A Universidade Columbia, que tem sido criticada por não ter assumido uma posição mais desafiadora contra os esforços do governo de Donald Trump para definir sua agenda, deu sinais de adotar um tom mais duro em uma nota da reitora em exercício, que prometeu que a instituição não permitiria que o governo federal “exigisse que abríssemos mão de nossa independência e autonomia”.
A mensagem foi enviada menos de 12 horas depois de Harvard ter se tornado a primeira universidade a se recusar a atender às exigências do governo, o que levou as autoridades federais a congelar US$ 2,2 bilhões (R$ 12,9 bilhões) em subsídios plurianuais para a instituição. A carta foi enviada a alunos e membros do corpo docente em um momento em que a universidade tem sido alvo de intensas críticas pelo que os críticos consideram uma conivência com a Casa Branca.
Até agora, a instituição havia evitado, em grande parte, criticar publicamente o governo e sua campanha contra as universidades. Em sua primeira declaração pública, em março, Claire Shipman, a nova reitora interina de Columbia, reconheceu que a universidade enfrentava “um momento precário”, mas não mencionou diretamente as autoridades federais ou o cancelamento de cerca de US$ 400 milhões em subsídios e contratos para a escola.
E quando a antecessora de Shipman, Katrina Armstrong, revelou um acordo em relação às principais exigências do governo —incluindo a colocação do departamento de estudos do Oriente Médio da universidade sob nova supervisão e a criação de uma força de segurança com poderes para efetuar prisões— ela não criticou a interferência do governo no ensino superior.
Mas, na segunda-feira (14), Shipman —que disse ter lido uma nota com palavras fortes do reitor de Harvard “com grande interesse”— pareceu adotar um novo tom, o sinal mais robusto de possível resistência da liderança de Columbia desde o cancelamento do financiamento federal.
Shipman escreveu que a universidade “rejeitaria a orquestração pesada do governo que poderia prejudicar nossa instituição e minar reformas úteis”. Ela disse que qualquer acordo em que as autoridades federais ditassem “o que ensinamos, pesquisamos ou quem contratamos” seria inaceitável.
Ainda assim, Shipman não foi tão longe quanto o reitor de Harvard, Alan Garber, que se recusou categoricamente a se resignar, escrevendo que o governo federal havia procurado “invadir as liberdades universitárias há muito reconhecidas pela Suprema Corte” e que a instituição não cederia a “exigências que vão além da autoridade legal desta ou de qualquer administração”. “Nem Harvard nem qualquer outra universidade privada pode se permitir ser controlada pelo governo federal”, escreveu Garber.
Poucas horas depois, a declaração de Shipman saudou o que ela caracterizou como “discussões de boa fé” com uma força-tarefa federal contra o antissemitismo que está por trás de grande parte dos esforços contra as universidades.
Ao abordar a ansiedade predominante entre os estudantes estrangeiros —centenas dos quais em todos os Estados Unidos foram abruptamente destituídos de sua capacidade de permanecer no país— Shipman escreveu que estava acompanhando as ações do governo “com grande preocupação”.
Uma porta-voz do Departamento de Educação, cujas autoridades estiveram envolvidas nas negociações com Columbia, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Nos últimos três meses, o governo Trump mirou algumas das instituições mais proeminentes do país, enquanto se esforça para erradicar o que diz ser o antissemitismo desenfreado nos campi, incluindo o de Columbia, juntamente com o que chama de esforços injustos de diversidade, equidade e inclusão em todo o ensino superior.
As agências federais suspenderam centenas de milhões de dólares em fundos para pesquisa em várias universidades, incluindo Columbia, Brown, Cornell e Northwestern. Alguns membros do corpo docente argumentaram que a resposta da instituição às exigências do governo prejudicou seus princípios centrais e a liberdade acadêmica.
O governo federal exigiu um conjunto extraordinário de mudanças em Harvard em uma carta na semana passada, inclusive que a universidade compartilhasse todos os seus dados de contratação com a administração Trump, colocasse determinados departamentos sob uma auditoria externa e encerrasse imediatamente qualquer programação relacionada à diversidade.
Assim como o reitor de Harvard rejeitou o ultimato do governo, Shipman disse ao seu campus que “a instituição pode decidir a qualquer momento, por conta própria, tomar decisões difíceis que sejam do melhor interesse de Columbia”.
Joseph Howley, professor de história clássica da universidade, disse que gostou do fato de a carta de Shipman parecer incluir um “compromisso com alguns princípios que, creio, todos nós ficamos felizes em saber que são de fato princípios”.
Mas, para ele, “o que mais chamou a atenção” foi o fato de os líderes da instituição estarem “claramente afirmando quanto tempo estão conversando com o governo federal de Donald Trump, quando não parecem estar gastando muito tempo conversando com seu próprio corpo docente”. “Esse foi um problema durante todo o ano passado”, disse ele. “E isso não nos leva a nada de bom.”
Christopher L. Eisgruber, reitor da Universidade Princeton, onde pelo menos US$ 210 milhões (R$ 1,2 bilhão) em concessões e contratos federais estão em risco, reconheceu em uma entrevista recente ao The New York Times que algumas universidades podem ter que ceder “para proteger as pessoas”.
Mas ele acrescentou que elas também precisavam “se manifestar nessas circunstâncias”, mesmo que para expressar arrependimento em relação a um compromisso.
“Gostaria de ter ouvido isso de Columbia”, disse Eisgruber. “Você pode dizer: ‘Olha, eu gostaria de poder tomar uma posição por princípio, mas dado o que está em jogo, não posso’. Mas então você precisa dizer isso. Você precisa admitir e dizer à sua comunidade e aos americanos: ‘Ei, há algo realmente fundamental que se perdeu aqui'”.