiba. Voltar à Coreia, afirma ele, estava fora do radar, devido à obrigatoriedade do serviço militar.

Assim, depois de ele passar nove anos na Alemanha, e ela, três, mudaram-se para o Brasil, onde já vivem há 50 anos. No país, tiveram dois filhos, Lillian, 47, e Cristian, 49, cônsul honorário da Coreia do Sul no Paraná.

Desde então, viajaram à Coreia do Sul cinco vezes, e a primeira, em 1985, foi um choque, pois encontraram um lugar muito diferente. Agora era um país que avançava no setor de tecnologia, “de restaurantes lotados e cheio de festas”. “Comecei a sentir uma tristeza. Antes, não se pensava em dinheiro, todo mundo era pobre junto. A população estava mais egoísta, fiquei decepcionada”, diz Young. Na mesma toada, o marido afirma ter sentido uma angústia ao perceber que a sociedade estava “muito materialista, muito dinheirista”.

Em 80 anos, a Coreia do Sul sofreu uma transformação. Depois do fim do regime colonial e da Guerra da Coreia, passou por ditaduras e conflitos internos até chegar a uma democracia pujante. Na economia, o PIB per capita foi de US$ 158 em 1960 para US$ 33.121 em 2023, com destaque na área de semicondutores e companhias de renome como Samsung e Hyundai. Na cultura, o país possui grande projeção com artistas e produções da hallyu, a onda sul-coreana na música, no cinema, no streaming, na moda e na gastronomia.

Do passado colonial, Bang e Young admitem ainda haver questões em relação ao Japão, já que o povo “não esquece facilmente o que aconteceu, mesmo tantos anos depois”. Esse sentimento, porém, não se aplica à grande comunidade nipônica que vive no Paraná. “Os japoneses vieram para o Brasil antes da gente, muitos deles são da terceira geração, viraram brasileiros. É diferente”, diz Young. “Tiveram a educação no Brasil, e o brasileiro é muito educado, né? Não tem sentimento ruim, nem um pouco. A gente virou brasileiro também.”



Fonte CNN BRASIL

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