Enquanto todas as outras crianças sonhavam em ser policiais ou bombeiros, Nuno Loureiro, crescido em Portugal, queria ser cientista.
E foi exatamente isso que ele se tornou, fazendo descobertas surpreendentes no mundo da física ainda na casa dos 20 anos, conquistando a titularidade aos 40 e chegando a liderar um importante laboratório de pesquisa no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
“Ele era o tipo de pessoa que ia até o quadro-negro e começava a escrever equações e explicar tudo”, disse Bruno Gonçalves, diretor do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico, a principal escola de ciências e engenharia de Portugal, onde Loureiro trabalhou como pesquisador e líder de equipe.
“Os alunos adoravam”, disse Gonçalves. “Ele era como um Einstein sem o cabelo desgrenhado.”
Loureiro, 47, foi morto a tiros em sua casa em Brookline, Massachusetts, na semana passada, em um caso que inicialmente gerou uma onda de tristeza —e depois choque, quando as autoridades anunciaram que ele havia sido morto pelo suspeito foragido do tiroteio na Universidade Brown dois dias antes.
O suspeito, identificado como Claudio Neves Valente, entrou em uma sessão de estudos na Universidade Brown, em Providence, Rhode Island, em 13 de dezembro e abriu fogo, matando duas pessoas e ferindo outras nove.
Dois dias depois, segundo as autoridades, ele apareceu no bairro arborizado de Brookline, onde Loureiro morava com sua família.
Inicialmente, as autoridades disseram que os dois casos não pareciam ter ligação, mas em uma reviravolta dramática na quinta-feira, anunciaram que Neves Valente era o responsável pelos dois tiroteios e que o haviam encontrado morto em um depósito em New Hampshire. As autoridades não divulgaram nenhum motivo.
Para aumentar o mistério, o suspeito e o professor eram ambos portugueses, tinham idades semelhantes e estudaram física no Instituto Superior Técnico de 1995 a 2000.
Mas não estava claro o quão bem os dois se conheciam naquela época, como seus caminhos se cruzaram ou se mantiveram contato nas décadas seguintes. Amigos próximos de Loureiro disseram que nunca tinham ouvido falar de Neves Valente, até as autoridades anunciarem seu nome como suspeito.
Os acontecimentos abalaram o mundo fechado da ciência nuclear e da física, em que Loureiro era visto como uma figura querida e uma estrela.
Loureiro se destacou ainda jovem, com uma importante descoberta que ajudou a entender como o Sol libera explosões de energia, um fenômeno observado em erupções solares.
“É raro uma tese de doutorado reorientar todo um campo de estudo, mas é justo dizer que o trabalho de Nuno sobre reconexão magnética fez exatamente isso”, disse Ellen Zweibel, professora de astronomia e física da Universidade de Wisconsin-Madison.
Após concluir seu doutorado no Imperial College London em 2005, Loureiro fez pesquisas na Universidade de Princeton e trabalhou no Reino Unido e em Portugal, antes de ingressar no MIT em 2016.
Mais recentemente, ele liderava o Centro de Ciência de Plasma e Fusão do MIT. No início deste ano, ele foi uma das cerca de 400 pessoas a receberem o Prêmio Presidencial de Início de Carreira para Cientistas e Engenheiros, a maior honraria concedida pelo governo dos EUA a cientistas e engenheiros no início de suas carreiras.
Dennis Whyte, ex-diretor do Centro de Ciência de Plasma e Fusão, o descreveu como um “cientista brilhante” e também uma “pessoa brilhante”.
Steven Cowley, diretor do Laboratório de Física de Plasma de Princeton e amigo e colega de longa data de Loureiro, disse que seu amigo conseguiu resolver um “mistério de 50 anos” ainda na casa dos 20 anos, mantendo, no entanto, o senso de humor e nunca se achando superior.
“Ele erguia uma sobrancelha e olhava para você, e havia um certo ar de ironia”, disse Cowley. “Ele tinha um olhar apurado para o absurdo e absolutamente nenhuma pompa. Quando a via nos outros, achava engraçado”, completou.
Colegas o descreveram como um mentor querido pelos alunos, conhecido por dar vida a teorias complexas.
Ao explicar seu trabalho para as filhas, quando eram pequenas, ele dizia que passava os dias “lutando contra números”, lembrou sua família em um obituário compartilhado com o The New York Times.
Quando sua filha perguntava: “Quantos números você enfrentou hoje?”, ele frequentemente respondia: “Não tantos quanto eu gostaria.”
Um pequeno memorial, com flores e velas, se formava na escadaria de sua casa em Brookline na sexta-feira. O campus do MIT estava silencioso, em um dia chuvoso de dezembro, no final do semestre.
Funcionários do laboratório onde Loureiro trabalhava se recusaram a comentar, e estudantes do campus disseram ter sido orientados a não falar com a imprensa.
Muitas perguntas permanecem sem resposta sobre por que Neves Valente escolheu a Universidade Brown como alvo, antes de aparecer na porta de Loureiro dois dias depois.
Loureiro deixa esposa, três filhas, mãe e um irmão. “Ele era completamente devotado às filhas”, disse Cowley, que afirmou ter visto o amigo ainda neste mês em uma reunião em Washington. Era tudo em família.




