O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta (14) que pediu ao Departamento de Justiça a abertura de investigação sobre possíveis ligações de Jeffrey Epstein com o JPMorgan, o maior banco do país, e com figuras proeminentes do Partido Democrata, entre elas o ex-presidente Bill Clinton.
O pedido foi feito dias após uma comissão do Congresso americano divulgar documentos que levantaram questionamentos sobre a relação do próprio Trump com o financista acusado de abuso e tráfico sexual, encontrado morto em 2019 numa prisão.
Segundo Trump, além de Clinton, que viajou várias vezes no jato particular de Epstein e foi fotografado com ele em eventos, deveriam ser investigados também Larry Summers, ex-secretário do Tesouro e crítico ao seu governo, e Reid Hoffman, fundador do LinkedIn e doador influente do Partido Democrata.
Em publicação na rede Truth Social, o presidente escreveu que o caso Epstein é um problema dos democratas, não dos republicanos. Ele afirmou que Clinton, presidente do país de 1993 a 2001, Hoffman, um dos maiores doadores à campanha de Kamala Harris durante a corrida presidencial de 2024, e Summers “sabem tudo” sobre o financista e deveriam ser questionados sobre o caso.
“Epstein era democrata e é um problema dos democratas, não dos republicanos!”, escreveu Trump na publicação. “Não perca seu tempo com Trump. Eu tenho um país para governar!”
Procurado pela agência de notícias Reuters, o Departamento de Justiça não respondeu a pedidos de comentário. Clinton, Summers e Hoffman não tinham se manifestado. Já o JPMorgan escreveu em nota lamentar qualquer associação que o banco teve com o indivíduo. “Mas não o ajudamos a cometer seus atos hediondos.”
Na publicação da Truth Social, o presidente também voltou a atacar os democratas ao reagir ao avanço de iniciativas no Congresso para divulgar arquivos relacionados ao caso Epstein. O republicano escreveu que o assunto é uma farsa criada para desviar a atenção de todas as “políticas ruins”.
O caso, portanto, seria uma estratégia para “desviar a atenção de todas as derrotas [do Partido Democrata]”, segundo Trump. Ele também criticou correligionários, afirmando que “alguns republicanos fracos caíram nas garras” dos democratas por serem ingênuos.
Trump também mencionou em sua publicação o que chamou de “vexame da paralisação” de 43 dias nos serviços federais, causada por um impasse entre republicanos e democratas no Congresso —a mais longa do tipo na história do país e encerrada na quarta. Segundo ele, o Partido Democrata está em “total desordem e sem a menor ideia do que fazer”.
Parlamentares democratas divulgaram na quarta-feira (12) emails atribuídos a Epstein sugerindo que o atual presidente tinha ciência dos abusos sexuais. Segundo os documentos, o financista escreveu para um interlocutor desconhecido que o republicano passou “horas em sua casa” com uma das vítimas e “sabia sobre as meninas” envolvidas em seu esquema, sem esclarecer o que quis dizer com a frase.
O tema é caro à base trumpista e considerado sensível para o líder republicano. Grupos que inclusive formam a base de apoio do presidente exigem que a divulgação de todos os documentos relacionados ao escândalo, além da identificação de envolvidos que ainda não teriam sido expostos.
Trump, que sempre negou envolvimento, escreveu na publicação que a oposição está fazendo “tudo ao seu alcance” para “promover novamente a farsa Epstein”, apesar de o Departamento de Justiça já ter divulgado, segundo ele, 50 mil páginas de documentos sobre o caso.
Na quinta-feira (13), um dia depois da divulgação do novo lote de emails relativos ao caso, o Departamento de Defesa anunciou o início da Operação Lança do Sul para combater o narcotráfico na América Latina. O anúncio feito pelo secretário Pete Hegseth não traz detalhes da operação e, quase 24 horas depois, não produziu novos desdobramentos além de mais um ataque a embarcação supostamente ligada a traficantes no Caribe.
As ações militares americanas na região têm sido criticadas por governos da região não alinhados a Washington, além de especialistas e opositores políticos, que rejeitam a justificativa da Casa Branca para os bombardeios aos barcos. Com tropas, aeronaves e o maior porta-aviões do mundo deslocado para a região, o governo Trump pressiona o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, acusado de ser um chefe do narcotráfico regional —algo que ele rejeita.
O escândalo envolve uma vasta rede de exploração e tráfico sexual de menores que Epstein, com a ajuda de sua ex-namorada Ghislaine Maxwell, supostamente operava. Epstein era acusado de pagar por atos sexuais com meninas adolescentes, de traficar dezenas de jovens, algumas com apenas 14 anos, e de forçá-las a prestar serviços sexuais em suas propriedades em Nova York, Flórida, Novo México e em sua ilha particular no Caribe —que posteriormente ficou conhecida como ilha Epstein.
O caso ganhou notoriedade não apenas pela gravidade dos crimes, mas também pela associação de Epstein com figuras públicas e poderosas —como o presidente Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o príncipe Andrew do Reino Unido—, o que levantou dúvidas sobre a real extensão de sua rede e a possível relutância das autoridades em punir os infratores.
Trump reconhece ter sido próximo de Epstein nos anos 1990 e início dos 2000, mas afirma que rompeu a amizade após uma disputa por um imóvel em Palm Beach, na Flórida. Epstein foi encontrado morto em 2019, numa prisão de Manhattan, em ocorrência registrada como suicídio.




