Malala: livro de memórias mostra Nobel longe da perfeição – 21/10/2025 – Mundo

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Ela enfrentou o Talibã, levou um tiro na cabeça e quase morreu; foi a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz, aos 17 anos, e passava a vida viajando pelo mundo para defender a educação de meninas. Faltava, na vida da paquistanesa Malala Yousafzai, ser uma jovem como qualquer outra.

Para ser alguém com fraquezas e imperfeições, aprendendo com seus erros, Malala, hoje com 28 anos, teve de reunir toda sua coragem, como mostra o livro “No meu caminho – Memórias”, que a ativista lança nesta terça-feira (21).

Na obra, a paquistanesa conta como sua vida mudou após um extremista do Talibã tentar assassiná-la em um ônibus no Paquistão, em 2012, quando voltava da escola, em retaliação por seu ativismo pelo ensino para meninas.

Ela relata desde as múltiplas cirurgias de reabilitação em Birmingham, na Inglaterra, até os anos solitários no ensino médio, sua vida universitária em Oxford e as primeiras paixões. Ao longo das páginas, aprendemos que Malala é muito mais parecida com uma universitária comum do que se poderia imaginar.

Ela não consegue tirar as melhores notas e atrasa na entrega de trabalhos, ocupada com a vida social fascinante na universidade. Um dia, experimenta maconha em um bong (e tem uma “bad trip”). Tem um “crush” em um bonitão misterioso, que “dá um ghosting” (desaparece) nela. Joga pôquer e vai a pubs (mas não toma bebidas alcoólicas, algo vedado na religião muçulmana).

“Eu me tornei uma ativista muito jovem e tive reconhecimento global, era chamada de corajosa e destemida, alguém que tinha respostas para tudo”, disse Malala em entrevista à Folha, por vídeo. “Mas, neste livro, quis compartilhar minhas experiências reais como estudante universitária. De certa forma, sou eu me reapresentando. Eu queria que existisse um livro como este antes de eu entrar na faculdade, um livro que me mostrasse que tudo bem não ser perfeita.”

Ela conta que, quando entrou na faculdade, achava que sua vida seria só estudar. Mas, aos poucos, foi se dando conta de que os amigos que fazia, os clubes de que participava e sua vida social também eram importantes, principalmente para ela, que passou o ensino médio solitária e sentia muita falta dos amigos que deixou no Paquistão.

“Eu sabia que poderia encontrar um livro didático em uma biblioteca a qualquer momento. Mas os amigos da minha idade, meu tempo com eles era um momento tão precioso que nunca se repetiria. Então priorizei essas coisas, e houve muitos contratempos ao longo do caminho, sobre os quais falo abertamente no livro.”

O caminho para a vida prosaica exigiu coragem. Usar uma calça jeans, por exemplo, gerou controvérsia e uma onda de ataques online. Uma foto de Malala de jeans, jaqueta de náilon e véu sobre a cabeça, saindo de uma aula de remo, viralizou nas redes sociais. Centenas de pessoas, a maioria homens paquistaneses, a chamavam de traidora e de estrela pornô.

O jeans gerou uma das brigas com a mãe, Toor Pekai, relatadas pela ativista. “Por que usou aquelas roupas?”, perguntou sua mãe após o incidente. “A família está telefonando! Todo mundo em casa está falando de você.”

Quando Malala foi para Oxford, teve que comprar escondido, online, roupas “de estudante”, porque sua mãe insistia em que ela só levasse, e só vestisse, a vestimenta tradicional paquistanesa, o shalwar kameez, um conjunto de calça com túnica folgada.

Sua mãe também reagiu mal quando, em uma entrevista para a revista Vogue, Malala questionou o casamento como instituição: “Ainda não entendo a necessidade das pessoas de se casar. Se você quer ter alguém na sua vida, por que precisa assinar papéis de casamento? Por que não pode ser apenas uma parceria?”

Nas redes sociais, Malala foi chamada de imoral e anti-islâmica e sofreu ameaças de morte. “Diziam que eu estava incentivando o adultério e se apegaram à palavra ‘parceria’, como se a igualdade entre homens e mulheres fosse antinatural e profana”, diz no livro. Afirmaram que o membro do Talibã deveria ter acertado o tiro.

A mãe, que havia se casado muito cedo e não pôde estudar, tinha visões bastante conservadoras. Ela andava pela casa chorando. Quando voltou a falar com Malala, disse: “Como pôde fazer uma coisa dessas, Malala? Queria que você nunca tivesse aberto a boca”.

“A misoginia tem impactado a vida de mulheres e meninas por séculos, minha história não é única. Há tantas meninas por aí que tiveram seu direito à educação negado, foram impedidas de trabalhar ou que foram orientadas a se vestir de certa maneira. E, se não seguem essas regras, são punidas por isso”, afirma a ativista à reportagem. “Não acho que eu precise me defender para ninguém pelo que visto e pelas minhas opiniões.”

Malala não teme a repercussão do livro. “Pode acontecer qualquer coisa. Tanto a controvérsia do jeans quanto meus comentários sobre casamento são exemplos de como, às vezes, a reação negativa é ridícula, as pessoas pegam uma coisa tão pequena e transformam em uma grande polêmica. Como se dizer simplesmente que, ah, não tenho certeza sobre o casamento, virasse uma narrativa de ‘Malala está aconselhando meninas e mulheres a não se casarem, ela é contra o casamento’. Não foi isso que eu disse”, afirma. “Todos nós queremos questionar as coisas. Mas sim, no final, eu me casei”, diz, referindo-se à união com o namorado Asser.

Seus pais ainda não leram a obra. Malala está preocupada com a reação deles? A ativista conta que seu pai, o educador Zia, envolveu-se muito na escrita do primeiro livro, “Eu Sou Malala”, quando ela tinha 15 anos. Desta vez, ela não compartilhou o texto com ninguém na família, para evitar interferências.



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