O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, anunciou nesta quinta-feira (18) um pacote de leis para combater o discurso de ódio e o antissemitismo. O governo estava sob pressão depois que um ataque terrorista matou 15 pessoas em um evento de celebração judaica na praia de Bondi, em Sydney, no fim de semana.
O plano anunciado pelo premiê inclui, entre outros pontos, o bloqueio de financiamento de projetos artísticos e de pesquisa que apoiem “atividades antissemitas” e retoma a ideia de retirar a cidadania de pessoas com dupla nacionalidade que se envolvam em atividades terroristas.
A legislação também facilitaria a acusação de pessoas que promovam o discurso de ódio e violência, e as penas seriam aumentadas. O plano ainda daria poder ao ministro de Assuntos Internos para cancelar e rejeitar vistos de pessoas que disseminem “ódio e divisão”.
“Os australianos estão chocados e com raiva. Eu estou com raiva. Está claro que precisamos fazer muito mais”, disse Albanese. A oposição pediu que o premiê atue para que o Parlamento aprove as leis antes do Natal.
O premiê foi alvo de críticas por, logo após o ataque, anunciar um pacote para endurecer a lei de controle de armas na Austrália, que já é uma das mais restritas do mundo, mas sem responder imediatamente ao aumento do antissemitismo. Já o governo de Albanese afirma que tem atuado para combater o problema nos últimos dois anos.
O anúncio do novo pacote de leis ocorreu no mesmo dia em que a mais jovem das 15 vítimas, Matilda, uma criança de 10 anos, era sepultada. O premiê não compareceu à cerimônia, pois sabia que não era bem-vindo e que poderia enfrentar uma recepção hostil. Albanese deu grande ênfase a contatos mais privados. Ele visitou a casa de um rabino onde estavam parentes de pessoas que haviam sido mortas e pessoas com filhos que ficaram feridos. Também falou com outros parentes, em longas conversas, por telefone.
No funeral, abelhas amarelas de brinquedo enfeitavam o caixão de Matilde, em homenagem ao seu nome do meio, Bee (abelha, em inglês).
Parentes usaram adesivos e levarem brinquedos e balões com desenhos do inseto, enquanto algumas pessoas vestiam amarelo. “O trágico, tão cruel e inimaginável assassinato da pequena Matilda é algo que todos nós sentimos como se nossa própria filha tivesse sido tirada de nós”, disse o rabino Yehoram Ulman.
“Matilda cresceu como qualquer criança, amando o que as crianças amam. Ela amava o ar livre, os animais. Ia à escola, tinha amigos, todos a amavam.”
A fila do lado de fora do salão onde o funeral foi realizado, no subúrbio de Sydney, se estendia pela rua. Pessoas que não conseguiram entrar acompanharam a cerimônia por uma tela do lado de fora do prédio.
Alguns dos presentes estavam criticando a atuação do governo. “É como se seu coração fosse arrancado. É terrível… ninguém quer isso”, disse Jae Glover, 25, enquanto distribuía adesivos de abelha. “É uma sensação de que isso poderia ter sido evitado. O antissemitismo já vem fermentando na Austrália há mais de dois anos.”
Quando o caixão branco de Matilda foi levado para o carro funerário ao final da cerimônia, as pessoas se aglomeraram para se despedir pela última vez. O funeral da vítima mais velha do ataque a tiros, Alex Kleytman, sobrevivente do Holocausto de 87 anos, foi realizado mais cedo no mesmo salão. Tibor Weitzen, 78, e Reuven Morrison, 62, também foram sepultados nesta quinta-feira.
O ataque foi cometido por Sajid Akram, 50, e seu filho Naveed, 24. Sajid foi morto a tiros pela polícia no local, enquanto Naveed terá de responder por 59 acusações, que incluem assassinato, lesão com tentativa de assassinato e terrorismo.
Ele foi baleado por policiais durante o ataque, mas sobreviveu após atendimento médico e saiu do coma no hospital em que foi internado na quarta. O início do julgamento do caso foi adiado até abril de 2026, confirmou o tribunal nesta quinta.
O governo descartou, por enquanto, a realização de uma Comissão Real sobre os ataques, uma investigação de alto nível com poderes judiciais.
A polícia está investigando redes do Estado Islâmico baseadas na Austrália, bem como as supostas ligações dos atiradores com o grupo terrorista nas Filipinas. Eles viajaram ao país no período de 1º a 28 de novembro.
Na quarta, o conselheiro de Segurança Nacional das Filipinas, Eduardo Año, afirmou não haver evidências de que os dois atiradores tenham recebido algum tipo de treinamento terrorista enquanto estavam no país.




