Pressionado pelos assassinatos em ataques americanos no Caribe, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, publicou nesta segunda-feira (1º) uma ilustração satírica de uma tartaruga, de dentro de um helicóptero, atirando em barcos na água.
“Franklin alveja narcoterroristas”, lê-se na ilustração. A frase é uma referência à franquia canadense “Franklin the Turtle”, ou “Franklin, a Tartaruga”, cujos livros são normalmente intitulados com questões do mundo infantil, como “Franklin vai à escola” ou “Frankling quer um animal de estimação”.
“Para a sua lista de pedidos de Natal”, escreveu Hegseth, marcando o Comando Sul dos EUA na publicação. Nos últimos meses, a unidade se envolveu em bombardeios mortais no mar do Caribe e no oceano Pacífico que especialistas classificam de ilegais.
Na última semana, a pressão sobre o governo aumentou após relatos na imprensa americana afirmarem que houve dois bombardeios no primeiro desses ataques, no dia 2 de setembro —o segundo, para matar sobreviventes da primeira explosão.
A Casa Branca admitiu nesta segunda que o barco foi alvejado duas vezes. O direito internacional não permite ataques contra pessoas que não ofereçam perigo iminente a não ser que se tratem de combatentes inimigos em um contexto de conflito armado —o que não é o caso no Caribe. Mesmo que os EUA estivessem em guerra com os traficantes, aliás, a segunda ordem seria um crime de guerra, uma vez que combatentes feridos têm direito a proteção.
Legisladores dos dois partidos pressionam a Casa Branca ao apoiar revisões do Congresso sobre a ofensiva militar americana na região. Em entrevistas a emissoras, parlamentares afirmaram que, se a ordem de matar todos a bordo foi dada, ela foi ilegal e, portanto, passível de punição.
“Se for verdade, chega ao nível de um crime de guerra”, afirmou o senador democrata Tim Kaine em entrevista à rede CBS. Já o deputado republicano Mike Turner ressaltou investigações abertas por comissões no Congresso e reforçou a ilegalidade do suposto ato. “Obviamente, se isso ocorreu, seria algo muito grave, e concordo que seria um ato ilegal”, afirmou.
Em três meses, as tropas americanas realizaram pelo menos 21 ataques a supostos barcos de drogas, matando pelo menos 83 pessoas. O governo não apresentou provas de que as embarcações carregavam drogas nem interceptou ou interrogou os suspeitos.




