Uma comissão de alto nível do Vaticano votou contra permitir que mulheres católicas atuem como diáconas, mantendo um clero exclusivamente masculino na Igreja Católica, segundo um relatório entregue ao papa Leão 14 e divulgado nesta quinta-feira (4).
A comissão, por 7 votos a 1, afirmou que a pesquisa histórica e a investigação teológica “excluem a possibilidade” de permitir que mulheres sirvam como diáconas neste momento, mas recomendou novos estudos sobre o tema.
O relatório disse que a avaliação do grupo é sólida, mas “não permite, até hoje, formular um julgamento definitivo”.
O falecido papa Francisco criou duas comissões para estudar a possibilidade de as mulheres atuarem como diáconas católicas. As comissões se reuniram em sigilo, e o relatório divulgado nesta quinta representa a primeira vez que os resultados dessas discussões vêm a público.
Os diáconos têm por função auxiliar no trabalho clerical e, assim como os padres, são ordenados, mas não podem celebrar missa. A diaconia é uma das ordens sagradas reservadas a homens na Igreja —as outras são o presbiterato (sacerdotes) e o episcopado (bispos).
Em 2024, em entrevista à rede CBS News, o papa argentino respondeu à pergunta sobre se uma menina que cresce católica hoje tem alguma chance de entrar no clero algum dia: não, disse. “Mas as mulheres sempre tiveram, eu diria, a função de diaconisas sem serem diáconas, certo?”, afirmou na ocasião.
O então cardeal Robert Prevost afirmou, em 2023 —antes de se tornar Leão 14—, que permitir a ordenação de sacerdotisas não resolveria os problemas da Igreja e poderia “criar um novo”.
Em uma entrevista publicada no livro “Leão 14: Cidadão do mundo, missionário do século 21”, publicado em outubro, o pontífice se alinhou com seu antecessor a respeito do “papel da mulher na Igreja”.
“Espero seguir os passos de Francisco, incluindo a designação de mulheres em alguns cargos de liderança, em diferentes níveis“. No entanto, assegurou que não tem “a intenção de mudar o ensinamento da Igreja” que exclui a ordenação de diaconisas.
O papa João Paulo 2º proibiu que mulheres servissem como sacerdotes em 1994, mas não abordou especificamente a questão das diáconas.
Defensores da mudança apontam evidências de que mulheres serviram como diáconas nos primeiros séculos da Igreja. Uma mulher, Febe, é mencionada como diácona em uma das cartas do apóstolo São Paulo.
“A Igreja Católica contemporânea se sustenta, em grande medida, pelo trabalho cotidiano e invisibilizado das mulheres”, disse a socióloga da religião Tabata Tesser, da USP, após o conclave. “São elas que limpam, organizam, preparam os espaços litúrgicos, cuidam da catequese, acompanham os idosos, articulam as festas religiosas e mantêm viva a dinâmica comunitária nas paróquias.”
Essas mesmas mulheres, contudo, permanecem impedidas de “chegar lá”, afirma Tesser. “Podem ser secretárias dos párocos, mas não suas sucessoras. Podem ter as chaves da igreja, mas não celebrar os sacramentos. Essa contradição revela uma profunda desigualdade de gênero alicerçada por uma teologia institucionalmente masculinista.”




