A demolição da imprensa e as lições do Pentágono – 30/10/2025 – Laura Greenhalgh

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A política do Pentágono para o seu corpo fixo de jornalistas, anunciada pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, não é só mais uma canetada de um governo autocrático. O que Donald Trump almeja é quebrar a imprensa livre, inclusive passando por cima da Primeira Emenda da Constituição americana.

Desde que Hegseth assumiu o Departamento de Defesa, rebatizado como Departamento de Guerra, a pressão sobre os jornalistas lotados no Pentágono só cresceu. Em janeiro deste ano, o secretário acabou com a praxe das entrevistas coletivas. Depois, retirou credenciais de alguns veículos. Agora, implanta diretrizes para a imprensa atuar no complexo de 600 mil metros quadrados à beira do rio Potomac, no estado da Virgínia.

Os correspondentes passam a circular somente em alguns espaços e não podem acessar gabinetes nem solicitar dados: só devem publicar informações oficiais autorizadas. Esta foi a gota d’água para o corpo de imprensa rejeitar o termo de aceite da nova política e deixar o prédio coletivamente. Os jornalistas saíram do Pentágono em grupo, carregando caixas de papelão com seu material de escritório. Foram chamados de “hipócritas que escolheram se autodeportar”.

A partir daí, o que se viu foi a ocupação dos postos vagos por influenciadores de veículos ligados a Trump e ao movimento Maga, tais como o site Gateway Pundit, a Lindell TV, e a rede One America News, conhecidos por disseminar mentiras na pandemia e nas últimas eleições presidenciais. Curiosamente, a Fox News, rede da direita americana de onde Hegseth saiu para chegar ao topo da defesa nacional, não quis a assinar o termo.

Trump e seu secretário se insurgem contra a história da imprensa. Em 6 de junho de 1944, o Dia D, foi o correspondente do Pentágono Joseph McCaffrey, jornalista da CBS News, quem informou ao mundo, pelo rádio, a estratégia americana para o desembarque na Normandia.

Deu detalhes da movimentação das tropas e ainda confidenciou aos ouvintes: “Tudo arquitetado dentro deste prédio”.

Correspondentes como McCaffrey sabem da relevância do que fazem. Além de só lidar com temas estratégicos, em 1971 viram a Suprema Corte liberar a divulgação dos “Documentos do Pentágono”, relatório sobre o envolvimento americano no Vietnã. Foi uma decisão histórica, colocando o direito à verdade acima dos interesses da segurança nacional.

Especula-se que os veículos que se opuseram a Hegseth possam ir à Justiça. Há brechas legais. O Pentágono faz parte da administração pública e a imprensa têm o direito de informar o que se passa por lá, inclusive sobre como o dinheiro do contribuinte tem sido gasto em operações militares.

A veterana Barbara Starr, ex-CNN e membro da Associação de Imprensa do Pentágono, acredita que os jornalistas continuarão a fazer o seu trabalho —fora do prédio. É a opinião também de James Risen, ganhador de um Prêmio Pulitzer por investigar esquemas de financiamento do terrorismo. Detalhe: Risen avalia que a proximidade entre jornalistas e generais nem sempre foi benéfica. Trabalhar à distância será mais desafiador.

A forte reação a esta crise midiática vem provar, mais uma vez, que influenciador não é jornalista. Hoje, o mundo em guerras precisa de investigação em profundidade, informação checada e livre expressão. Algo estranho para gente mais preocupada em fazer cabeças e ganhar seguidores, como prefere Trump.


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