Militarização da Alemanha muda balanço de poder na Europa – 30/11/2025 – Mundo

Militarização da Alemanha muda balanço de poder na Europa -


O rearmamento da Alemanha, um dos efeitos colaterais da invasão russa da Ucrânia, entrou em uma fase de aceleração que promete alterar o balanço de poder na Europa.

O Parlamento do país vai aprovar a reintrodução do serviço militar obrigatório em 2027 se o plano de atrair mais recrutas no ano que vem falhar. A meta é ter nos próximos anos Forças Armadas com 260 mil integrantes ativos —ante os cerca de 180 mil atuais.

O aumento do gasto militar, iniciado com a criação de um fundo de € 100 bilhões (R$ 620 bilhões hoje) quando Vladimir Putin lançou sua guerra em 2022, começa a ser sentido. Dona da maior economia da Europa, a Alemanha gastava só 1,19% do seu Produto Interno Bruto com defesa em 2015, quando os russos já haviam anexado a Crimeia.

No ano passado, Berlim chegou a 2,12% e, em 2029, deverá bater nos 3,5% —o proposto pelo americano Donald Trump em defesa pura, mais 1,5% em infraestrutura relativa ao setor, para chegar na nova meta de 5% adotada pela aliança militar Otan em julho.

Isso dá, nas contas atuais, cerca de € 150 bilhões (R$ 930 bilhões) para os militares, ante € 80 bilhões (R$ 495 bilhões) que a França espera despender em 2029. Mesmo hoje os alemães já têm o quarto maior orçamento bélico do mundo, segundo o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla inglesa), de Londres.

A Alemanha fica atrás dos “cachorros grandes”: EUA, China e Rússia. Mas o distanciamento da França altera um pilar do projeto continental do pós-guerra, quando associações culminaram na União Europeia.

Segundo um acordo não escrito, a detentora de armas nucleares Paris seria a potência militar dominante e Berlim, a econômica. Com isso, ficavam equacionadas as tensões que levaram os dois países à guerra três vezes de 1871 a 1939. Agora, os alemães querem novo protagonismo, como demonstra a criação, em abril, da sua primeira brigada no exterior desde a Segunda Guerra Mundial, na Lituânia.

A percepção do risco russo, denunciado em Moscou como desculpa para uma militarização que remonta ao passado prussiano e nazista, se espraiou pelo continente, com vários países se armando e aumentando efetivos. Hoje, a Polônia é o mais agressivo membro da Otan no tema, chegando neste ano a 4,7% do PIB.

Mas os recursos alemães, baseados no seu crédito internacional quase infinito, são muito maiores. O premiê Friedrich Merz conta com um mecanismo aprovado pelo Parlamento em março que permite driblar o equivalente ao teto de gastos da Constituição alemã para aplicar em defesa. Na terça-feira (25), a União Europeia autorizou o endividamento acima do previsto.

Isso ampliou as possibilidades do fundo montado por seu antecessor, Olaf Scholz, naquilo que chamou de “Zeitenwende”, ou ponto de virada devido à guerra. “As Forças Armadas alemãs podem servir como o pilar da defesa coletiva convencional da Europa no futuro, mas isso será difícil”, diz o alemão Ben Schreer, diretor do IISS-Europa.

Segundo ele, “é incerto se uma quantidade suficiente de parlamentares, burocratas e o público em geral acompanharão a mudança na cultura estratégica alemã”. Há apoio popular geral ao alistamento obrigatório, de 54%, mas 63% dos jovens a serem afetados são contra, segundo pesquisa Forsa-Stern deste mês.

Existe também a questão do eventual fim da Guerra da Ucrânia, que Trump tenta costurar. A Alemanha, segunda maior doadora militar a Kiev depois dos EUA, poderá rever o escopo de seus gastos se a paz vier e incluir um acordo Rússia-Otan. Analistas, contudo, acreditam que o movimento em si seja irrefreável, e os generais alemães já fizeram suas contas.

O site americano Politico teve acesso a uma lista, cuja autenticidade não foi negada pelo governo, com 320 projetos prioritários na defesa do país até 2035, somando nada menos que € 377 bilhões, ou R$ 2,3 trilhões no câmbio atual.

Detalhe importante é a busca pela independência dos Estados Unidos, vistos na Europa como parceiros inconfiáveis sob Trump. Só 10% do valor deve ficar com empresas americanas —e o restante com europeias, a maioria na própria Alemanha.

Isso deve manter o processo de expansão da gigante do setor no país, a Rheinmetall, famosa pelos seus tanques e blindados. Neste ano, sua receita cresceu até aqui 30% ante o mesmo período do ano passado, e o preço de suas ações avançou quase 200%.

Isso dito, a presença dos EUA segue central, até mesmo para manter os europeus em pé de guerra entre si. Uma das compras de Berlim que já está certa é a de 35 caças de quinta geração F-35, o que colocou em dúvida a parceria do país com a França e a Espanha num projeto de avião ainda mais avançado.

Merz diz que tomará uma decisão sobre o caso até o fim do ano, e a fabricante francesa Dassault já se queixou de que terá de procurar outro parceiro se o consócio Airbus cair fora devido a uma desistência alemã, azedando a relação do premiê com o presidente Emmanuel Macron.

O governo alemão mantém o alarmismo. Seu belicoso ministro da Defesa, Boris Pistorius, disse ao Frankfurter Allgemeine Zeitung neste mês que Moscou pode atacar a Otan em 2028, um ano antes do que previa. “Alguns historiadores militares acreditam que este ano tenha sido nosso último verão pacífico”, afirmou. “Pistorius está tentando justificar medidas impopulares de forma preemptiva”, escreveu a russa Maria Khorolskaia, especialista do Clube Valdai, um think-tank ligado ao Kremlin.

O fantasma do passado tem sido levantado por meios ligados a Moscou, particularmente associando o militarismo ao nazismo, mas por ora parece não deter a máquina bélica germânica.



Fonte CNN BRASIL

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