Israel intensificou a ofensiva sobre a Cidade de Gaza com pesados bombardeios durante a noite desta quarta-feira (20), um dia antes da reunião entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e seus ministros sobre os planos para tomar a maior cidade do devastado território palestino.
Os ataques são mais um sinal de que o premiê não vai recuar imediatamente, a despeito da pressão internacional diante da catástrofe humanitária que o conflito com o Hamas provocou e dos alertas de que uma operação do tipo colocaria em risco a vida dos cerca de 20 reféns que, estima-se, estão vivos entre os 50 que permanecem na Faixa de Gaza. Mais cedo na quarta, ele já havia convocado 60 mil reservistas.
Apesar da pressão que o anúncio evoca, ordenar que dezenas de milhares de pessoas se apresentem provavelmente levará semanas, dando tempo para que mediadores tentem convencer Tel Aviv a aderir ao cessar-fogo temporário que o grupo terrorista já aceitou.
A proposta —baseada em um plano anterior do enviado americano para a região, Steve Witkoff, que havia sido aceito por Tel Aviv em outra ocasião— prevê um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de 10 reféns vivos e 18 corpos de sequestrados. Em troca, Israel libertaria cerca de 200 prisioneiros palestinos de longa data.
Em um sinal de crescente desespero com as condições no território palestino, moradores organizaram uma rara manifestação de protesto contra a guerra nesta quinta (21). Carregando faixas com os dizeres “Salvem Gaza, basta” e “Gaza está morrendo por assassinato, fome e opressão”, centenas de pessoas se reuniram na Cidade de Gaza em uma marcha organizada por vários sindicatos civis.
“Esta é uma mensagem clara: as palavras acabaram, e chegou a hora de agir para parar as operações militares, parar o genocídio contra nosso povo e parar os massacres que ocorrem diariamente”, disse o jornalista palestino Tawfik Abu Jarad durante o protesto.
Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, a agência de refugiados palestinos da ONU, alertou novamente para as condições no território ao afirmar que crianças sofrendo de desnutrição em Gaza morrerão se medidas emergenciais não forem implementadas imediatamente.
Segundo ele, dados mostram um aumento de seis vezes no número de crianças sofrendo de desnutrição na Cidade de Gaza desde março. “Temos uma população extremamente fragilizada que será confrontada com uma nova grande operação militar”, afirmou à imprensa em Genebra. “Muitos simplesmente não terão forças para passar por um novo deslocamento.”
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais duas pessoas morreram de fome e desnutrição em Gaza nas últimas 24 horas. As novas mortes elevaram para 271 o número de palestinos que morreram por essas causas, incluindo 112 crianças, desde o início da guerra —números que a ONU julga confiáveis e que são contestados por Israel. Bloqueios de Tel Aviv à imprensa internacional impedem a checagem das informações.
Milhares de palestinos deixaram suas casas na Cidade de Gaza após Israel intensificar os bombardeios nos bairros de Sabra e Tuffah. Algumas famílias partiram para abrigos ao longo do litoral, enquanto outras se mudaram para partes centrais e do sul do enclave, segundo moradores locais.
“Estamos enfrentando uma situação muito amarga, morrer em casa ou sair e morrer em outro lugar. Enquanto esta guerra continuar, a sobrevivência é incerta”, disse à agência de notícias Reuters Rabah Abu Elias, 67, pai de sete filhos. “Nas notícias, eles falam sobre uma possível trégua. No terreno, só ouvimos explosões e vemos mortes. Sair da Cidade de Gaza ou não não é uma decisão fácil de tomar.”
O plano de tomar a Cidade de Gaza foi aprovado este mês pelo gabinete de segurança de Israel. Embora muitos dos aliados tenham instado o governo a reconsiderar, Netanyahu sofre pressão da ala de extrema direita da sua coalizão para rejeitar um cessar-fogo temporário e, em vez disso, continuar a guerra e buscar a anexação do território.
