Donald Trump disse a Volodimir Zelenski em uma ligação na quarta-feira (13) que pressionaria Vladimir Putin sobre a Guerra da Ucrânia.
No sábado, porém, depois de estender o tapete vermelho para o russo em uma cúpula no Alasca, o presidente dos EUA parecia, em vez disso, ter se alinhado a Putin, ecoando a posição e a retórica do Kremlin.
A mudança provocou uma resposta dura de autoridades ucranianas, soldados e sociedade civil, que reagiram com frustração e acusaram Trump de minar seus esforços para levar a guerra da Rússia a um fim justo.
Em uma postagem na rede Truth Social, Trump disse que queria “ir diretamente a um acordo de paz, que acabaria com a guerra, e não um mero acordo de cessar-fogo, que muitas vezes não se mantêm”.
Ele também sugeriu que os EUA não cumpririam as ameaças de novas sanções contra a Rússia, sinalizando um afastamento dos esforços para restringir a estratégia de guerra de Moscou.
Nas últimas semanas, o republicano havia expressado publicamente grande frustração com Putin por sua intransigência e bombardeio implacável de civis. Sua mudança de tom causou alarme e um sentimento de traição em Kiev neste sábado (16), que se aprofundou à medida que os detalhes da reunião emergiram.
Putin exigiu que a Ucrânia se retirasse das regiões de Donetsk e Lugansk como condição para encerrar a guerra, mas afirmou a Trump que poderia congelar o restante da linha de frente se suas principais demandas fossem atendidas, disseram ao Financial Times quatro pessoas familiarizadas com o assunto.
“Isso é uma punhalada nas costas”, afirmou ao FT um alto funcionário ucraniano, descrevendo a mudança de Trump. “Ele só quer um acordo rápido”, disse outro alto funcionário ucraniano.
Oleksandr Merejiko, presidente do comitê de relações exteriores do Parlamento ucraniano, resumiu o resultado da cúpula Trump-Putin para seu país em uma palavra: “terrível”.
“Parece que Trump se alinhou com Putin e ambos podem estar começando a nos forçar a aceitar um tratado de paz, o que significa na realidade a capitulação da Ucrânia”, disse.
“A ideia geral da cúpula, como nos foi explicada por Trump e Rubio [chefe da diplomacia americana], era apresentar a Putin uma exigência de cessar-fogo imediato. E se ele rejeitasse essa proposta, haveria graves consequências para ele”, disse Merejiko. “Putin rejeitou isso ao oferecer, em vez disso, um cessar-fogo como tratado de paz, e não vemos de Trump nenhuma reação, muito menos consequências graves.”
Zelenski foi convidado por Trump a retornar a Washington para conversas no Salão Oval na segunda-feira —o mesmo cenário onde, seis meses atrás, ele foi emboscado pelo presidente dos EUA e seu vice-presidente, J. D. Vance, devido à relutância de Kiev em se comprometer com um acordo de paz mediado pelos EUA em termos que eram favoráveis a Moscou na época.
Autoridades ucranianas disseram que Zelenski não concordaria em entregar Donetsk e Lugansk —uma linha vermelha de longa data de Kiev—, mas que estaria aberto a discutir a questão do território com Trump na segunda-feira e em uma futura reunião trilateral com Trump e Putin, encontro que o Kremlin rejeita.
Qualquer entrega de território levantaria preocupações na Ucrânia sobre sua soberania. Além disso, Kiev teme que abrir mão de sua fortificada cadeia de cidades na parcela de Donetsk ainda controlada pela Ucrânia equivaleria a oferecer à Rússia um trampolim para futuras ofensivas.
Ivanna Klimpush-Tsintsadze, uma parlamentar ucraniana e ex-vice-primeira-ministra, ponderou como “alimentar as ambições e objetivos [de Putin]” poderia trazer a guerra ao fim e dissuadir o presidente russo de reagrupar e lançar novas invasões mais tarde. “Como isso vai garantir que nenhum novo ataque seja desencadeado?”, questionou.
A perspectiva de ceder vastas áreas povoadas de território que o exército russo nunca conseguiu controlar desencadearia “muita tensão na sociedade”, segundo Olga Aivazovska, chefe do conselho da Opora, uma organização de vigilância da sociedade civil ucraniana. “Isso também colocará em dúvida o motivo pelo qual estamos nos defendendo todos esses anos”, disse ela.
Roksolana Pidlasa, uma parlamentar do partido governista de Zelenski, afirmou que Putin exigiu Donetsk e Lugansk “precisamente porque é inaceitável para a Ucrânia”. “Seu objetivo não é a paz”, disse ela. “É levantar as sanções e prender a Ucrânia em um limbo de desenvolvimento.”
“Esta cúpula foi um grande erro, e uma grande vitória para Putin”, disse Alexander Khara, analista do think-tank Centro de Estratégias de Defesa, com sede em Kiev, e ex-diplomata ucraniano.
Se as negociações falharem, Trump poderia culpar diretamente Zelenski, alertou ele. “Desde 2014, os russos consideram qualquer governo ucraniano ilegítimo, então eles não considerarão Zelenski um interlocutor capaz, especialmente quando têm recursos e acreditam que podem alcançar seus objetivos por meios militares”, afirmou.
As conversas se desenrolaram enquanto um exército ucraniano sobrecarregado luta para repelir a ofensiva de verão da Rússia.
No último fim de semana, o exército russo fez um avanço de 10 quilômetros perto da cidade mineira de Dobropillia, mas foi interrompido nesta semana, segundo o Estado-maior da Ucrânia e o presidente. Unidades experientes em combate foram enviadas às pressas para essa parte da linha de frente para evitar que o avanço se transformasse em uma ruptura.
O presidente da Ucrânia elogiou os “sucessos em algumas áreas extremamente difíceis da região de Donetsk”, mas disse que a Rússia pressionaria sua ofensiva nos próximos dias “a fim de criar circunstâncias políticas mais favoráveis para conversas com atores globais”.
Perto de Pokrovsk, uma cidade estratégica e centro logístico que o exército russo está agora perto de cercar por completo, o comandante de uma pequena unidade de drones de ataque disse que qualquer pausa nos combates era improvável.
“A realidade é que negociações são negociações, enquanto isso os combates continuam. Se não lidarmos com isso, nenhuma negociação nos salvará”, escreveu Oleksandr Solonko no Telegram.
Na capital ucraniana, a semana de frenéticas trocas diplomáticas que culminaram na reunião do Alasca teve um efeito tangível: um silêncio sinistro, já que os drones suicídas russos pararam de atingir Kiev enquanto os preparativos para a cúpula no Alasca estavam em andamento —mesmo enquanto continuavam atingindo cidades mais próximas da linha de frente.
Mas um alarme de ataque aéreo soou brevemente em Kiev na tarde de sábado, desencadeando nova ansiedade de que drones russos carregados com explosivos, bem como mísseis balísticos, logo estariam voando novamente em direção à capital.