Um total de 14 pessoas foram detidas por suspeitas relativas ao incêndio em Wang Fuk Court, em Hong Kong, afirmaram autoridades de segurança do território nesta segunda-feira (1º) —ao menos 151 pessoas morreram. Investigações indicam que os materiais usados na renovação das torres residenciais estavam abaixo do padrão exigido.
A polícia continua a vasculhar as sete torres engolidas pelas chamas na quarta-feira (26) no distrito de Tai Po, e encontrou corpos de residentes em escadas e telhados, presos enquanto tentavam fugir do fogo. Mais de 40 pessoas ainda estão desaparecidas.
“Alguns dos corpos se transformaram em cinzas. Portanto talvez não seja possível localizar todos os indivíduos desaparecidos”, disse a policial Tsung Shuk Yin a jornalistas nesta segunda.
Testes em várias amostras de uma malha verde que envolvia os andaimes de bambu nos edifícios no momento do incêndio não correspondem aos padrões necessários de material retardante de fogo, de acordo com as autoridades que supervisionam as investigações.
Os empreiteiros que trabalhavam nas renovações usaram esses materiais abaixo do padrão em áreas de difícil acesso, na prática escondendo os materiais dos inspetores, afirmaram ainda autoridades de Hong Kong. A espuma usada para isolamento pelos empreiteiros também alimentou as chamas, e os alarmes de incêndio no complexo não estavam funcionando adequadamente.
Milhares de pessoas compareceram para prestar homenagem às vítimas, que incluem pelo menos nove pessoas da Indonésia e uma das Filipinas que trabalhavam como domésticas ou cuidadoras. Filas de pessoas de luto se estenderam por mais de um quilômetro ao longo de um canal próximo ao conjunto habitacional.
Vigílias também devem ocorrer nesta semana em Tóquio, Londres e Taipéa, disseram autoridades.
Os edifícios restantes a serem vasculhados em busca de restos mortais são “os difíceis”, disse Amy Lam, oficial de polícia, no domingo (30), acrescentando que a etapa final da busca pode levar semanas.
Imagens compartilhadas pela corporação mostram oficiais vestidos com trajes de proteção, máscaras faciais e capacetes, inspecionando salas com paredes enegrecidas e móveis reduzidos a cinzas, e caminhando pela água usada para apagar focos de incêndio que arderam por dias.
Os blocos de apartamentos abrigavam mais de 4.000 pessoas, de acordo com dados do censo, e aqueles que escaparam tentam retomar suas vidas.
Mais de 1.100 pessoas foram transferidas dos centros para moradias temporárias, com mais 680 acomodadas em albergues juvenis e hotéis, disseram autoridades.
Com muitos residentes deixando seus pertences para trás enquanto fugiam, as autoridades ofereceram fundos de emergência de HK$10.000 (US$ 1.284) para cada família e forneceram assistência especial para emissão de novos documentos de identidade, passaportes e certidões de casamento.
O incêndio mais mortal de Hong Kong desde 1948, quando 176 pessoas morreram em fogo que atingiu um um armazém, chocou a cidade, onde eleições legislativas devem ser realizadas neste fim de semana.
Em meio a focos de indignação pública sobre avisos de risco de incêndio ignorados e evidências de práticas de construção inseguras, Pequim alertou que reprimiria quaisquer protestos “anti-China“.
No sábado, a polícia deteve Miles Kwan, 24, parte de um grupo que lançou uma petição exigindo uma investigação independente sobre possível corrupção, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto. A agência Reuters não conseguiu estabelecer de forma independente se ele havia sido preso. Kwan deixou uma delegacia de polícia em um táxi na tarde de segunda-feira, de acordo com uma testemunha.
Outras duas pessoas também foram detidas desde então por suspeita de intenção sediciosa, segundo o jornal South China Morning Post. A polícia se recusou a comentar essas detenções.
O escritório de segurança nacional da China alertou indivíduos no sábado contra o uso do desastre para “mergulhar Hong Kong de volta ao caos” de 2019, quando protestos massivos pró-democracia desafiaram Pequim e desencadearam grave crise política.
“Advertimos severamente os perturbadores anti-China que tentam ‘perturbar Hong Kong através do desastre’. Não importa quais métodos você use, certamente será responsabilizado e severamente punido”, disse o escritório de segurança nacional chinês em um comunicado.




