A maioria das nomeações do papa Leão 14 para bispos católicos nos Estados Unidos tem pedido melhor tratamento para imigrantes no país, em uma tendência que pode moldar como a igreja americana responde às políticas anti-imigração do governo Donald Trump.
Pelo menos dez das 13 escolhas feitas até agora por Leão 14, incluindo o novo arcebispo de Nova York, anunciado na quinta-feira (18) para substituir o conservador Timothy Dolan, falaram publicamente sobre o assunto.
Em diversas declarações, alguns chamaram as políticas de Trump de cruéis; outros instaram o governo a usar o devido processo legal antes de deportar imigrantes.
Um dos conselheiros americanos mais próximos de Leão 14 disse à agência de notícias Reuters que as nomeações do papa mostram que o tratamento dos imigrantes agora é parte firme da posição da Igreja de que a vida é sagrada desde a concepção até a morte, um dos ensinamentos mais fortes da denominação de 1,4 bilhão de membros.
“Isso sinaliza um amadurecimento do nosso entendimento do que significa ser pró-vida”, disse o cardeal Blase Cupich, de Chicago, que faz parte de um escritório do Vaticano que aconselha o papa sobre quais padres católicos nomear como bispos.
Leão 14amplia significado dos ensinamentos ‘pró-vida’
A agenda pró-vida dos bispos americanos se concentrou por décadas em acabar com o aborto legal no país, com sua conferência nacional apoiando uma marcha anual em Washington e fazendo lobby para acabar com a decisão da Suprema Corte de 1973, agora revogada, que permitia o procedimento em âmbito nacional.
Leão 14 pareceu ampliar o guarda-chuva pró-vida em setembro, quando questionou se as políticas de Trump estavam alinhadas com os ensinamentos da Igreja, provocando uma forte reação de alguns católicos conservadores proeminentes.
“Alguém que diz que é contra o aborto, mas concorda com o tratamento desumano dos imigrantes nos Estados Unidos, não sei se isso é pró-vida”, disse o papa em resposta às perguntas de jornalistas fora de sua residência em Castel Gandolfo, na Itália.
Em seus primeiros sete meses como papa, Leão 14 nomeou novos bispos católicos em cidades por todos os EUA, de San Diego a Austin e Pittsburgh. O bispo Ronald Hicks, 58, nomeado na quinta-feira para substituir Timothy Dolan em Nova York, fez seus primeiros comentários naquele dia em uma entrevista coletiva preferindo falar em em espanhol e só depois mudou para o inglês.
Hicks, que liderará 2,8 milhões de católicos em Nova York, é um ex-missionário em El Salvador. Ele reiterou um endosso anterior a uma declaração de novembro da conferência dos bispos dos EUA, que condenou a repressão à imigração de Trump.
Nomeações de bispos são ‘legado mais duradouro’ dos papas
Como os bispos católicos normalmente só se aposentam por motivos de saúde ou idade e podem servir até os 80 anos, muitos dos novos bispos nomeados por Leão 14 poderiam permanecer em suas funções por décadas.
“Certamente o legado mais duradouro de qualquer papa são as nomeações episcopais que ele faz”, disse Natalia Imperatori-Lee, professora da Universidade Fordham. “Cada nomeação é importante, e cada uma significa algo.”
Trump, que uma vez chamou o falecido papa Francisco de “desrespeitoso” por criticar as políticas de imigração do presidente, não respondeu diretamente às críticas de Leão 14.
A repressão do governo incluiu a implantação de soldados da Guarda Nacional em cidades por todo o país e batidas de agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) em locais de trabalho, empresas e nas ruas das cidades.
O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, um convertido ao catolicismo, disse ao veículo de direita Breitbart em novembro que estava ciente dos comentários do papa e afirmou que as políticas do governo Trump eram humanitárias. “Toda nação tem o direito de controlar suas fronteiras”, disse Vance.
Bispos participam de protestos e acompanham imigrantes ao tribunal
Quatro das escolhas de Leão 14 como bispos dos EUA são eles próprios imigrantes. Um quinto nasceu no Texas, mas passou a maior parte de sua infância no México.
O bispo de San Diego, Michael Pham, um ex-refugiado vietnamita nomeado pelo sumo pontífice em maio, tem acompanhado solicitantes de asilo ao tribunal, numa tentativa de impedir que agentes do ICE os prendam quando vão às suas audiências.
O bispo Ramon Bejarano, que cresceu em Chihuahua, no México, e em breve liderará a Igreja em Monterey, na Califórnia, participou de um protesto em fevereiro com milhares de pessoas no centro de San Diego contra a repressão à imigração.
O bispo de Pittsburgh, Mark Eckman, nomeado pelo papa em junho, chamou as políticas de imigração de “cruéis e desumanas” em uma carta aberta de novembro.
Imperatori-Lee disse que Leão 14 “está colocando em prática o que o Evangelho convida a todos a fazer, nomeando homens que defenderam com força os imigrantes e defenderam a dignidade humana.”




