A AfD, o partido de extrema direita da Alemanha, será despejada de sua sede em Berlim. Como faz com boa parte de seu discurso político, a legenda comemorou a derrota nesta sexta-feira (26) como se fosse uma vitória, já que poderá permanecer mais um ano no imóvel, de acordo com a decisão judicial.
“Um grande dia para o meu partido. Vocês me veem muito feliz”, disse Kay Gottschalk, membro do Parlamento que representou a sigla no Tribunal Regional da capital alemã.
Segundo o juiz Burkhard Niebisch, a AfD violou o contrato de locação ao promover uma festa no pátio do prédio em 23 de fevereiro, quando alcançou a maior votação de sua história nas eleições parlamentares: a segunda maior bancada do Bundestag, com pouco mais de 20% dos votos totais.
Foi melhor resultado da extrema direita no país em 90 anos ou desde a era nazista, que conduziu a Alemanha à Segunda Guerra Mundial. Embalado por resultados semelhantes em outros países europeus, a AfD tem como projeto alcançar a maioria do Bundestag e eleger um primeiro-ministro nas próximas eleições federais, em 2029.
A celebração, porém, não havia sido autorizada, o que fez o proprietário do imóvel, o investidor austríaco Lukas Hufnagl, entrar na Justiça para despejar o partido. A AfD trabalhou a narrativa da ofensiva judicial e a transformou em mais um elemento do boicote generalizado que afirma sofrer na política alemã: os serviços de segurança classificam a legenda de extrema direita e outras agremiações a isolam no Parlamento, com o chamado Brandmauer (uma espécie de cordão sanitário), recusando seus votos e apoio em projetos.
A decisão do juiz premiou a estratégia ao ponderar que o proprietário não havia advertido previamente o partido sobre a proibição, vetando um despejo imediato que seria vexatório. Isso permitirá que a AfD continue ocupando boa parte do prédio, no distrito de Reinickendorf, até o fim do ano que vem.
Pelo prazo original do contrato, a AfD ficaria no local até o fim de 2027. Segundo Gottschalk, a legenda já cogita até sair antes das instalações, para algum escritório mais próximo ao Bundestag, na região central de Berlim, ao lado do Portão de Brandemburgo.
A compra de um imóvel não está descartada, pois muitas empresas se recusam a assinar contratos de aluguel com a sigla. O proprietário do prédio atual foi uma exceção e, além da ação de despejo, durante o processo acusou dois membros do partido de ameaças e extorsão.
O Ministério Público ainda decidirá se abrirá um processo em separado contra os políticos.