O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que se reunirá com o lider americano, Donald Trump, na Flórida durante o fim de semana para discutir os pontos mais sensíveis de uma proposta de paz elaborada em conjunto com os Estados Unidos.

A reunião, que deve acontecer no resort Mar-a-Lago de Trump, marcará o ponto culminante de semanas de diplomacia intensa que começaram em novembro com a publicação de um plano de 28 pontos elaborado pelos EUA com a participação de autoridades russas.

Zelenski disse a repórteres em um chat do WhatsApp na sexta-feira (26) que ele e Trump “têm uma agenda ampla” e que a “reunião é especificamente destinada a finalizar o máximo” possível do acordo.

“Há certas questões que podemos discutir apenas no nível de líderes”, disse o presidente ucraniano. No topo da agenda estariam as garantias de segurança para a Ucrânia, acrescentou, observando que eles queriam “acertar alguns detalhes” dos compromissos assumidos pelos EUA e os acordos com países europeus.

Mas os presidentes também discutirão vários outros aspectos da proposta de paz, incluindo o que Zelenski chamou de “acordo econômico” para a reconstrução da Ucrânia com ajuda dos EUA. “Por enquanto, existem apenas esboços básicos, mas haverá vários acordos [sobre o acordo econômico]”, disse.

Zelenski disse que também discutiria Trump as questões controversas envolvendo o território ucraniano. O rascunho original dos EUA exigia que a Ucrânia cedesse as partes do Donbass, no leste da Ucrânia que ainda controlam, levando negociadores ucranianos e europeus a correr para questionar o que Kiev descreveu como concessões inaceitáveis à Rússia.

“Não posso dizer agora se teremos algo pronto”, disse Zelenski.

A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Zelenski escreveu no X na manhã de sexta-feira (26) que “muito pode ser decidido antes do Ano Novo”.

Ele será acompanhado na Flórida por sua equipe de negociadores. Sergii Kislitsia, membro da delegação, disse que as posições dos EUA e da Ucrânia convergiram significativamente. “Agora é o momento para os dois líderes abençoarem o acordo, ajustarem ou calibrarem, se necessário”, disse ele ao Financial Times.

Semanas de intensas negociações na Flórida, Berlim e Abu Dhabi aproximaram o plano das expectativas ucranianas, com Zelenski anunciando na terça-feira (23) que as discussões com negociadores americanos estavam em um texto que “reflete em grande parte a posição conjunta ucraniano-americana”.

Mas o presidente ucraniano admitiu durante uma coletiva com repórteres em Kiev que um plano de paz de 20 pontos ainda continha disposições com as quais a Ucrânia não concordava. Zelenski disse aos repórteres que o plano de 20 pontos estava “90% pronto”, mas que discussões sobre “questões sensíveis” — incluindo possíveis concessões territoriais — ainda precisam acontecer em uma reunião individual com Trump.

Líderes europeus também estavam planejando uma nova rodada de conversas com uma coalizão de países que se comprometeram a apoiar a Ucrânia e as negociações de paz e se realizaria em janeiro, disse um funcionário francês próximo ao Eliseu na sexta-feira (26).

Não havia “outra solução senão continuar tentando” convencer a Rússia de um plano viável, disse o funcionário, acrescentando que em algum momento os europeus teriam que ter um diálogo direto com o presidente russo, Vladimir Putin, como sugeriu o presidente francês Emmanuel Macron.

“A Rússia está constantemente procurando razões para não concordar” com um acordo de paz, disse Zelenski aos repórteres. Mas ele disse que era crucial para a Ucrânia continuar avançando com seus parceiros em um plano.

“A resposta é simples: se a Ucrânia demonstra sua posição, é construtiva. Se a Rússia não concorda, significa que a pressão é insuficiente”, disse ele, acrescentando que falaria com Trump sobre pressionar ainda mais a Rússia.

Questões não resolvidas incluem condições sob as quais Kiev aceitaria uma retirada de forças de combate de algumas partes da linha de frente, o destino da usina nuclear de Zaporíjia e os contornos precisos das garantias de segurança que os EUA estariam dispostos a oferecer a Kiev.

Zelenski disse que estaria pronto para ordenar uma retirada de “forças pesadas” de potenciais zonas desmilitarizadas se as tropas russas fizessem o mesmo. Kiev então manteria a soberania sobre o crucial cinturão que inclui Kramatorsk e Sloviansk, parte do antigo centro industrial do leste da Ucrânia que Moscou tenta conquistar desde sua invasão em 2022.

Moscou ainda insiste que suas demandas maximalistas devem formar a base de quaisquer negociações de paz, já que Putin continua confiante de que seu Exército pode derrotar a Ucrânia no campo de batalha.

“A iniciativa estratégica está completamente nas mãos das Forças Armadas da Rússia. Isso significa que nossas forças estão avançando em toda a linha de frente”, disse o presidente russo na semana passada durante sua coletiva de imprensa de fim de ano.

As forças russas continuaram pressionando nas últimas semanas, entrando na cidade de Huliaipole na região sul de Zaporíjia e assumindo o controle da maior parte do reduto de Pokrovsk na região de Donetsk. Mas contra-ataques ucranianos forçaram as tropas russas a recuar da maioria das áreas da cidade de Kupiansk na região de Kharkiv, apesar do comando russo anunciar a captura da cidade em novembro.