Governo promove caneta emagrecedora nacional e muda rumo de disputa entre farmacêuticas

naom_685cf5beacf69.webp.webp



MATEUS VARGAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) tenta acelerar a comercialização das canetas nacionais usadas para diabetes e emagrecimento e tomou medidas que alteraram o rumo da disputa pelo domínio do mercado desses medicamentos.

Na ação mais recente, o Ministério da Saúde pediu e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou que as canetas poderão furar a fila de análise da agência.

A medida deve antecipar a chegada de outras marcas ao mercado, mas foi questionada por parte da indústria por colocar os emagrecedores à frente de centenas de medicamentos que aguardam o aval da Anvisa para comercialização. Outro segmento das farmacêuticas afirma que a priorização é positiva para aumentar o acesso seguro e mais barato às drogas.

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que tem priorizado medidas para “ampliar a soberania e a autonomia do Brasil” na produção de tecnologias em saúde. A pasta ainda afirmou que eventual redução de preço pode facilitar o fornecimento.

“Com a entrada de novos medicamentos genéricos no mercado e aumento da concorrência, os preços devem cair de forma significativa, favorecendo uma possível incorporação desses princípios ativos no SUS”, disse o ministério.

Para priorizar a análise, a Anvisa ainda citou que hoje existe risco de desabastecimento. A Novo Nordisk, que fabrica canetas como o Ozempic, contesta o argumento.

Presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini afirma que mudar a ordem de avaliação para determinados produtos “compromete a transparência” sobre as filas da Anvisa. “Por que priorizar um produto para emagrecimento em detrimento de medicamentos indispensáveis para salvar vidas ou aliviar o sofrimento de pacientes e de suas famílias?”, questiona.

Já a PróGenéricos diz que o aumento exponencial da procura por produtos manipulados torna “particularmente urgente” as medidas para aumentar no mercado o número de marcas dos laboratórios controlados pela Anvisa. A entidade diz que foi informada pela agência de que a priorização das análises é uma medida pontual, técnica e motivada por razões excepcionais de interesse público.

A pressão do governo federal ainda acompanha movimentos de fora de Brasília, como dos prefeitos Eduardo Paes (PSD) e Rodrigo Manga (Republicanos), do Rio e de Sorocaba (SP), que prometem a distribuição na rede pública. Mas técnicos do SUS ainda avaliam de que forma a caneta beneficiaria as políticas públicas de controle da obesidade e diabetes. O alto custo da tecnologia também é apontado como barreira para a oferta na rede pública.

Segundo o Ministério da Saúde, o fornecimento da droga poderia custar mais de R$ 8 bilhões, valor superior ao dobro do orçamento reservado para compra de medicamentos para a atenção básica, como insulina. No último dia 20, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias) citou o valor ao rejeitar duas propostas para levar as canetas ao SUS.

No começo de agosto, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), já havia acrescentado um elemento à disputa entre as farmacêuticas ao fazer uma espécie de propaganda dos medicamentos recém-lançados pela EMS, os primeiros de fabricação nacional à base de liraglutida.

“Aquelas canetinhas que o pessoal está usando direto por aí, mais um produto na área, baixando o preço para a população”, disse Padilha em vídeo gravado após evento da farmacêutica. Os emagrecedores são produtos controlados, categoria em que propaganda, entrega de amostra grátis e outras ações de marketing são proibidas. O aumento do consumo para fins estéticos ainda preocupa associações e sociedades médicas.

O ministério disse que as manifestações de Padilha são ancoradas em ações de incentivo à indústria nacional e que não cabe “qualquer interpretação” sobre propaganda dos produtos.

Para a Interfarma, que representa farmacêuticas multinacionais, não há nas regras da Anvisa hipóteses que justifiquem priorizar a análise dos emagrecedores. A decisão cria uma exceção e resultará em insegurança jurídica, além de atrasar a avaliação de produtos mais prioritários, afirma a associação.

O mercado dos produtos para diabetes e emagrecimento também atrai os laboratórios públicos. Em agosto, a EMS e a Fiocruz anunciaram acordo para transferir à fundação a tecnologia de produção da liraglutida e semaglutida.

Antes, a IQUEGO (Indústria Química do Estado de Goiás) e a Furp, fundação ligada ao Governo de São Paulo, tiveram pedidos negados pelo ministério para firmar PDPs (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo) com laboratórios privados. Nesse tipo de acordo, o governo federal se compromete a comprar os produtos dos laboratórios enquanto a tecnologia é repassada.

Em nota, a EMS afirma que avalia, em conjunto com parceiros públicos, formas de levar as canetas ao SUS. Diz ainda que as canetas representam “uma ferramenta inovadora e eficaz, que pode integrar políticas públicas mais amplas de prevenção e cuidado”. A empresa não se posicionou sobre a decisão da Anvisa de antecipar a análise dos produtos nacionais.

Mercado bilionário
As canetas são análogas do GLP-1, hormônio produzido no intestino que atua no controle dos níveis de glicose no sangue e nos mecanismos de saciedade. As principais marcas no mercado são a semaglutida (Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk) e a tirzepatida (Mounjaro, da Lilly).

Segundo dados da Anvisa, os produtos contendo semaglutida foram os vice-líderes em faturamento da indústria farmacêutica do Brasil em 2024, com mais de R$ 1 bilhão em vendas.

A Novo Nordisk tenta postergar a validade da patente da semaglutida, que expira em março de 2026, enquanto empresas como EMS, Biomm e Hypera Pharma se preparam para lançar concorrentes.

A EMS foi a primeira empresa nacional a conseguir aval da Anvisa para comercializar produtos à base de liraglutida. A empresa produz a caneta em unidade que recebeu investimentos do BNDES ainda na gestão Bolsonaro, além de aporte sob Lula.



Source link

Leia Mais

Com oposição da França, UE vai propor acordo comercial com

Com oposição da França, UE vai propor acordo comercial com o Mercosul

setembro 3, 2025

naom_670f842e80401.webp.webp

Alcaraz vai à semi do US Open e aguarda possível duelo com Djokovic

setembro 3, 2025

Português oferece 500 euros 'por cabeça de brasileiro' - 02/09/2025

Português oferece 500 euros ‘por cabeça de brasileiro’ – 02/09/2025 – Mundo

setembro 3, 2025

175689301168b80f53afb89_1756893011_3x2_rt.jpg

Kim Joug-un diz a Putin que ‘certamente’ ajudará Rússia – 03/09/2025 – Mundo

setembro 3, 2025

Veja também

Com oposição da França, UE vai propor acordo comercial com

Com oposição da França, UE vai propor acordo comercial com o Mercosul

setembro 3, 2025

naom_670f842e80401.webp.webp

Alcaraz vai à semi do US Open e aguarda possível duelo com Djokovic

setembro 3, 2025

Português oferece 500 euros 'por cabeça de brasileiro' - 02/09/2025

Português oferece 500 euros ‘por cabeça de brasileiro’ – 02/09/2025 – Mundo

setembro 3, 2025

175689301168b80f53afb89_1756893011_3x2_rt.jpg

Kim Joug-un diz a Putin que ‘certamente’ ajudará Rússia – 03/09/2025 – Mundo

setembro 3, 2025