O congresso do PC do B, realizado na quinta-feira (16) em Brasília, contou com a participação do deputado chavista Saúl Ortega, do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), além de representantes dos partidos comunistas da China e de Cuba.
Membro da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional venezuelana, controlada pelo chavismo, Ortega traça paralelos entre o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros e as sanções econômicas aplicadas pelos EUA à Venezuela.
“Nos solidarizamos com a agressão que este Brasil está recebendo. São feitas agressões econômicas contra a Venezuela —agora estão fazendo o mesmo com o Brasil, com as tarifas. Isso também é ilegal, mas a Venezuela já vinha sofrendo isso há muito tempo. Além disso, proíbem que empresas possam atuar na Venezuela; se não, aplicam sanções. Ou seja, isso é terrorismo econômico”, diz Ortega à Folha.
No congresso do PC do B, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “o povo venezuelano é dono do seu destino” e que o presidente de outro país “não tem que dar palpite” —em reação à política de Donald Trump para a Venezuela.
O deputado chavista minimiza o distanciamento entre os governos de Nicolás Maduro e de Lula desde as contestadas eleições venezuelanas em julho de 2024.
O governo brasileiro cobrou a divulgação de atas eleitorais após o regime declarar Maduro vencedor, mas elas nunca foram divulgadas. O Brasil, por sua vez, vetou o ingresso da Venezuela no Brics —bloco hoje formado por Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Irã, Indonésia, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, além do Brasil.
“Podemos nos entender até com governos que ideologicamente não compartilhem a mesma posição que a nossa —com aqueles que concordem com o direito público, que é a autodeterminação dos povos, e com aqueles que reconheçam a necessidade da soberania, da independência e da integridade territorial”, afirma.
A crise na Venezuela é um dos temas que mais preocupam o governo Lula e outras nações da região. A situação agravou-se após os EUA declararem cartéis venezuelanos como organizações terroristas e deslocarem forças navais para a costa do país.
Na escalada mais recente, o governo Trump autorizou oficialmente a CIA a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela, com o objetivo —ainda que não declarado abertamente— de derrubar Nicolás Maduro. A informação foi antecipada pelo jornal The New York Times e confirmada pelo próprio presidente.
Ortega diz ainda que a Venezuela segue vendendo petróleo aos americanos e que está disposta a continuar fornecendo o produto. “Coisas assim são possíveis de explorar. Aqueles que estão atiçando os ventos de guerra estão aconselhando mal Donald Trump. Isso pode levar o presidente a se encontrar com uma situação na Venezuela parecida com a de Playa Girón [referência à tentativa frustrada dos EUA de derrubar Fidel Castro na invasão da Baía dos Porcos].”