Vítimas do esquema de abuso do magnata Jeffrey Epstein e políticos de oposição expressaram indignação após a divulgação dos arquivos do caso, com páginas e fotografias censuradas e com tarjas pretas
Entre o material que começou a ser publicado na sexta-feira (19), há várias fotografias que mostram o ex-presidente democrata Bill Clinton e outras figuras bastante conhecidas, incluindo os cantores Mick Jagger e Michael Jackson, na companhia de Epstein.
No entanto, a maior parte dos documentos contém muitos trechos censurados ou cobertos por quadrados pretos, o que reforça as dúvidas sobre se a divulgação será suficiente para pôr fim às persistentes teorias de conspiração por causa da lista de amigos poderosos de Epstein, incluindo o próprio Trump, e as circunstâncias de sua morte.
Os democratas exigiram respostas depois que uma fotografia que incluía uma imagem de Trump foi excluída do site criado pelo Departamento de Justiça para a divulgação dos arquivos. “Se retiram isso, imaginem quanto mais estão tentando esconder”, disse o senador democrata Chuck Schumer. “Esse pode ser um dos maiores encobrimentos da história.”
Entre dezenas de seções com parte do conteúdo oculto, um documento de 119 páginas identificado como “Grande Júri – Nova York” estava completamente censurado. Segundo a imprensa americana, mais de uma dúzia de outras imagens foram retiradas dos arquivos.
O Departamento de Justiça afirmou em um post que as ocultações foram feitas àqueles documentos quando eles foram protocolados nos respectivos processos judiciais à época. “Reproduzimos os documentos tal como os tínhamos em nossa posse”, disse a pasta.
Vítima de Epstein, Jess Michaels disse que passou horas revisando os documentos para encontrar seu depoimento e as transcrições de quando ligou para uma linha de denúncias do FBI.
“Não encontro nenhuma delas”, disse ela à emissora CNN. “Isso é o melhor que o governo pode fazer? Nem mesmo uma lei do Congresso está nos dando justiça.”
Ainda assim, os arquivos lançam alguma luz sobre os laços íntimos do magnata com ricos, famosos e poderosos. Pelo menos um dossiê contém dezenas de imagens censuradas de pessoas nuas ou com pouca roupa. Fotografias inéditas do desacreditado ex-príncipe britânico Andrew o mostram reclinado sobre as pernas de cinco mulheres.
Outras imagens mostram Clinton relaxando em um jacuzzi, com parte da foto censurada, e nadando ao lado de uma mulher de cabelo escuro que parece ser a ex-namorada de Epstein Ghislaine Maxwell, condenada por crimes sexuais.
Privacidade das vítimas
O congressista republicano Thomas Massie, que há muito tempo pressiona para que as informações sobre Epstein sejam tornadas públicas, afirmou que a decisão de censurar parte do conteúdo “viola gravemente tanto o espírito quanto a letra da lei” aprovada no Congresso, que obriga o governo a publicar todo o dossiê do caso, exceto o que viole a privacidade das vítimas.
“Simplesmente publicar uma montanha de páginas com tarjas viola o espírito da transparência e a letra da lei”, acrescentou o democrata Schumer.
O vice-secretário de Justiça dos EUA, Todd Blanche, afirmou à emissora ABC que não houve qualquer tentativa “de reter informações” para proteger Trump. Ainda assim, o presidente tentou durante meses impedir a divulgação dos arquivos sob posse do Departamento de Justiça, apesar de ter feito campanha em 2024 prometendo total transparência sobre o tema.
Por fim, cedeu à pressão do Congresso, incluindo a de seu próprio Partido Republicano, e em 19 de novembro sancionou uma lei que obrigava a publicação dos materiais em 30 dias. No entanto, sua base mais conservadora há muito tempo é obcecada pela saga de Epstein e por teorias da conspiração que alegam que ele comandava uma rede de tráfico sexual para a elite global.
Maxwell, a ex-namorada de Epstein, continua sendo a única pessoa condenada em relação a seus crimes e cumpre uma pena de 20 anos por recrutar menores para o magnata, que se suicidou na prisão.
