Forças israelenses continuaram a ofensiva contra edifícios residenciais na Cidade de Gaza no domingo (21), matando pelo menos 31 palestinos e levando muitos outros a fugir, disseram autoridades de saúde de Gaza.
A fuga ocorre enquanto tanques de Israel avançam ainda mais na cidade, a maior e mais densamente povoada do enclave.
Quase dois anos após o início da guerra, o governo de Binyamin Netanyahu descreve a Cidade de Gaza como o último bastião do Hamas, e o exército tem demolido blocos residenciais que afirma estarem sendo usados pelo grupo militante desde o início da ação terrestre na cidade este mês.
Uma mulher grávida e seus dois filhos estavam entre os mortos no domingo, segundo médicos. O exército israelense não comentou imediatamente sobre as mortes, emitindo um comunicado dizendo que suas forças haviam matado “numerosos” militantes.
Nas ruas da Cidade de Gaza, parentes vasculhavam os escombros de um dos edifícios de apartamentos atingidos, tentando recuperar seus pertences.
“A mãe, o menino, a menina e o bebê em seu ventre – encontramos todos mortos”, disse Mosallam Al-Hadad, sogro da mulher falecida, acrescentando que seu filho havia sido gravemente ferido no ataque.
“(Ele) estava em estado crítico. Levamos ele ao hospital, e sua perna foi amputada”, disse Al-Hadad à Reuters.
Israel disse no sábado (19) que suas forças haviam expandido suas operações na área da Cidade de Gaza nos últimos dias, matando 30 militantes e localizando armas.
No domingo, testemunhas disseram que tanques israelenses estavam avançando em direção ao oeste através de Tel Al-Hawa, um subúrbio no sudeste.
O exército israelense estima que mais de 450 mil pessoas deixaram a Cidade de Gaza desde o início de setembro. O Hamas contesta isso, dizendo que pouco menos de 300 mil saíram e que cerca de 900 mil pessoas permanecem.
No sul de Israel, sirenes de ataque aéreo soaram quando militantes de Gaza dispararam dois foguetes através da fronteira, um dos quais foi interceptado e o outro caiu em um campo aberto, disse o exército. Não foram relatadas vítimas.
A ofensiva na Cidade de Gaza provocou repreensão no exterior, levando alguns dos aliados ocidentais de Israel a anunciar que reconhecerão formalmente um Estado palestino antes da reunião anual de líderes na Assembleia Geral da ONU esta semana.
Espera-se que o primeiro-ministro britânico Keir Starmer anuncie o reconhecimento do Estado palestino, rompendo com uma política externa de longa data apesar da forte oposição de Israel e da desaprovação dos Estados Unidos, o aliado mais próximo do Reino Unido.
A ofensiva também alarmou famílias de reféns israelenses ainda mantidos pelo Hamas em Gaza. Acredita-se que vinte desses 48 cativos ainda estejam vivos.
Milhares se reuniram na noite de sábado em frente à residência oficial de Binyamin Netanyahu em Jerusalém, pedindo que ele faça um acordo que encerre a guerra e traga os reféns de volta para casa.
“Eu acuso o primeiro-ministro de nos conduzir por dois anos por um caminho sem saída, rumo a uma guerra sem fim e abandonando nossos entes queridos. Por quê?”, disse Michel Illouz, cujo filho Guy foi sequestrado de um festival de música nos ataques do Hamas que desencadearam a guerra.
Os ataques de 7 de outubro de 2023 mataram 1.200 pessoas e outras 251 foram feitas reféns, segundo contagens israelenses.
A campanha militar de Israel em resposta aos ataques já matou mais de 65 mil palestinos, a maioria civis, segundo autoridades de saúde de Gaza. Entretanto, o ex-comandante do Exército de Israel Herzi Halevi disse que o número de mortos já supera 200 mil, cerca de 10% da população do território.
Além das mortes, a ofensiva desencadeou uma crise de fome no território, destruiu grande parte das edificações e obrigou a maior parte da população local a se deslocar, muitas vezes repetidamente.