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É o fim dos nudes… ao menos na China. O governo chinês anunciou nesta semana que vai passar a punir, a partir de 1º de janeiro de 2026, o envio e o compartilhamento de conteúdo obsceno ou pornográfico mesmo em conversas privadas, como mensagens diretas entre usuários de aplicativos como WeChat e QQ.
A mudança decorre da revisão da Lei de Punições da Segurança Pública, que entra em vigor no início do próximo ano.
O texto revisado deixa explícito que a disseminação desse tipo de material por redes sociais, aplicativos de mensagens, telefonemas ou outros meios de comunicação constitui infração administrativa, independentemente de haver finalidade comercial ou de o conteúdo circular em espaços públicos. Até agora, a legislação era mais vaga quanto ao alcance dessas práticas no ambiente digital privado.
Casos recentes analisados por tribunais da província de Guangdong indicam que as autoridades têm ampliado a interpretação da norma para abranger desde o compartilhamento informal em chats privados até esquemas mais estruturados, como a difusão de material pornográfico por meio de sites, transmissões ao vivo e vendas coletivas.
As punições variam conforme a gravidade do caso e podem incluir detenção administrativa de 10 a 15 dias, além de multas.
A revisão também prevê responsabilização de administradores de grupos em plataformas digitais que tolerem ou não coíbam a circulação de conteúdo sexual entre os membros. Segundo veículos estatais, a mudança busca corrigir a percepção de que o compartilhamento privado desse tipo de material seria apenas uma questão moral, e não uma violação legal.
Por que importa: ao explicitar que até interações privadas podem ser alvo de punição, a nova lei reduz ainda mais a separação entre esfera pública e pessoal no ambiente digital chinês.
A medida amplia o alcance da vigilância estatal sobre comportamentos online e reforça o papel das plataformas como extensões do aparato regulatório, com impactos diretos sobre privacidade e liberdade individual.
pare para ver
“As quatro beldades após o banho”, tela de Pan Yu-liang, a primeira artista e escultora chinesa a estudar em Paris e Roma, famosa por retratar a beleza do corpo feminino nos seus trabalhos. Leia mais sobre ela aqui.
o que também importa
★ Pequim reagiu na segunda (22) à ameaça do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de impor sanções a cidadãos chineses por suposto apoio à Rússia. A chancelaria chinesa afirmou que se opõe a sanções unilaterais sem aval do Conselho de Segurança da ONU e cobrou que Kiev “corrija seus erros”, prometendo proteger os interesses de suas empresas e nacionais. Zelenski anunciou que prepara novos pacotes de sanções contra entidades ligadas ao complexo militar russo, incluindo estrangeiros. A China reiterou que mantém diálogo com todas as partes e diz atuar por uma solução política para a guerra, iniciada em 2022.
★ Após anos de atraso, a Coreia do Norte finalmente inaugurou no domingo (21) cinco hotéis de luxo em Samjiyon, cidade próxima à fronteira com a China. Um dia antes da abertura oficial, o ditador Kim Jong-Un visitou duas unidades, acompanhado da mulher e da filha. A imprensa estatal apresentou o projeto como voltado ao “bem-estar do povo”, mas a localização é estratégica para receber turistas estrangeiros, sobretudo chineses. Mesmo com o discurso interno, o regime tem promovido o empreendimento internacionalmente, na esperança de receber uma fatia dos turistas da China que foram essenciais para a fraca e isolada economia norte-coreana no passado.
★ A China trocou os comandantes militares responsáveis pelas operações em Taiwan e pela defesa de Pequim em meio a um expurgo incomum nas Forças Armadas. O general Yang Zhibin assumiu o Comando do Teatro Oriental, que cuida de Taiwan, enquanto Han Shengyan passou a chefiar o Teatro Central, responsável pela capital e outras regiões. As mudanças foram anunciadas em cerimônia de promoções presidida por Xi Jinping e ocorrem após a queda de altos oficiais por corrupção. A ofensiva disciplinar, que já atingiu ex-ministros no ano passado.
fique de olho
A China já pode ter instalado mais de 100 mísseis nucleares de longo alcance em bases subterrâneas recém-construídas, segundo um rascunho de relatório do Pentágono obtido pela Reuters. O documento afirma que Pequim não demonstra interesse em negociar limites para armas nucleares, apesar de sinais recentes vindos de Washington.
Segundo os oficiais de defesa americanos, a China teria mais de 100 mísseis capazes de atingir outros continentes, atualmente posicionados em bases perto da fronteira com a Mongólia.
No total, possuía pelo menos 600 bombas nucleares em 2024, um número ainda menor que o de outras potências, mas em rápido crescimento. Mantido o ritmo atual, esse total pode passar de 1.000 até 2030.
Ainda segundo o relatório, Pequim está ampliando suas forças nucleares mais rapidamente do que qualquer outro país no mundo com esse tipo de arma. O texto também contraria declarações recentes de Donald Trump, que disse ver abertura para um acordo de redução de armas com China e Rússia. Para o Pentágono, não há disposição chinesa para esse tipo de conversa.
Além da questão nuclear, o documento avalia que a China acredita ser capaz de enfrentar e vencer um conflito por Taiwan até 2027, inclusive com ataques à distância que poderiam dificultar a atuação militar dos EUA na região.
Por que importa: o crescimento acelerado das armas nucleares chinesas, somado à recusa em negociar limites e ao fim próximo do principal acordo nuclear entre EUA e Rússia, aumenta o risco de uma nova corrida armamentista envolvendo três potências.
Para Washington e seus aliados, o relatório indica que a disputa com Pequim entrou em uma fase mais perigosa, especialmente no campo militar e em torno de Taiwan.
para ir a fundo
- A Yenching Academy, programa de sinologia da Universidade de Pequim para jovens pesquisadores, abriu inscrição para seu simpósio global. O evento acontecerá em abril e os selecionados para participar receberão passagens, alimentação e acomodação gratuitas. Interessados podem se inscrever até 5 de janeiro aqui.
- Estão abertas até 5 de fevereiro as inscrições para o programa de bolsas de estudos na China. Há oportunidades para graduação, mestrado e doutorado, em programas conduzidos em chinês ou inglês. Informações e edital neste link.




