O Irã ainda não permitiu a entrada de inspetores nos locais nucleares bombardeados por Israel e pelos Estados Unidos em junho, informou nesta quarta-feira (12) a agência nuclear da ONU em um relatório confidencial, acrescentando que a verificação do estoque iraniano de urânio enriquecido está “muito atrasada”.
Segundo suas próprias diretrizes, a AIEA deve verificar mensalmente o estoque de urânio altamente enriquecido de um país —como a quantidade enriquecido a até 60% de pureza no Irã, um estágio anterior aos cerca de 90% necessários para uso em armas nucleares.
A AIEA vem pedindo há meses que Teerã esclareça o que aconteceu com esse estoque e permita que as inspeções sejam retomadas integralmente o quanto antes. As duas partes anunciaram em setembro, no Cairo, um acordo que deveria abrir caminho para esse retorno dos inspetores, mas o progresso tem sido limitado —e agora o Irã afirma que o acordo é nulo.
“A falta de acesso da agência a esse material nuclear no Irã há cinco meses significa que sua verificação (…) está muito atrasada”, afirmou a Agência Internacional de Energia Atômica no relatório aos Estados-membros, visto pela Reuters.
“É fundamental que a agência possa verificar os inventários do material nuclear anteriormente declarado no Irã o quanto antes, a fim de dissipar suas preocupações (…) sobre o possível desvio de material nuclear declarado para usos não pacíficos.”
O documento aponta que a quantidade de urânio altamente enriquecido que o Irã produziu e acumulou “é motivo de séria preocupação”. A AIEA afirma ainda que perdeu a chamada “continuidade de conhecimento” sobre os estoques iranianos de urânio enriquecido, o que significa que restabelecer um quadro completo levará tempo e será difícil.
De 13 a 24 de junho, Israel atacou instalações nucleares em Natanz e Isfahan, prédios residenciais na capital do Irã, bases aéreas e de lançamento de mísseis em todo o território iraniano e a sede da emissora estatal, além de matar alguns dos principais militares e cientistas nucleares do país. Os EUA entraram no conflito no dia 22, com bombardeios contra as instalações de Fordow, Natanz e Isfahan.
Até o momento, a agência inspecionou apenas algumas das 13 instalações nucleares que permaneceram “intactas” após os ataques —e nenhuma das sete que foram atingidas.
Antes dos bombardeios, que destruíram completamente uma das três instalações de enriquecimento em operação no país e danificaram gravemente as demais, a AIEA estimava que o Irã possuía 440,9 kg de urânio enriquecido a até 60% na forma de hexafluoreto de urânio —substância que pode ser inserida em centrífugas para enriquecimento adicional.
Essa quantidade seria suficiente, em princípio e se enriquecida ainda mais, para dez bombas nucleares, segundo parâmetros do órgão da ONU.
Como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o Irã deve enviar um relatório especial e detalhado à AIEA sobre a situação das instalações bombardeadas “sem demora”, mas ainda não o fez, segundo o documento. Só após isso a AIEA poderá inspecioná-las.
O presidente americano, Donald Trump, disse à época dos bombardeios que o programa nuclear iraniano havia sido destruído, mas ainda não se sabe exatamente a extensão dos danos provocados. O republicano advertiu que ordenaria novos ataques caso Teerã tentasse reconstruir as estruturas que foram destruídas.
Em outubro, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei afirmou que Trump sonha se pensa ter destruído as bases nucleares do país. No mesmo mês, Teerã anunciou que, pela expiração do acordo internacional assinado em 2015 com Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia, não seguiria mais as restrições impostas ao seu programa nuclear.
Na prática, o anúncio foi uma formalidade, porque tanto o Irã já havia deixado de cumprir compromissos como os outros países reaplicaram sanções que deveriam ser suspensas.




