Análise: Tarifas de Trump refletem transição geopolítica – 07/04/2025 – Mundo

Análise: Tarifas de Trump refletem transição geopolítica - 07/04/2025 -


Considerando o caráter mercurial do processo decisório de Donald Trump, é cedo para ser assertivo acerca dos desígnios dos primeiros tiros de sua guerra tarifária.

O presidente americano pode acordar amanhã e decidir congelar parte das medidas, visando pressionar países específicos. Isso seria condizente com o seu estilo negociador, que levou seis negócios à falência enquanto o empresário posava de invencível.

Ou não, e o messianismo de sua segunda Presidência, especialmente após uma campanha em que quase foi morto por um atirador, de fato não leve em consideração o emprego de cálculos obscuros para determinar suas tarifas.

Nessa leitura, Trump é apenas um agente do caos que visa erodir a democracia americana em seu próprio, mesmo que isso implique a perda de sua base de apoio.

Ambos os cenários, dominantes em análises de conjuntura, não alteram o contexto geopolítico que pariu o Trump e seu tarifaço. A ordem global como a conhecemos não existe mais como era, e vivemos um interregno entre o regime em ocaso e a nova realidade.

A segunda metade do século 20 foi marcada pela ascensão dos Estados Unidos como principal força do planeta, alicerçado pelo desafio proposto pela União Soviética.

Sob o discurso da defesa de um mundo livre, os EUA montaram um arcabouço comercial que lhe servia por meio de países aliados interligados como uma cadeia de suprimentos. Todo o sistema do pós-guerra ancorado nos instrumentos de Bretton Woods, como o Banco Mundial, o FMI e depois, a OMC, obedecia a tal lógica.

O arranjo funcionou a ponto de que a China, rival da União Soviética no mundo comunista, foi atraída para ele por um anticomunista ferrenho, Richard Nixon, nos anos 1970. O resto é história, e o hoje é Pequim que ocupa o espaço de desafiante estratégica de Washington, ainda que esteja em apuros econômicos.

Os soviéticos fizeram sua versão do esquema, mas com muito menos sucesso devido às suas dificuldades intrínsecas de conversar com as realidades do comércio. Com efeito, tiveram mais sucesso em Estados falimentares e pobres mundo afora, tornados clientes de Moscou na Ásia, África e América Latina.

O fim do império socialista em 1991 amplificou o poderio americano, levando a Rússia ao caos e ao ressentimento, operados por Vladimir Putin em seu quarto de século de consolidação de seu reinado no Kremlin.

Enquanto isso, os chineses se espraiavam pelo mundo, tornando-se os parceiros comerciais preferidos das nações no lugar dos EUA, envolvidos após o 11 de Setembro em uma projeção confusa de poder. É nesse contexto que surgem grupos como o Brics.

Alguns fatos em sequência solaparam ainda as certezas do sistema vigente. O brexit mostrou os pés de barro da União Europeia, a pandemia da Covid-19 desarticulou as cadeias produtivas e o fracasso de Putin em tomar a Ucrânia mostrou os limites do ressurgimento russo.

Isso abriu o espaço para o desengajamento que já vinha sendo proposto pelo populismo de Trump da Europa desde seu primeiro mandato. Há evidentes paradoxos no movimento em curso, como a recompensa ao Kremlin com uma vitória parcial contra Kiev e a retomada de um projeto europeu, ainda que incerto.

Com o tarifaço, o presidente americano desorganiza ainda mais um tabuleiro já revirado. Tal instabilidade é inerente aos momentos em que as novas regras do jogo serão escritas, e cada ator relevante tentará inscrever um item de seu interesse.

Dono da caneta com mais tinta, Trump tem um problema: ele não parece ter um plano coerente. Isso já foi visto em sua política para o Oriente Médio, ora posando de pacificador em Gaza e crítico das “guerras inúteis”, ora ameaçando o Irã com um conflito imprevisível.

Assim, seu estilo “bola de demolição” pode acabar sendo engolido pela própria falta de foco, mas só pode ser aplicado ao mundo, elevando riscos e gerando incertezas, porque uma nova ordem está à espreita.



Fonte CNN BRASIL

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