O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o sucesso da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, no Brasil depende dos Estados-membros e de suas decisões políticas de reduzir as emissões que causam o efeito estufa levando ao aquecimento global e à catástrofe do clima.
“Eu tenho dito que a COP30 é a COP da verdade. Essa COP vai ter de dizer se nós acreditamos ou não no que a ciência está nos mostrando. Se nós, líderes e chefes de Estado, confiamos ou não na ciência, nós vamos ter de tomar decisão. Porque se não tomarmos decisão, a sociedade vai parar de acreditar nos seus líderes. E ao invés de nós fortalecermos a luta contra o aquecimento global, a gente vai ajudar o descrédito na política, no multilateralismo e na democracia.”
A declaração de Lula foi feita na Cúpula do Clima, o encontro de chefes de Estado e Governo e cientistas da área na sede da ONU, à margem do Debate Geral da Assembleia Geral, em Nova Iorque. A reunião é a última de alto nível antes da realização da COP 30, em Belém do Pará, marcada para 10 a 24 de novembro.
Especialistas que discursaram no evento afirmaram que o mundo tem que admitir que falhou na proteção do clima, mas que não precisa seguir falhando e pode mudar esse curso. E que o momento não é para resignação, mas para ação.
Em seu discurso, Lula perguntou se a menos de 50 dias da COP 30, em Belém, o mundo vai chegar ao Brasil com o dever de casa feito. E alertou que as Contribuições Nacionalmente Determinadas, NDC, são uma obrigação.
“Hoje, os países aqui reunidos estão cumprindo seu dever. Mas há outros que ainda não o fizeram. O negacionismo que enfrentamos não é apenas climático. É também multilateral. Ninguém está a salvo dos efeitos da mudança do clima. Muros nas fronteiras não vão conter secas, nem tempestades. A natureza não se curva a bombas, nem a navios de guerra. Nenhum país está acima do outro.”
Bruno Batista/VPR/Agência Brasil
Amazônia abrigará COP30
Os compromissos de cortar emissões de gases e financiar a mitigação da mudança climática foram feitos no Acordo de Paris, firmado em 2015. Mas na prática, uma minoria de países prosseguiu com o acordado. O presidente do Brasil disse que o Acordo é fundamental para salvar o planeta.
“Não fosse o Acordo de Paris, já estaríamos na rota dos quatro graus de elevação da temperatura média da Terra. Se fomos capazes de proteger a camada de ozônio, também podemos deter o aquecimento global. O fatalismo é o pior inimigo da ação. A transição energética abre as portas para uma transformação produtiva e tecnológica equiparável à Revolução Industrial.”
Na delegação do Brasil, além do presidente Lula participam a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago e a CEO Ana Toni, o representante do Brasil para o G20, Mauricio Lyrio e outros integrantes.
Na Cúpula do Clima na ONU, o primeiro chefe de Estado a discursar após o presidente do Brasil foi o líder da China, Xi Jinping anunciando mais reduções de emissões de gases que causam o efeito estufa até 2035 e aumentando o uso de energia limpa incluindo energia solar.
Xi foi seguido pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que garantiu que a Europa está no caminho para cortar as emissões em -55% até 2030. Já a NDC da Europa será entregue antes da COP30 propondo um corte de 90% para atingir a neutralidade em carbono até 2050. Segundo ele, a Europa será o maior provedor de financiamento climático do mundo.
Outros líderes internacionais anunciaram promessas de redução no evento de países como Austrália, Paquistão, Barbados e outros.
A Cúpula do Clima é uma oportunidade para elevar a ambição climática antes de conferência, de novembro no Brasil.
O secretário-geral António Guterres também discursou na Cúpula do Clima 2025, um evento especial de alto nível sobre Ação Climática.
Os sinais do aquecimento global incluem inundações, cheias, incêndios florestais e ondas de calor recordes.
A reunião de chefes de Estado e Governo busca avançar os passos preparatórios para a COP30.
Os planos nacionais vigentes, segundo a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, Unfccc, levariam a uma redução de apenas 2,6% nas emissões globais até 2030 em comparação com os níveis de 2019. Essa é considerada uma fração mínima diante da queda de 43% que cientistas consideram necessária para limitar o aquecimento global.
Ao assumir a palavra, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que ainda é possível limitar o aumento da temperatura global a 1.5 graus até ao final do século.
Para Guterres, a energia limpa está a impulsionar empregos, crescimento e desenvolvimento sustentável, gerando a eletricidade mais rápida e barata, proporcionando segurança e soberania energética. O líder da ONU ressalta que a ação climática é obrigatória e a energia limpa é competitiva.
O secretário-geral acredita que este é o início de uma nova era energética e a COP30 no Brasil deve concluir-se com um plano de resposta global credível neste sentido.
Ele ressaltou cinco áreas críticas: energia com o fim dos combustíveis fósseis; metano – um potente gás de aquecimento global com cortes drásticos nesta década; florestas e o fim da destruição dos maiores sumidouros de carbono da natureza; a indústria pesada com avanços importantes em tecnologias para reduzir as emissões do aço e do cimento, e do transporte pesado; e a justiça climática.
As emissões de CO2 precisarão reduzir pela metade até 2030 para evitar aumentos de temperatura de 2,7C e mais até o final do século.
Guterres voltou a dizer que os países em desenvolvimento, que menos poluem, são os que mais estão a sofrer e por isso o mundo desbloquear fundos para os países em desenvolvimento aproveitando os benefícios da energia limpa e protegendo vidas e economias.
Com o término da reunião, cerca de 100 países haviam anunciado suas NDCs.
Segundo a ONU, a COP 30 deve mostrar um caminho para mobilizar US$ 1,3 trilhão anualmente em financiamento climático até 2035, conforme acordado na COP 29, em Baku, Azerbaijão.
* Com reportagem de Felipe de Carvalho e Afonso Villas Boas.
Quando você clica no botão "Aceito", você está concordando com os| Políticas de Privacidade | Seus dados serão tratados de acordo com as diretrizes estabelecidas no documento, garantindo sua privacidade e segurança online.
Fale conosco