Americanos criam comunidade exclusiva para brancos nos EUA – 21/08/2025 – Mundo


Nas montanhas Ozark, no Arkansas, sudeste dos Estados Unidos, um pequeno grupo de agricultores está construindo uma comunidade exclusiva do zero. Os candidatos a entrar no grupo são avaliados com entrevistas presenciais, verificação de antecedentes criminais, um questionário sobre herança ancestral e, às vezes, até fotos de seus parentes.

Os dois arquitetos da comunidade —um trompista com formação clássica que transmitiu ao vivo seus próprios vídeos de sexo e um ex-pianista de jazz preso por tentativa de homicídio no Equador— afirmam que precisam confirmar pessoalmente que os candidatos são brancos antes de serem acolhidos.

“Ver alguém que não se apresenta como branco pode nos levar, entre outras coisas, a não admitir essa pessoa”, diz Eric Orwoll, um dos fundadores. Normalmente, ele gasta seu tempo divulgando a filosofia de Platão em seu canal no YouTube, mas agora está focado em transformar 64 hectares da cidade de Ravenden em uma comunidade exclusiva para pessoas brancas e heterossexuais chamada Return to the Land (Retorno à Terra, em inglês).

A extrema direita está em ascensão nos EUA, impulsionada em parte por nacionalistas brancos que exploram as preocupações econômicas e a frustração cada vez maior da população com o status quo político. Agora, com o governo de Donald Trump reprimindo a imigração, oferecendo perdão a supremacistas brancos e revertendo políticas de diversidade, equidade e inclusão, alguns veem uma oportunidade.

Ao criar a comunidade, os fundadores da Return to the Land estão testando leis de moradia antidiscriminação em vigor há 57 anos.

Peter Csere, outro fundador da comunidade, foi preso no Equador após esfaquear o trabalhador de uma mina e é acusado de roubar dezenas de milhares de dólares de uma comunidade vegana local. Ele e Orwoll afirmam acreditar que a Return to the Land atende aos requisitos para uma isenção legal direcionada a associações privadas e grupos religiosos que oferecem moradia a seus membros.

Tim Griffin, procurador-geral do Arkansas, abriu uma investigação sobre potenciais violações legais da comunidade após reportagens publicadas no jornal The Forward e na emissora Sky News. “Continuamos analisando este assunto”, afirma Jeff LeMaster, diretor de comunicações da Procuradoria-Geral do estado.

ReNika Moore, diretora do programa de justiça racial da União Americana pelas Liberdades Civis, contesta as afirmações dos homens de que o Return to the Land é legal.

“As leis federais e estaduais, incluindo a Lei de Moradia Justa, proíbem a discriminação habitacional com base na raça, ponto final”, escreveu ela num email. “Reformular a segregação residencial como um ‘clube privado’ é uma violação clássica da lei federal.”

Representantes do America First Legal, um grupo conservador, não responderam a um pedido de comentário sobre a situação legal da comunidade. Representantes da governadora do Arkansas, a republicana Sarah Huckabee Sanders, também não responderam a pedidos de comentários.

Até o momento, não houve contestações legais ao programa Return to the Land. Mas John Relman, advogado de direitos civis especializado em violações do tipo, afirma que o grupo pode ser processado não apenas com base na Lei de Moradia Justa de 1968, mas também em diversas seções da Lei de Direitos Civis dos EUA de 1866.

“Você tem um caso concreto de discriminação intencional”, diz ele. “Acho que eles estão equivocados quando dizem que estão livres de problemas.”

O próprio pai de Trump, o magnata do setor imobiliário Fred Trump, foi acusado de discriminação por supostamente se recusar a alugar imóveis para negros e latinos na década de 1970. Após um processo civil ser aberto contra ele, as partes chegaram a um acordo.

Os fundadores da comunidade, porém, afirmam ver uma oportunidade sob um governo federal que expandiu os limites das leis e normas, especialmente no que diz respeito à raça.

“A Return to the Land precisa atacar enquanto a situação ainda está quente”, escreveu Orwoll em uma página do grupo, que arrecadou quase US$ 90 mil (R$ 492,5 mil).

“Prefiro que o precedente seja estabelecido e a discussão seja travada enquanto houver um clima cultural e jurídico relativamente favorável para isso”, diz Orwoll. “Então, se vamos travar esta batalha —e é uma batalha que será travada em algum momento— é melhor que seja agora.”

Return to the Land é o nome tanto do complexo de 160 acres, que abriga cerca de 40 moradores, quanto de uma associação privada à qual Orwoll diz que centenas se filiaram pagando uma taxa única de US$ 25 (R$ 137) e compartilhando informações sobre sua origem étnica.

O complexo parece isolado do resto do mundo. Ravenden é uma pequena cidade com cerca de 400 moradores e uma churrascaria. O supermercado mais próximo fica dentro de um Walmart, a 30 minutos de distância. O mascote da cidade, um corvo, é homenageado por uma estátua de 3,6 metros na lateral da rua principal.

De Platão a Orania

Orwoll cresceu em La Mirada, Califórnia, nos arredores de Los Angeles, e no ensino médio se considerava um libertário. Estudou trompa na prestigiosa Eastman School of Music em Rochester, Nova York, e se mudou para Milwaukee para integrar a orquestra do Shen Yun, a produção de dança e música clássica chinesa.

Apesar de nunca ter estudado filosofia grega formalmente, ele sempre se sentiu atraído pela disciplina e, em algum momento, começou a postar vídeos caseiros sobre Platão em seu canal do YouTube.

Ele atraiu seguidores, incluindo alguns que comentaram sobre as mudanças demográficas nos EUA. Eles repetiram ideias do que é conhecido como a Grande Substituição —uma teoria da conspiração de que populações não brancas substituirão pessoas brancas por meio de taxas de natalidade e migração em massa— e pseudociência racista sobre a inteligência humana e sua ligação com a genética, uma ideia que foi amplamente abandonada por especialistas.

Esses comentários, diz ele, começaram a convencê-lo de que os brancos nos EUA estavam sendo perseguidos e que a estrutura do país estava se desgastando à medida que suas populações não brancas cresciam. “Eu fui intoxicado pela pílula vermelha”, afirma ele, termo usado para o momento de despertar para uma suposta verdade oculta. “Se nunca tivéssemos tido imigração em massa, se ainda fôssemos uma nação homogênea, não sentiríamos tanta necessidade de formar comunidades como esta.”

Insatisfeito com a vida como músico, Csere diz que começou a buscar algo com “mais significado”. Ele abraçou o veganismo e a “necessidade de se tornar hippie” e fundou uma ecovila no Equador.

A vila, Fruit Haven, acusou Csere publicamente de fraude e roubo em seu site. Em comunicado, acusou-o de fugir em julho de 2023 com milhares de dólares desviados e afirmou que certa vez ele esfaqueou um mineiro equatoriano, causando-lhe um colapso pulmonar, e foi preso sob a possível acusação de tentativa de homicídio no Equador. Ele ainda não foi formalmente acusado.

O The New York Times analisou a documentação da prisão, bem como emails de membros da comunidade implorando para que Csere devolvesse seus fundos.

Ele diz que o esfaqueamento foi um ato de legítima defesa durante uma briga e que deixou o país muitos meses após o incidente. Ele contestou a ideia de que devia dinheiro a algum membro da comunidade.

Homens, Mulheres e Crianças

Em uma segunda-feira de agosto, quatro crianças riam e brincavam em uma gangorra enferrujada sob a sombra de algumas árvores.

Orwoll e sua ex-esposa, Caitlin Smith, têm quatro filhos com idades de 2 e 8 anos. Morar na comunidade, diz Smith, tem sido ótimo para seus filhos, porque lhes deu “pessoas com quem brincar em quem podíamos confiar”.

Os dois se conheceram na escola de música; assim como Orwoll, Smith, 31, que é natural do interior do estado de Nova York, toca trompa. Antes de terem quatro filhos, o casal fazia vídeos de sexo ao vivo por dinheiro no site pornô Chaturbate.

“Quando eu fazia isso, eu era um niilista moral. Eu ainda não era cristão”, diz Orwoll sobre os vídeos.

Smith se recusou a comentar os vídeos. De acordo com sua página de perfil, que ainda está visível, juntamente com os vídeos, ela listou uma preferência por homens, mulheres, pessoas trans e casais. No Return to the Land, pessoas da comunidade LGBTQIA+ são proibidos.

Ela agora está casada novamente com outro homem e eles moram no complexo. Ela se sentou ao lado de Orwoll e sua nova noiva, Allison, que se recusou a revelar seu sobrenome, dizendo que temia ser alvo de críticas por suas opiniões.

“É assim que eu sempre quis viver —retornando à terra”, diz Smith. “O mais importante deste projeto para mim é poder realmente avaliar meus vizinhos. Você pode se mudar para uma área agradável e, em dez anos, não tem ideia de quem estará morando na mesma rua. O que faz uma pessoa ser uma pessoa é todo o seu passado e quem ela é agora. E a genética também.”



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