Pouco após Nicolás Maduro falar “não à guerra louca” e pedir “peace forever” diante dos ataques dos Estados Unidos a barcos no Caribe, Washington anunciou que atacou mais uma embarcação em águas internacionais da região, matando seis pessoas.
O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, publicou nesta sexta-feira (24) um vídeo da ação nas redes sociais. Segundo ele, seis “narcoterroristas” estavam a bordo do barco e nenhum sobreviveu ao ataque.
“A embarcação, segundo nosso serviço de inteligência, estava envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitava por uma rota conhecida de narcotráfico e transportava entorpecentes”, escreveu o secretário de Defesa.
“Se você é um narcoterrorista que trafica drogas em nosso hemisfério, nós o trataremos como tratamos a Al-Qaeda. Dia ou NOITE, nós mapearemos suas redes, rastrearemos suas pessoas, iremos caçá-lo e matá-lo”, acrescentou.
Os EUA também afirmaram, mais cedo nesta sexta-feira (24), que vão se unir a Trinidad e Tobago para exercícios militares conjuntos perto da costa da Venezuela.
De acordo com o Minisétrio das Relações Exteriores do país insular, o destróier com mísseis guiados USS Gravely, que já havia se aproximado da Venezuela, “realizará treinamentos conjuntos com a Força de Defesa de Trinidad e Tobago”. A embarcação partirá na próxima quinta-feira (30).
“A presença das forças militares americanas em Trinidad e Tobago coloca em evidência o compromisso dos EUA com a segurança regional e a cooperação no Caribe”, acrescenta o comunicado.
A nação tem se mantido fiel a Washington a despeito da provável ilegalidade das ações americanas. Com ação divulgada nesta sexta (24), já são 43 mortos em dez bombardeios contra supostas embarcações com drogas em águas internacionais, incluindo dois possíveis cidadãos de Trinidad e Tobago.
As autoridades do país não confirmaram a informação, mas tampouco desmentiram as denúncias das famílias. A primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar, que já expressou seu apoio às operações, evitou perguntas de jornalistas sobre os bombardeios que mataram seus conterrâneos.
As ações militares são criticadas por governos da região, opositores e especialistas jurídicos, que não enxergam legalidade na ofensiva. O direito internacional não permite ataques contra pessoas que não ofereçam perigo iminente a não ser que se tratem de combatentes inimigos em um contexto de conflito armado —do contrário, seria apenas assassinato.
No caso mais recente, os suspeitos não foram interceptados nem interrogados, e o presidente americano, Donald Trump, afirma que as ofensivas visam o combate ao tráfico de drogas. Nesta quinta (23) , o presidente americano insistiu que pode matar supostos traficantes mesmo sem uma declaração de guerra, ignorando as regras do direito internacional.
“Não vamos necessariamente pedir uma declaração de guerra ao Congresso”, afirmou ele sobre o órgão que tem a competência constitucional para a atribuição. “Acho que estamos apenas tentando matar as pessoas que estão trazendo drogas para o nosso país. Certo? Vamos matá-las, sabe, elas vão ser, tipo, mortas”, continuou, repetindo a informação falsa de que países estariam enviando presos aos EUA. “Eles esvaziaram suas prisões em nosso país”, disse.
Apesar da justificativa declarada de combate ao tráfico de drogas, a tensão ocorre em um contexto de hostilidade contra o regime de Maduro —membros do governo Trump afirmam que a estratégia militar e diplomática dos EUA neste momento é aplicar o máximo de pressão sobre o ditador para removê-lo do poder.
Nesta quinta, dados do site de rastreamento de tráfego aéreo Flightradar24 mostraram um bombardeiro B-1B se aproximando da costa venezuelana antes de virar para o norte. Trump, porém, negou o envio das aeronaves à nação.
A Venezuela acusou o governo trinitino de servir aos interesses de Washington e, ao lado da Colômbia, que também está em confronto com Washington por esta questão, classificou os ataques de “execuções extrajudiciais”.
Os EUA afirmam que Maduro lidera uma rede de tráfico de drogas chamada Cartel de los Soles, cuja existência é negada por especialistas.
Diante da mobilização militar americana, Maduro abriu o registro na reserva militar e ordenou exercícios quase diários. Na madrugada de quinta, o Exército organizou um exercício em 73 pontos das costas venezuelanas; na véspera o ditador havia dito que o país dispõe de 5.000 mísseis antiaéreos portáteis de fabricação russa Igla-S.
“Graças ao presidente [Vladimir] Putin, graças à Rússia, graças à China e graças a muitos amigos no mundo, a Venezuela tem um equipamento para garantir a paz”, disse nesta quinta durante um ato com sindicalistas alinhados ao governo. Foi durante este evento que ele fez seu pedido de paz. “Peace, yes peace, forever, peace forever. No crazy war. Não à guerra louca. No crazy war”, afirmou o venezuelano.




