Os deputados do Texas aprovaram nesta quarta-feira (20) uma proposta para redesenhar os distritos eleitorais do estado. A iniciativa, apoiada pelo presidente Donald Trump, pode garantir ao Partido Republicano cinco novas cadeiras na Câmara dos Representantes dos EUA nas eleições de meio de mandato do ano que vem.
A conquista republicana se deu após dezenas de parlamentares democratas encerrarem uma greve de duas semanas que havia bloqueado a tramitação da proposta.
Os legisladores republicanos, que dominam a política do Texas há mais de duas décadas, defenderam a reorganização distrital —que, no geral, ocorre mais comumente nas trocas de décadas— para ajudar Trump a aumentar as chances de seu partido de preservar a estreita maioria na Câmara.
Os deputados aprovaram o novo mapa com 88 votos a favor e 52 contrários, seguindo as linhas partidárias.
A proposta desencadeou uma guerra nacional por reorganização distrital, com governadores de ambos os partidos ameaçando iniciar esforços semelhantes em outros estados.
O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, por exemplo, está promovendo um esforço para redesenhar o mapa de seu estado e, assim, conquistar cinco cadeiras republicanas.
A Califórnia, controlada pelos democratas, é o estado mais populoso do país, enquanto o Texas, liderado pelos republicanos, é o segundo mais populoso. O novo mapa do Texas transfere os eleitores conservadores para distritos atualmente controlados por democratas e combina alguns distritos que os democratas controlam.
Outros estados republicanos —incluindo Ohio, Flórida, Indiana e Missouri— estão avançando ou considerando seus próprios esforços de redistritamento, assim como estados democratas como Maryland e Illinois.
O redistritamento normalmente ocorre a cada 10 anos, após o Censo dos EUA, para levar em conta as mudanças populacionais, e o redistritamento no meio de uma década tem sido historicamente incomum. Sempre que os mapas são desenhados, em muitos estados, os deputados manipulam as linhas para favorecer seu partido em detrimento da oposição, uma prática conhecida como gerrymandering.
Os democratas do Texas levantaram na quarta-feira diversas objeções e questionamentos sobre a medida.
O deputado democrata John Bucy afirmou no plenário da Câmara, antes da aprovação do projeto de lei, que os novos mapas tinham claramente a intenção de diluir o poder de voto dos eleitores negros, latinos e asiáticos, e que a submissão de seus colegas republicanos à vontade de Trump era profundamente preocupante.
“Isso não é democracia, é autoritarismo em tempo real”, disse Bucy. “Este é o mapa de Donald Trump. Ele fabrica clara e deliberadamente mais cinco cadeiras republicanas no Congresso porque o próprio Trump sabe que os eleitores estão rejeitando sua agenda.”
Os republicanos argumentaram que o mapa foi criado para melhorar o desempenho político e que aumentaria o número de distritos com maioria hispânica.
Bucy estava entre os democratas que fugiram do estado no início deste mês para impedir o quórum na Câmara do Texas. Em resposta, os republicanos tomaram medidas extraordinárias para tentar forçar os democratas a retornarem, incluindo ações judiciais para removê-los do cargo e a emissão de mandados de prisão.
A greve terminou quando os democratas retornaram voluntariamente na segunda-feira, afirmando terem alcançado seus objetivos tanto de bloquear uma votação durante a primeira sessão legislativa especial quando de persuadir os democratas de outros estados a tomarem medidas retaliatórias.
A liderança republicana na Câmara designou policiais estaduais para monitorar os democratas e garantir que eles não deixassem o estado novamente. Uma representante democrata, Nicole Collier, dormiu no Capitólio na noite de segunda-feira em vez de aceitar escolta policial.
Os republicanos, incluindo Trump, reconheceram abertamente que o novo mapa visa aumentar seu poder político. O partido atualmente controla 25 dos 38 distritos do estado sob um mapa desenhado pelos republicanos e aprovado há quatro anos.
Democratas e grupos de direitos civis disseram que o novo mapa dilui o poder de voto das minorias raciais, violando a lei federal, e prometeram entrar com uma ação judicial.
Em nível nacional, os republicanos conquistaram a Câmara dos Representantes dos EUA, com 435 cadeiras, em 2024, por apenas três assentos. O partido do presidente historicamente perde cadeiras na Câmara na primeira eleição de meio de mandato, e os índices de aprovação de Trump caíram desde que ele assumiu o cargo em janeiro.