Violência no Haiti avança e expõe fracasso da Minustah – 25/12/2025 – Mundo

17649519666933079e2535a_1764951966_3x2_rt.jpg


Pelo menos 1.247 pessoas foram assassinadas e outras 710 ficaram feridas no Haiti de 1º de julho a 30 de setembro de 2025, segundo dados recentes das Nações Unidas. O cenário de violência é agravado por uma relação fluida e sobreposta entre gangues, grupos de autodefesa e forças estatais no país. Além disso, em setembro, 1,4 milhão de haitianos estavam deslocados de suas casas.

Segundo o relatório da ONU, 30% das mortes foram atribuídas à violência de gangues, 9% à atuação de grupos de autodefesa, e 61% às operações das forças de segurança.

A crise econômica, a insatisfação política, o vácuo de poder e a baixa capacidade de governança ampliaram a influência das facções criminosas —fenômeno que se aprofundou após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021.

Trata-se de um círculo vicioso: as gangues haitianas surgem sobretudo a partir de grupos comunitários de segurança, formados para suprir a ausência do Estado —enfraquecido, por sua vez, por esses centros de poder paralelos.

“O narcotráfico não é central no modelo de financiamento desses grupos”, afirma o pesquisador Pedro Braum, da ONG Viva Rio, que tem atuação em Porto Príncipe. “Sua principal fonte de recursos é o controle territorial, a extorsão e os resgates por sequestros.”

Chamadas de bases ou brigadas, essas estruturas surgem quando moradores se organizam para garantir a proteção do bairro. Wesley Belotte, líder de uma base comunitária da cidade de Milot, no norte do país, afirmou à Folha que as associações locais promovem eventos recreativos, assumem pautas políticas e pressionam o poder público por demandas que incluem, por exemplo, o fornecimento de energia elétrica.

Criadas inicialmente para autodefesa, essas organizações também desempenham funções culturais, políticas e de reivindicação territorial —e podem, com o tempo, transformar-se na semente de novas gangues.

“A ordem pública foi privatizada pelas gangues”, afirma o sociólogo Jean Casimir, da Universidade Estatal do Haiti. Na ausência de um Estado funcional, as brigadas ganharam apoio de autoridades locais e de parte da população, frustrada com um sistema judicial paralisado.

A situação se deteriorou ainda mais a partir de 2024, quando as gangues obrigaram o então primeiro-ministro, Ariel Henry, a renunciar. O país, que não realiza eleições desde 2016, passou a ser governado por um Conselho Presidencial de Transição, incapaz de conter a escalada da violência.

Inicialmente dispersas, as gangues passaram a se articular em plataformas e formaram a coalizão Viv Ansanm, que enfrenta as forças de segurança e faz ataques em larga escala.

Em resposta ao agravamento da crise, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, no fim de setembro, uma resolução que reforça a Missão Multinacional de Segurança (MMAS) —criada em 2023 e liderada pelo Quênia—, transformando-a em uma força mais robusta para tentar frear o avanço dos grupos paramilitares.

Em 2024, as Nações Unidas já haviam denunciado pessoas acusadas de crimes graves contra centenas de crianças: 213 foram assassinadas, 138 ficaram feridas, 566 foram vítimas de violência sexual, e 302 foram recrutadas por gangues.

Entre a população deslocada, o número de crianças que precisou sair de casa quase dobrou no último ano, chegando a 680 mil, segundo relatório da Unicef divulgado em outubro. São menores de idade que podem estar sozinhos e buscam refúgio em edifícios abandonados, escolas ou abrigos improvisados sem água potável nem saneamento.

As condições são propícias para a propagação de doenças, em particular a cólera —que chegou ao país em 2010 por meio de soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).

Para o professor da Unicamp Omar Thomaz, a atual crise de segurança no Haiti é outro importante legado dessa operação, que durou de 2004 a 2017 e foi liderada pelo Brasil.

“A parte civil da missão, encabeçada pelo Chile, contribuiu para fragilizar ainda mais instituições já debilitadas, enquanto o componente militar —sob comando do Brasil e voltado ao combate às gangues— acabou produzindo o efeito de empoderar esses grupos criminosos.”

“O Haiti foi inserido na rede internacional de tráfico de armas após a Minustah, o que mudou a configuração da violência no país” afirma Thomaz. Apesar de ser a maior operação militar brasileira desde a Guerra do Paraguai, pouco se sabe sobre atuação das Forças Armadas no território haitiano. Não houve responsabilização por eventuais crimes cometidos ou inquérito sobre práticas durante a intervenção.

Para Pedro Braum, a frustração social eclodiu em 2018, pouco depois da retirada da Minustah, quando o governo aumentou em 50% o preço dos combustíveis. O reajuste detonou o movimento “Pays Lock” (“país fechado”), canalizando um descontentamento generalizado que abriu espaço para a expansão dos grupos armados.



Source link

Leia Mais

Em 1º sermão de Natal, papa lamenta condições dos palestinos

Em 1º sermão de Natal, papa lamenta condições dos palestinos em Gaza

dezembro 26, 2025

naom_65e8246acf0f4.webp.webp

300 imóveis, 15 helicópteros e 190 Ferraris: o que dá para comprar com R$ 1 bilhão da Mega da Virada

dezembro 26, 2025

Site da Caixa é o único oficial para apostas online

Site da Caixa é o único oficial para apostas online da Mega da Virada

dezembro 26, 2025

176635011969485d27ca1fe_1766350119_3x2_rt.jpg

Análise: Trump leva ‘Presidência imperial’ a novo patamar – 25/12/2025 – Mundo

dezembro 26, 2025

Veja também

Em 1º sermão de Natal, papa lamenta condições dos palestinos

Em 1º sermão de Natal, papa lamenta condições dos palestinos em Gaza

dezembro 26, 2025

naom_65e8246acf0f4.webp.webp

300 imóveis, 15 helicópteros e 190 Ferraris: o que dá para comprar com R$ 1 bilhão da Mega da Virada

dezembro 26, 2025

Site da Caixa é o único oficial para apostas online

Site da Caixa é o único oficial para apostas online da Mega da Virada

dezembro 26, 2025

176635011969485d27ca1fe_1766350119_3x2_rt.jpg

Análise: Trump leva ‘Presidência imperial’ a novo patamar – 25/12/2025 – Mundo

dezembro 26, 2025