Horas após os Estados Unidos anunciarem a chamada operação “Lança do Sul” para combater grupos ligados ao narcotráfico na América Latina, o governo de Trinidad e Tobago, localizado a apenas 12 km da Venezuela, informou nesta sexta-feira (14) que as forças do país farão novos exercícios militares em conjunto com tropas americanas. As manobras aumentam a pressão sobre a ditadura de Nicolás Maduro.
O Ministério das Relações Exteriores trinitense anunciou que os exercícios ocorrerão de 16 a 21 de novembro e ressaltou que a iniciativa “faz parte de uma longa história de colaboração” com Washington. O comunicado não detalhou os exercícios nem mencionou a crise com a Venezuela, acusada pelo governo de Donald Trump de financiar o narcotráfico, algo que o regime de Maduro nega com veemência.
Trata-se da segunda atividade do tipo em menos de um mês. Trinidad e Tobago, assim, consolida-se como ator importante na crise regional. No mês passado, os EUA ainda enviaram um navio de guerra lança-mísseis ao país latino-americano e deixaram a embarcação parada em um porto local durante vários dias.
Como resposta, o regime de Maduro suspendeu um acordo energético que mantinha com os trinitenses e declarou a primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar “persona non grata”. A expressão em latim é usada como manifestação de determinado Estado de que a pessoa em questão não é bem-vinda ou aceitável ali.
Trinidad e Tobago apoia a presença militar dos EUA na América Latina sob o argumento de que a iniciativa é necessária para coibir o tráfico internacional. Nos últimos meses, Washington reforçou as forças com o envio de caças, navios de guerra e milhares de soldados. E na terça-feira (11), o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, também chegou à região após determinação de Trump.
Numa aparente exibição de força, a Marinha dos EUA divulgou fotos nesta sexta da chegada do grupo de ataque centrado no Gerald Ford à região em que atua o Comando Sul das Forças Armadas dos EUA (Southcom, no acrônimo em inglês), responsável pelas ações militares americanas em uma área que abrange 31 países da América do Sul e América Central.
Para recebê-lo, um bombardeiro estratégico B-52 fez um sobrevoo, escoltado por oito caças navais F/A-18, num recado nada sutil para a ditadura de Maduro. O local exato da exibição, ocorrida na quinta (13), não foi divulgado pelos americanos —a jurisdição do Southcom vai até metade do Atlântico Sul, na direção da África.
Nas imagens, o Gerald Ford aparece com três destróieres de sua escola, o USS Bainbridge, o USS Mahan e o USS Winston Churchill. Sites de monitoramento indicam que os outros dois destróieres que deixaram o porto com o porta-aviões em junho ficaram para trás, operando no Mediterrâneo.
A ditadura de Maduro, por sua vez, anunciou mobilização massiva de forças e ordenou exercícios com tanques, veículos anfíbios, caças e baterias antiaéreas. Em ato nesta sexta, o líder afirmou que a operação americana “não é contra Maduro nem contra a Venezuela”, mas “contra toda a América e contra a humanidade”.
“O que diz o povo americano? Eles querem outro Afeganistão? Outro Vietnã? Outra Líbia? Ou pior: querem outra Faixa de Gaza na América do Sul? Deixe-me dizer uma coisa: não”, disse Maduro em referência a outros conflitos pelo mundo.
Análise do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) avalia que, apesar do aumento recente da presença militar dos EUA na América Latina, o contingente atual não tem capacidade suficiente para sustentar um desembarque anfíbio ou uma invasão terrestre na Venezuela.
Ainda assim, o CSIS aponta que os recursos aéreos e navais acumulados nos últimos três meses já oferecem poder de fogo suficiente para que Washington conduza ataques aéreos e disparos de mísseis contra alvos venezuelanos.
Já a Venezuela mantém uma frota reduzida e com baixa capacidade operacional: de 49 aeronaves, apenas cerca de 30 estariam em condições de voo, ainda segundo a análise. Poucos caças F-16 continuam operacionais, prejudicados pela falta de peças de reposição após anos de embargo dos EUA.
Em caso de ataque, as bases e ativos aéreos venezuelanos, especialmente pistas de pouso, estariam entre os primeiros alvos de mísseis americanos, o que as tornaria rapidamente inoperáveis, acrescenta o CSIS.
Em outubro, Trump confirmou ainda ter autorizado a CIA, a agência de espionagem dos EUA com histórico de interferência na América Latina, a fazer operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar Maduro do poder. Em conversa com a imprensa na Casa Branca, no último dia 15, o republicano disse que o país sul-americano “está sentindo a pressão” e, na ocasião, não descartou operações em terra.
Desde setembro as forças americanas também têm bombardeado embarcações na região com o argumento de combate ao narcotráfico. Pelo menos 80 pessoas foram mortas em ações do tipo. Nenhuma evidência foi apresentada de que os barcos estavam sendo usados para o transporte de drogas.



