Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Jeffrey Epstein condenada por crimes sexuais como o bilionário morto em 2019, disse a um funcionário de alto escalão do Departamento de Justiça em julho que nunca viu o presidente Donald Trump se comportar de forma inapropriada.
“Nunca testemunhei o presidente em qualquer situação inapropriada”, disse Maxwell, de acordo com a transcrição de uma entrevista de dois dias feita pelo procurador-geral adjunto, Todd Blanche, e divulgada nesta sexta-feira (22). “O presidente nunca foi inapropriado com ninguém.”
Ela disse ainda que não tinha conhecimento de nenhuma “lista de clientes” de Epstein, o que vem sendo aventado por aqueles que acreditam na teoria de que os amigos poderosos do financista também estariam envolvidos em seus crimes. Até agora, ninguém além dele e Maxwell foi acusado criminalmente.
Epstein, que se declarou inocente, cometeu suicídio em 2019 enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual. Maxwell, por sua vez, foi condenada por tráfico sexual em 2021 por ajudar o bilionário a abusar de meninas menores de idade. Ela também se declarou inocente e está pedindo à Suprema Corte dos EUA que anule sua condenação.
A publicação da entrevista ocorre no momento em que Trump enfrenta críticas de sua base conservadora e de democratas do Congresso após o Departamento de Justiça não divulgar os arquivos da investigação sobre Epstein. Durante a campanha, o republicano prometeu divulgar os documentos e deixou em aberto a possibilidade de o financista não ter se suicidado, alimentando a hipótese de que sua morte foi uma queima de arquivo.
Questionada em fevereiro pela emissora conservadora Fox News sobre a divulgação da chamada “lista de clientes” de Epstein, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, disse que o documento estava na sua mesa naquele momento “para ser revisada”.
Em julho, porém, o Departamento de Justiça afirmou que não divulgaria mais registros do caso após concluir que não havia “nenhuma lista de clientes incriminadora” nem qualquer evidência de que Epstein tivesse chantageado pessoas importantes.
No mês anterior, Trump havia sido informado pelo órgão de que seu nome aparecia diversas vezes nos arquivos, diferentemente do que havia afirmado. Segundo autoridades ouvidas pelo jornal americano The Wall Street Journal na ocasião, Bondi e seu subsecretário, Todd Blanche, comunicaram ao presidente que os arquivos continham o que ambos consideravam “boatos não verificados” sobre muitas pessoas, inclusive Trump.
A menção nos registros, por si só, não indica irregularidades ou envolvimento em atividades ilícitas. Em divulgações anteriores de materiais relacionados ao caso, o nome de Trump já havia aparecido, além de menções à família do republicano, uma vez que ele conviveu com Epstein por anos.
Maxwell deu a entrevista nos dias 24 e 25 de julho, quando Trump tentava amenizar as consequências políticas da decisão do Departamento de Justiça e o advogado dela, David Markus, disse que a sua cliente aceitaria clemência de Trump. É raro que uma funcionária tão graduada quanto Blanche, que também atuou como advogada pessoal do republicano, entreviste diretamente um réu criminal.
Uma semana após a entrevista, Maxwell foi transferida de uma prisão de baixa segurança na Flórida para um centro menos restritivo no Texas. Ela está cumprindo uma pena de 20 anos por recrutar meninas menores de idade para Epstein abusar durante encontros que começavam com massagens e depois evoluiam para atividade sexual sem consentimento.
Trump conheceu Epstein na década de 1990 e início dos anos 2000. Durante o julgamento de Maxwell, o piloto de longa data do financista, Lawrence Visoski, afirmou que Trump voou no avião particular de Epstein diversas vezes, o que Trump nega.
Na entrevista a Blanche, Maxwell disse que o republicano “sempre foi muito cordial e gentil” com ela. “E eu só quero dizer que admiro sua extraordinária conquista em se tornar presidente agora”, afirmou.