A China está ampliando seu alcance diplomático enquanto o governo do presidente Donald Trump reduz a presença internacional dos Estados Unidos, afirmaram democratas da Comissão de Relações Exteriores do Senado em um relatório divulgado nesta segunda‑feira (14).
O documento, resultado de meses de viagens e pesquisas de funcionários, foi publicado no momento em que o governo Trump promove cortes profundos no Departamento de Estado, incluindo o início, na sexta‑feira, da demissão de mais de 1.350 funcionários nos EUA, parte de uma redução total de quase 3 mil servidores lotados no país.
O governo também cortou bilhões de dólares em ajuda externa, efetivamente levando ao fechamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que financiava a maior parte da assistência humanitária e ao desenvolvimento em todo o mundo. Isso resultou na demissão de milhares de funcionários e contratados, além da eliminação de mais de 80% de seus programas.
Críticos dizem que os cortes prejudicarão a capacidade de Washington de defender e promover interesses americanos no exterior. Pesquisa publicada na revista médica The Lancet estimou que o desmonte da Usaid pode resultar em mais de 14 milhões de mortes adicionais até 2030.
“Poucos dias depois de o governo Trump tomar posse e começar a reverter nossos compromissos ao redor do mundo, a China já classificava os EUA como um parceiro pouco confiável”, disse a senadora Jeanne Shaheen, líder democrata da comissão, em teleconferência com repórteres sobre o relatório.
“Num momento em que estamos recuando, eles estão ampliando sua presença”, afirmou.
O governo Trump diz que suas mudanças ajudam a alinhar a política externa à agenda “America First” e fazem parte de um esforço para enxugar a burocracia federal e cortar o que seus integrantes consideram gastos excessivos.
Trump sustenta que os EUA pagam de forma desproporcional pela ajuda externa e que deseja que outros países assumam maior parte do ônus.
O relatório democrata, de 91 páginas, lista formas —de emissoras internacionais a programas de saúde e iniciativas de desenvolvimento— pelas quais a China estaria expandindo sua influência.
Ele apresenta dezenas de casos em que pesquisadores da comissão identificaram ações chinesas que preencheram lacunas deixadas pelos EUA ao eliminarem ou reduzirem programas internacionais, como financiamento de vacinas, distribuição de alimentos e projetos de infraestrutura.
Por exemplo, na África, enquanto os EUA encerravam programas de assistência alimentar, a China doou em março US$ 2 milhões em arroz para Uganda. Em maio, após Washington cancelar um subsídio de US$ 37 milhões para combate ao HIV na Zâmbia, Pequim prometeu ajudar o país africano, incluindo a doação de 500 mil kits de teste rápido de HIV e a organização de novas reuniões para discutir a continuidade da parceria.
No Sudeste Asiático, o dirigente chinês Xi Jinping fez um giro que incluiu encontros com lideranças do Vietnã, Camboja e Malásia, segundo o relatório. A viagem resultou em acordo para conexões ferroviárias no Vietnã, 37 tratados de cooperação no Camboja —abrangendo energia, educação e infraestrutura— e intercâmbios técnicos e industriais na Malásia.
Já na América Latina, a China sediou em maio o “Fórum China–América Latina e Caribe” e anunciou uma linha de crédito de US$ 9 bilhões, além de novos investimentos em infraestrutura na região.