Trump flerta com Rússia para focar competição com a China – 15/08/2025 – Igor Patrick

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O encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin em Anchorage não foi apenas uma tentativa de destravar negociações sobre a Ucrânia. A escolha do Alasca, território que serviu de posto avançado na vigilância da União Soviética durante a Guerra Fria, indicou algo mais profundo.

Ao receber o líder russo em um cenário carregado de simbolismo, Washington sinalizou disposição para redefinir prioridades estratégicas e possivelmente rebaixar o peso da segurança europeia em sua agenda.

Nos cálculos de Trump, encerrar a guerra significa mais do que atender a um imperativo humanitário. Na leitura predominante em sua equipe, o prolongamento do conflito favorece Pequim, que se beneficia de um Ocidente distraído e dividido.

Cortar esse ganho estratégico chinês é visto como pré-condição para concentrar recursos militares, diplomáticos e econômicos na frente que realmente importa: a competição com a China, que se estende do comércio aos semicondutores, do mar do Sul da China à questão de Taiwan.

Essa visão não é inédita. O “pivô para a Ásia” já foi ensaiado no governo Obama, mas crises como a anexação da Crimeia em 2014 mantiveram os EUA presos ao velho continente. Agora, a diferença está no método.

Trump flerta com concessões à Rússia, inclusive sobre o status da Ucrânia, para tornar Moscou um ator previsível e, no melhor cenário, um parceiro circunstancial contra Pequim. É uma adaptação invertida da diplomacia triangular de Nixon e Kissinger, que explorou a rivalidade sino-soviética para conter a União Soviética.

O desafio é que Rússia e China, apesar das assimetrias e desconfianças, cultivam uma parceria robusta movida por interesses convergentes em limitar a influência americana.

Moscou depende economicamente de Pequim e vê utilidade na guerra para desgastar o Ocidente. Ainda assim, há fissuras, da competição na Ásia Central ao receio chinês de uma vitória russa que reduza sua influência sobre o Kremlin. É nesse espaço estreito que Trump aposta encontrar margem para manobra.

Na Europa, o movimento é visto com inquietação. Para países do Leste, que encaram a Rússia como ameaça existencial, qualquer acordo sem Kiev representa abandono estratégico. Uma “cúpula de rendição” minaria a credibilidade da Otan e incentivaria novos revisionismos territoriais.

A promessa europeia de aumentar gastos militares a 5% do PIB busca manter os EUA engajados, mas não resolve o dilema central: se a prioridade de Washington for a China, a defesa do continente dependerá mais da própria Europa.

Trump aposta que a história registrará sua frieza estratégica. Um cessar-fogo, mesmo imperfeito, liberaria navios, tropas e diplomatas para o Indo-Pacífico. Ali, a disputa com Pequim é total, abrangendo tecnologia, rotas marítimas e influência sobre o chamado Sul Global (o grupo de países emergentes ou em desenvolvimento).

O objetivo é conter a ascensão chinesa antes que ela se traduza em hegemonia regional e, mais tarde, global. O risco é que a redução do compromisso europeu crie uma frente de instabilidade capaz de corroer o próprio pivô para a Ásia.

Anchorage pode inaugurar uma era em que os EUA aceitam dividir responsabilidades na Europa para enfrentar um adversário mais persistente e ambicioso. Mas também pode ser lembrada como o momento em que, ao tentar fechar uma ameaça, Washington abriu outra. No xadrez das grandes potências, nem sempre a peça sacrificada garante a vitória. Às vezes, ela antecipa o xeque-mate.


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