Dois homens suspeitos de terem participado dos ataques que deixaram 19 mortos e dezenas de feridos na Colômbia foram interrogados por um juiz na manhã deste sábado (23), dois dias após terem sido presos em flagrante. Eles devem receber uma acusação formal em breve.
De acordo com o Ministério Público, Walter Esteban Yonda Ipía e Carlos Steven Obando podem ter transportado dois caminhões carregados de artefatos explosivos até as imediações da Escola de Aviação Militar Marco Fidel Suárez, em Cali, e acionado os detonadores. Só nesse local, houve seis mortos e mais de 60 feridos.
“A comunidade posteriormente os impediu de escapar, e eles foram pegos em flagrante por unidades da Polícia Nacional. Esse procedimento foi autorizado e endossado pelo juiz que presidiu as audiências” neste sábado, afirmou o Ministério Público. “Um promotor da Direção Especializada contra Organizações Criminosas os acusará por seu envolvimento no atentado terrorista.”
O ministro da Defesa, Pedro Sánchez, responsabilizou a maior dissidência das Farc após o acordo de paz de 2016, conhecida como Estado Maior Central (EMC), pelo ataque à escola. O grupo, que está sob o comando de Iván Mordisco, não reivindicou a autoria.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, vem comparando o líder a Pablo Escobar, um dos narcotraficantes mais famosos da história, morto em 1993. Suspeita-se que ele está fugindo pela Amazônia após ser ferido em uma operação.
Seu irmão, Mono Luis, foi capturado na sexta (22) durante operação em uma área rural perto de Bogotá, anunciou Petro. Segundo um vídeo da polícia divulgado pelo presidente, Luis “lidera atividades de narcotráfico, finanças ilícitas e logísticas” para o EMC.
Segundo a polícia, ele teira “saiu da zona de mobilidade” de Mordisco com o objetivo de “atuar como representante em seus negócios criminosos e em reuniões clandestinas”. A detenção foi feita por agentes das forças especiais em uma casa de campo no município de El Peñón, Cundinamarca.
O outro atentado de quinta, em Amalfi, ao norte de Medellín, havia sido realizado um pouco antes por uma dissidência do EMC, o Estado Maior de Blocos e Frente (EMBF), liderado por um guerrilheiro conhecido como Calarcá. Armada com fuzis e um drone, a facção rebelde atacou um esquadrão da polícia que trabalhava em uma missão de erradicação de drogas, derrubando um helicóptero e matando 13 policiais.
Os dois eventos são uma amostra da espiral de violência que tem tomado conta do país a despeito da promessa de Petro, ex-guerrilheiro e primeiro presidente de esquerda da história recente da Colômbia, de alcançar uma Paz Total no país, que não conseguiu se pacificar totalmente após os acordos que desarmaram as Farc há nove anos.
Antes disso, no dia 10 de junho, sete atentados no departamento de Valle del Cauca, onde fica Cali, e 12 no departamento vizinho de Cauca mataram oito pessoas, incluindo dois policiais. Só naquele mês, os ataques deixaram mais de 40 feridos.
Já naquela ocasião, o ministro da Defesa, Sánchez já havia responsabilizado Iván Mordisco pelas ações, oferecendo uma recompensa de 300 milhões de pesos colombianos (R$ 406,8 mil) para quem desse informações que levassem à captura dos responsáveis.
Diante da violência, o presidente carregou seu discurso de uma retórica antiterrorista nos últimos anos, algo que criticava em seus antecessores.
“O golpe na população de Cali é brutal, é profundo, é de terror”, afirmou após os mais recentes atentados, pedindo “ao Estado colombiano e ao mundo” que classifiquem como “organizações terroristas” as duas dissidências e o Clã do Golfo, maior cartel produtor de cocaína e o único grupo que ainda participa de negociações no Qatar, após várias tentativas fracassadas iniciadas em 2023.