O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê o deslocamento de navios de guerra dos Estados Unidos para áreas próximas à costa da Venezuela como uma estratégia americana de aumentar a pressão contra o ditador Nicolás Maduro.
A ação também é enxergada no Planalto dentro da lógica no governo Donald Trump de militarização de temas de combate a organizações criminosas transnacionais e ao tráfico de drogas, algo que afeta outros países, como o México.
Existe forte incômodo entre aliados de Lula com a proximidade das embarcações e com declarações agressivas de autoridades de Washington, mas a avaliação no momento é a de que qualquer resposta sobre o caso deve ser dada com extrema cautela —entre outras razões pelo fato de o Brasil estar na mira do governo Donald Trump com a imposição de tarifas e sanções.
Três destróieres americanos da classe Arleigh Burke, armados com sistemas de mísseis de ataque, devem se aproximar da costa da Venezuela como parte de um esforço para combater os cartéis de drogas da América Latina, segundo autoridades dos Estados Unidos mencionadas pela agência de notícias Reuters.
Em paralelo à movimentação, a porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, afirmou na terça-feira (19) que o país usará “toda a força” contra o regime de Maduro.
No fim da última semana, a imprensa americana já havia informado que os EUA deslocariam mais de 4.000 fuzileiros navais e marinheiros para águas próximas à América Latina e ao Caribe.
De acordo com um membro do governo Lula que segue o tema, a avaliação no momento é a de que a movimentação americana não indica disposição para uma atitude extrema, como uma invasão.
Ele cita como exemplo o fato de os EUA terem recentemente renovado uma licença para que petroleiras americanas explorem petróleo na Venezuela. Mas o cenário é considerado delicado.
Na quarta-feira (20), o assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, disse em audiência na Câmara dos Deputados que a proximidade dos navios causa preocupação e defendeu o princípio da não intervenção.
“Nos preocupa a presença de barcos de guerra muito próximos da costa da venezuelana e o risco, sobretudo com as declarações de que pode ser usada força total —dentro dessa mistura da questão do combate ao crime organizado, que deve ser combatido, mas com a cooperação dos países e não com intervenções unilaterais”, afirmou Amorim.
O diagnóstico atual é o de que há poucas medidas que o Brasil possa tomar, a não ser manifestações de oposição à presença dos navios caso surjam fatos novos —como a hipotética incursão de embarcações em águas territoriais venezuelanas, por exemplo.
Em outra frente, a expectativa de aliados de Lula é que o tema seja discutido em conversas durante a cúpula da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), na Colômbia. O presidente Lula participará do evento.
A organização tem entre seus membros países que seriam diretamente afetados pelo aprofundamento da crise na Venezuela, como Colômbia e Peru, o que deve motivar que o assunto entre na pauta de discussão dos líderes.
De acordo com uma pessoa a par das tratativas, o Brasil atua para que os países da OTCA destaquem na declaração os esforços que estão sendo feitos no combate ao crime organizado na região amazônica.
A mensagem, de caráter simbólico, visaria fortalecer a ideia de que cabe às nações que compartilham o bioma a responsabilidade pelas ações de enfrentamento ao crime e ao tráfico na região —e não a potências extrarregionais, como os EUA.