O Departamento de Justiça foi alvo de intenso escrutínio durante o fim de semana devido à divulgação inicial de arquivos relacionados às investigações sobre Jeffrey Epstein, o financista e criminoso sexual condenado, mesmo enquanto se preparava para tornar público mais material das investigações.
Algumas vítimas e defensores criticaram o lote de documentos divulgado pelo Departamento de Justiça na sexta-feira (19), argumentando que ele estava bastante censurado e continha poucas revelações.
Alguns parlamentares afirmaram que o fato de o departamento não ter cumprido o prazo de 30 dias para divulgar todos os arquivos, imposto pelo Congresso no mês passado, significava que o governo Trump não havia respeitado a lei.
Após a divulgação inicial, o departamento removeu um pequeno número de fotografias tiradas no interior da casa de Epstein. Entre elas, havia uma que mostrava um aparador com várias fotos, incluindo pelo menos uma de Donald Trump, levantando questões sobre se o governo estava tentando proteger o presidente. Essa imagem foi posteriormente republicada pelo departamento.
A divulgação dos arquivos era aguardada há muito tempo por aqueles que acreditavam que o material poderia esclarecer as atividades de Epstein e seus laços com homens proeminentes e poderosos. Epstein morreu na prisão em 2019, enquanto respondia a acusações federais de tráfico sexual de menores.
O Departamento de Justiça afirmou que mais documentos serão divulgados nas próximas semanas, em cumprimento a uma lei bipartidária que exigia que todo o registro da investigação, com algumas exceções, fosse tornado público até o final da semana passada.
Aqui estão os principais pontos a serem destacados sobre o lançamento inicial.
O Departamento de Justiça afirmou que não removerá as menções a Trump
Todd Blanche, vice-chefe da pasta, disse no domingo (21) que o Departamento de Justiça estava tentando cumprir a lei que exige a divulgação dos arquivos, mas que era uma tarefa gigantesca que precisava ser feita com cuidado para proteger as vítimas.
“Estamos falando de cerca de um milhão de páginas de documentos —praticamente todos eles contêm informações sobre as vítimas”, disse Blanche no programa “Meet the Press” da NBC.
Ele afirmou que o governo não removerá nenhuma menção a Trump dos arquivos à medida que eles continuarem a ser divulgados nas próximas semanas. “Não estamos ocultando informações sobre o presidente Trump”, disse Blanche.
No domingo, o Departamento de Justiça republicou a imagem, que havia sido apagada, do aparador na casa de Epstein que continha a foto de Trump.
“Após a revisão, determinou-se que não há evidências de que quaisquer vítimas de Epstein estejam retratadas na fotografia, e ela foi republicada sem qualquer alteração ou omissão”, afirmou o Departamento de Justiça em um comunicado nas redes sociais.
Alguns legisladores expressaram frustração
O deputado Thomas Massie, republicano do Kentucky, que ajudou a redigir a legislação sobre os arquivos de Epstein, disse que funcionários do governo estavam “desrespeitando o espírito e a letra da lei”. Em uma participação no programa “Face the Nation” da CBS no domingo, ele citou as inúmeras partes censuradas e a recusa do governo em divulgar todos os arquivos na sexta-feira.
Ao falar sobre as vítimas de Epstein, Massie disse acreditar que “a maneira mais rápida de se obter justiça para essas vítimas é apresentar uma resolução que indicie Pam Bondi, a secretária de Justiça, por desacato intrínseco”. Massie afirmou que ele e o coautor da lei, o deputado Ro Khanna, democrata da Califórnia, estavam elaborando a resolução.
Qualquer uma das Casas do Congresso pode votar para declarar uma pessoa ou autoridade “em desacato” por maioria simples. Massie disse que ele e Khanna estavam elaborando uma resolução que imporia uma multa a Bondi “por cada dia em que ela não divulgar esses documentos”.
Os documentos não trouxeram grandes revelações
Os arquivos divulgados, que incluíam milhares de fotografias e documentos de investigação, pouco acrescentaram à compreensão pública da conduta de Epstein. Os materiais também não forneceram muitas informações adicionais sobre as ligações de Epstein com empresários e políticos ricos e poderosos que se associavam a ele.
Os materiais foram extraídos principalmente de investigações sobre Epstein, remontando a um inquérito inicial aberto pela polícia em Palm Beach, ba Flórida, em 2005. Havia também arquivos de uma investigação subsequente conduzida por promotores federais na Flórida, que terminou em 2008 com um acordo judicial, e de um inquérito final realizado por promotores em Manhattan em 2019, que nunca foi concluído, após a morte de Epstein na prisão enquanto o caso ainda estava em andamento, em um caso que o legista considerou suicídio.
Muitos dos documentos, que incluíam registros telefônicos, diários de viagem e o que pareciam ser processos com entrevistas apresentando algumas das vítimas femininas de Epstein, estavam fortemente censurados.
A reação da direita foi discreta
Os apoiadores de direita de Trump têm sido tradicionalmente alguns dos mais fervorosos defensores da divulgação dos arquivos de Epstein. Há muito tempo estão convencidos de que os documentos conteriam provas de que um grupo de homens proeminentes —em sua maioria democratas, segundo eles— se uniu a Epstein para abusar de jovens mulheres e acobertar seus crimes.
Mas esses mesmos apoiadores permaneceram em grande parte em silêncio quando os arquivos foram divulgados, talvez em resposta à escassez de novas informações incriminatórias. Trump, na sexta-feira e durante todo o fim de semana, absteve-se de comentar a divulgação dos materiais, embora o caso o tenha assombrado politicamente.
Resta saber se aqueles que teceram elaboradas teorias da conspiração em torno de Epstein e da condução da investigação pelo governo ficarão satisfeitos com qualquer informação divulgada pelo Departamento de Justiça.
Bill Clinton teve um papel de destaque
Seja por intenção ou por acaso, muitas das fotografias incluídas nos arquivos eram de um dos adversários políticos mais proeminentes de Trump: o ex-presidente Bill Clinton.
Uma das imagens mostrava Clinton reclinado em uma banheira de hidromassagem com uma pessoa cujo rosto havia sido ocultado. Em muitas das fotos de Clinton, ele era a única pessoa cuja identidade podia ser identificada. Os arquivos forneciam pouco ou nenhum contexto para as imagens.
As fotos de Clinton foram divulgadas depois que Trump ordenou ao Departamento de Justiça, no mês passado, que investigasse qualquer ligação entre o ex-presidente e outros democratas com Epstein. Bondi imediatamente acatou as instruções de Trump, orientando Jay Clayton, procurador federal em Manhattan, a assumir o caso.
Um porta-voz de Clinton sugeriu que a Casa Branca orquestrou a divulgação das fotos para desviar a atenção da própria relação de Trump com Epstein. “A Casa Branca não escondeu esses arquivos por meses apenas para divulgá-los na sexta-feira à noite para proteger Bill Clinton”, disse o porta-voz, Angel Urena. “Trata-se de se protegerem do que está por vir, ou do que tentarão esconder para sempre.”
Houve poucas menções a Trump
Durante meses, Trump lutou ativamente contra a divulgação dos arquivos de Epstein, chamando-os de uma “farsa” dos democratas e ameaçando punir os membros do Congresso que votaram a favor de sua divulgação.
Mas seu nome foi raramente mencionado nos materiais divulgados na sexta-feira. Não está claro, no entanto, se ele terá mais destaque nos arquivos que ainda serão divulgados e se o Departamento de Justiça selecionou o lote inicial com motivações políticas.
Trump e Epstein foram amigos próximos durante anos, e a relutância inicial do presidente em divulgar os arquivos gerou especulações sobre se ele aparecia de forma proeminente neles.
A maioria das fotos de Trump divulgadas na sexta-feira já havia sido tornada pública, incluindo imagens dele e de sua esposa, Melania, com Epstein e Ghislaine Maxwell, que está cumprindo pena em uma prisão federal por ajudar Epstein a traficar meninas menores de idade.
Foram encontradas referências escritas a Donald Trump na agenda de endereços e nos registros de voo de Epstein, bem como em um livro de mensagens no qual os assistentes de Epstein o informavam sobre ligações perdidas. Versões desses documentos já eram públicas.
O nome de Trump também surge em entrevistas com Maxwell, transcrições que o Departamento de Justiça já havia tornado públicas e republicou na sexta-feira.




