O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou nesta quarta-feira (12) ser necessário uma BBC forte e independente, especialmente em tempos de desinformação, mas enfatizou que a emissora pública “precisa pôr a casa em ordem” após acusações de que a rede manipulou um discurso de Donald Trump e adotou viés anti-Israel em sua cobertura da guerra na Faixa de Gaza.
Starmer, que mantém boa relação com Trump, foi questionado durante sessão no Parlamento se pediria ao presidente americano que abandonasse a ação judicial contra a emissora por suposta difamação. Ele se esquivou da pergunta em si, mas disse acreditar em uma BBC “forte e independente”. “Alguns prefeririam que a BBC não existisse. Alguns deles estão sentados ali em cima”, afirmou, apontando para membros conservadores da oposição. “Eu não sou um deles. Em uma era de desinformação, o argumento a favor de um serviço de notícias britânico imparcial é mais forte do que nunca.”
O premiê também disse que a BBC deve manter os mais altos padrões e corrigir falhas rapidamente. “Quando erros são cometidos, eles precisam colocar a casa em ordem”, disse.
A BBC lida com a maior crise em décadas depois que o diretor-geral e a diretora-executiva de jornalismo renunciaram diante das críticas sobre os padrões editoriais e acusações de parcialidade, inclusive em relação ao material que teria distorcido as declarações de Trump.
A produção, exibida antes da eleição presidencial dos EUA do ano passado, editou um discurso do presidente americano antes da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, para acoplar dois trechos quase uma hora distantes entre si. Advogados de Trump afirmaram que a montagem o difamou porque deu a entender que ele incentivou o ato de barbárie.
A emissora reconheceu na segunda (10) que houve um “erro de julgamento” e afirmou que responderá formalmente à ameaça de processo “em tempo oportuno”.
Trump disse ter a “obrigação de processar” a BBC por deturpar seus comentários e deu prazo até sexta-feira (14) para que a emissora retire o conteúdo do ar, sob pena de enfrentar uma ação judicial de “no mínimo US$ 1 bilhão”. Seus advogados também exigiram um pedido público de desculpas e indenização sob o argumento de “danos financeiros e à reputação insuperáveis”, segundo carta obtida pela agência de notícias Reuters.
Financiada por uma taxa obrigatória paga por famílias britânicas, além de receitas comerciais, a BBC corre o risco de ter de usar o dinheiro público para pagar eventuais indenizações ao presidente americano. O ex-ministro de Mídia John Whittingdale, do Partido Conservador, disse à Reuters que haveria “indignação real” se a emissora tivesse de usar recursos de contribuintes para arcar com os custos de um erro próprio.
A denúncia de manipulação foi feita por Michael Prescott, ex-consultor independente do Comitê de Diretrizes e Padrões Editoriais da BBC. Ele mencionou o caso em documento interno, direcionado ao conselho da emissora, de acordo com o jornal britânico The Telegraph, que teve acesso ao material. Prescott deve comparecer ao Parlamento para falar sobre o caso na sexta.
O documento contém ainda uma lista de reportagens e acusações de cobertura supostamente tendenciosa contra Israel sobre a guerra na Faixa de Gaza.




