Algumas das discussões mais populares em um fórum online para entusiastas de armas na Áustria analisam os últimos lançamentos em acessórios para armas de fogo, como silenciadores e miras, ou avaliam os campos de tiro do país. Na tarde de terça-feira, uma discussão relativamente tranquila sobre “Leis sobre armas/tentativas de reforma” ganhou vida.

“Uma nova era em relação à posse de armas está começando”, escreveu um usuário com o nome AUG-Andy em alemão no site “Pulverdampf”. “Agora é óbvio, especialmente porque a maioria da população certamente apoia isso. O tiroteio aconteceu em um momento ruim. Agora, tudo o que ajuda é a oração.”

O tiroteio em questão chocou a Áustria na manhã desta terça-feira (10). Um ex-aluno de uma escola secundária em Graz, a segunda maior cidade da Áustria, abriu fogo com uma pistola e uma espingarda no campus. Ele matou ou feriu mortalmente pelo menos 10 pessoas, segundo as autoridades, antes de aparentemente se matar em um banheiro da escola. Foi o tiroteio escolar mais mortal da história da Áustria e um caso incomum de ataque com vítimas em massa contra crianças em idade escolar na Europa.

Foi também um choque para um país com uma rara cultura de armas —em comparação com muitos de seus vizinhos da Europa Ocidental, mas também com os Estados Unidos.

Mas isso pode não levar ao tipo de mudanças radicais nas leis sobre armas que muitos comentaristas online temem.

Os austríacos têm a 12ª maior taxa de posse de armas por pessoa no mundo, de acordo com o Small Arms Survey, um grupo de pesquisa independente com sede em Genebra. Eles também têm taxas relativamente baixas de violência com armas de fogo.

Em proporção à população, há menos mortes por armas de fogo a cada ano na Áustria do que no Canadá, Israel e na maior parte da Escandinávia, de acordo com estatísticas divulgadas pelo Commonwealth Fund. A taxa dos EUA é quase 17 vezes maior que a da Áustria.

Muitos austríacos celebram suas leis de posse de armas de fogo, que são mais liberais do que a maioria das nações europeias, mas também exigem que os futuros proprietários atendam a requisitos rigorosos antes de comprar uma arma. Assim, logo após o ataque, poucas figuras proeminentes pediram mudanças radicais nessas leis.

Isso contrasta com os Estados Unidos, onde tiroteios em escolas são muito mais comuns e onde líderes democratas e grupos de defesa focados na violência armada frequentemente pedem leis mais rígidas sobre armas após os ataques. Em nível federal, esses apelos raramente resultaram em grandes mudanças nas políticas.

Em toda a Europa, porém, tiroteios em escolas no passado muitas vezes trouxeram restrições rigorosas à posse de armas. A Alemanha endureceu as regulamentações já rigorosas após tiroteios em escolas em 2002 e 2009. Depois que um adolescente de 13 anos cometeu um massacre em uma escola em Belgrado em 2023, o presidente da Sérvia prometeu promover o “desarmamento quase completo” da população, incluindo um programa de anistia para que as pessoas entregassem armas ilegais.

Um líder político austríaco pressionou por algo semelhante na noite de terça-feira, após o tiroteio. Foi a prefeita de Graz, Elke Kahr, do Partido Comunista, que disse à emissora ORF: “Acho que as licenças de porte de arma são emitidas com muita rapidez. Do meu ponto de vista, por questões de segurança e proteção, apenas nossas autoridades executivas deveriam portar armas, não indivíduos particulares”.

Nenhum funcionário federal parece ter dito algo parecido com isso. Na terça-feira, quem pareceu ir mais longe no sentido de endossar mudanças na lei foi Franz Ruf, diretor-geral de segurança pública do Ministério Federal do Interior. Ele disse à ORF que, à luz de um tiroteio em massa, “devemos examinar se os requisitos legais são incompletos e se precisam ser revisados”.

O Partido Verde do país, que não faz parte da coalizão governamental, vem pressionando há anos para endurecer as leis sobre armas, um tema frequente no fórum online de defensores do armamento.

As leis já são muito mais rígidas do que nos Estados Unidos. A Waffengesetz, como é chamada a lei que estabelece requisitos fundamentais para a posse de armas na Áustria, restringe fortemente a posse de certas armas de nível militar. Ela permite a posse de pistolas e certos tipos de fuzis e espingardas somente se o comprador em potencial obtiver uma licença federal.

O processo de licenciamento inclui atender a uma idade mínima, passar por verificações de antecedentes e um teste psicológico, demonstrar conhecimento sobre como operar uma arma com segurança e citar um bom motivo para possuí-la, geralmente para caça ou tiro esportivo.

A polícia disse que o atirador no ataque em Graz havia atendido a esses requisitos e que ele estava legalmente autorizado a possuir as armas que usou no tiroteio.

Os legisladores tornaram as leis sobre armas da Áustria mais rígidas no final da década de 1990 para se adequarem às regulamentações da União Europeia. O resultado, segundo pesquisadores em um estudo de 2018, foi um declínio de uma década nas taxas de suicídio e homicídio envolvendo armas de fogo. Mas as taxas começaram a aumentar após a crise financeira global de 2008, quando os austríacos começaram a comprar mais armas.

As lojas de armas estavam abertas em Graz na quarta-feira, embora nenhum funcionário quisesse falar oficialmente sobre o tiroteio. Alguns entusiastas de armas tentavam entender o que havia acontecido no dia anterior.

Alois Stampfl, da Associação Esportiva da Polícia de Graz, disse em entrevista por telefone que seus colegas do clube estavam de luto. “Estou sem palavras”, disse ele. Após o ataque, acrescentou, o clube bloqueou seu campo de tiro.