Jimmy Kimmel teve o seu talk-show, Jimmy Kimmel Live!, suspenso por tempo indefinido pela emissora americana ABC News. A decisão foi tomada depois de o apresentador comentar sobre Tyler Robinson, jovem de 22 anos acusado de matar Charlie Kirk, influenciador e apoiador do presidente Donald Trump, durante o programa desta segunda-feira (15).
O anúncio foi feito nesta quarta (17) pela Nexstar, que é dona de afiliadas a ABC e um dos maiores grupos de emissoras dos Estados Unidos. O presidente da divisão de transmissão da empresa, Andrew Alford, classificou os comentários do apresentador como “ofensivos e insensíveis em um momento crítico do debate político nacional”.
“As emissoras de televisão próprias e parceiras da Nexstar, afiliadas à ABC Television Network, interromperão o ‘Jimmy Kimmel Live!’ por um período indeterminado, a partir do programa desta noite”, afirmou a empresa em comunicado. “A Nexstar se opõe veementemente aos comentários recentes de Kimmel sobre o assassinato de Charlie Kirk e substituirá o programa por outra programação em seus mercados afiliados à ABC.”
Kimmel disse em seu programa que “a turma do Maga [movimento Make America Great Again] está desesperada para caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um deles e fazendo de tudo para tirar proveito político disso”.
“Entre uma acusação e outra, também houve luto”, acrescentou o apresentador.
Quem também se incomodou com os comentários foi Brendar Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações —responsável por regulamentar as comunicações e a mídia dos EUA. É à esta agência federal que cabe a aprovação de uma grande fusão em andamento entre a Nexstar e a empresa Tegma.
O objetivo é a criação de uma megaempresa, detentora de 265 emissoras em 44 estados americanos e no Distrito de Columbia —onde fica a capital dos EUA, Washington—, o que corresponderia a cerca de 80% dos lares americanos. Não suficiente, a Nexstar tem se mobilizado em favor da flexibilização dos limites de propriedade de mídia, necessária para que a fusão seja aprovada pelos órgãos reguladores.
A empresa defende que seja eliminada uma lei que limita as empresas a serem donas de emissoras que, em conjunto, alcancem no máximo 39% dos domicílios dos EUA. A Comissão deve votar, em 30 de setembro, se será aberto um período de participação pública a respeito da possível modificação ou eliminação das leis de propriedade.
A Sinclair, outra grande proprietária de emissoras afiliadas à ABC, por sua vez, emitiu uma nota em que parabeniza as declarações de Carr e afirma ser urgente que a Comissão Federal de Comunicações adote “medidas regulatórias imediatas para lidar com o controle exercido sobre as emissoras locais pelas grandes redes nacionais”.
A empresa também disse que a suspensão só será encerrada quando Kimmel se desculpar com a família de Kirk e forem realizadas discussões com a ABC sobre “os compromissos da emissora com o profissionalismo e a responsabilidade”.
Em resposta à suspensão do Jimmy Kimmel Live!, o SAG-Aftra, sindicato de atores americanos, emitiu uma nota de repúdio em que diz que a retaliação ao apresentador “é uma ameaça à liberdade de todos”.
Na última semana, diferentes empresas, órgãos e instituições americanas demitiram funcionários por suas reações ao assassinato de Charlie Kirk. Entre elas, o Serviço Secreto, o Office Despot, a Nasdaq, a Universidade de Clemson, a MSNBC, a Agência Federal de Gestão de Emergências e diferentes companhias aéreas disseram ter afastado ou desligado empregados por suas respostas à morte do influenciador conservador. Segundo apoiadores de Kirk dentro e fora do governo americano, muitos desses discursos teriam ultrapassado os limites.
No Brasil, a revista Vogue demitiu sua sua stylist sênior, Zazá Pecedo, por conta de uma publicação feita na última sexta-feira. A postagem, uma imagem com a frase “I love when fascists die in agony”, eu amo quando fascistas morrem agonizando, foi interpretada como uma comemoração do assassinato do influenciador. Ela disse que a publicação sucedeu uma série de stories sobre a condenação do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que não conhecia Kirk até o ocorrido e que não celebrou “sua morte ou o sofrimento de sua família”.
“Vogue Brasil é comprometida com a liberdade e o respeito, valores que invariavelmente andam juntos. A liberdade de expressão não pode cruzar a fronteira do respeito”, afirmou a revista, em nota. “Opiniões divergentes fazem parte do debate, mas não devem desrespeitar a vida e a integridade física de qualquer pessoa.”
Em julho, outro dos principais talk-shows americanos foi cancelado. O rosto daquela ocasião foi Stephen Colbert, que segue como apresentador do Late Show, da CBS, até maio de 2026. Foram citadas questões orçamentárias como justificativa. Na época, a Paramount, dona da CBS, havia acabado de resolver uma disputa milionária com Trump e aguardava a aprovação federal de sua fusão bilionária com a empresa Skydance, acordo que foi concluído em agosto.
O motivo do imbróglio anterior era uma acusação de que a empresa teria transmitido uma entrevista, durante as eleições presidenciais, que favorecia a sua então adversária democrata Kamala Harris.
Responsável pela animação “South Park“, a Paramount também tirou do ar, na última semana, um episódio da nova temporada, anterior à morte de Kirk, que ironizava a figura do influenciador e suas falas em universidades.
Morto em 10 de setembro ao ser alvejado, Charlie Kirk ficou conhecido como ativista conservador aliado a Trump. Ele participava de um debate em uma universidade americana quando foi atingido no pescoço. As investigações levaram a Tyler Robinson, jovem de 22 anos que, de acordo com as autoridades, estava morando com sua família e teria criticado Kirk dias antes.
Natural do estado de Utah, ele foi preso na noite do dia 11 de setembro após um amigo de seus familiares acionar as autoridades. Segundo Spencer Cox, governador de Utah, o escritório do xerife do Condado de Washington teria sido acionado “com informações de que Robinson havia confessado a eles ou dado a entender que havia cometido o incidente”.
Robinson foi preso por homicídio e outras acusações. Segundo a agência Reuters, o suspeito não parece ter antecedentes criminais e não estava filiado a nenhum partido. Em seus registros eleitorais, o jovem consta como um eleitor “inativo”, não tendo participado de eleições recentes. A família diz que ele se aproximou mais de discussões políticas nos últimos tempos.