Todos os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, exceto os Estados Unidos, afirmaram nesta quarta-feira (27) que a fome em Gaza é fruto de “ação humana”. Na declaração, os países também alertaram que o uso da fome como arma de guerra é proibido pelo direito internacional.
Os 14 membros do conselho, que inclui França, Reino Unido e China, pediram um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente, a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas, um aumento substancial da ajuda humanitária em todo o território e que Israel suspenda imediatamente e sem condições todas as restrições à entrega de comida.
Washington, aliado histórico de Tel Aviv, não endossou o comunicado.
Na semana passada, a ONU declarou oficialmente um cenário de fome na Faixa de Gaza, a primeiro vez que a classificação é atribuída a um local no Oriente Médio, após meses de alertas de especialistas e da própria organização de que 500 mil pessoas estavam em uma situação humanitária catastrófica.
A declaração lida nesta quarta-feira (27) afirma que “confia na metodologia” do relatório e que “todos os dias, mais pessoas morrem em consequência da desnutrição, muitas delas crianças”.
“Estima-se que pelo menos 132 mil crianças sofram de desnutrição aguda entre agora e junho de 2026. Idosos e pessoas com doenças crônicas também continuam a ser desproporcionalmente afetados pelo conflito e estão entre os grupos vulneráveis que, segundo relatos, estão sucumbindo a mortes relacionadas à desnutrição”, afirma ainda o documento.
“Tudo isso enquanto centenas de caminhões carregados com ajuda vital permanecem parados a pouca distância. Estamos aqui diante de vocês profundamente perturbados com os níveis de desnutrição aguda entre as crianças em Gaza”, segue.
“Esta é uma crise provocada por ação humana. O uso da fome como arma de guerra é claramente proibido pelo direito humanitário internacional. A fome em Gaza deve ser interrompida imediatamente.”
O relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), órgão das Nações Unidas com sede em Roma, afirma que a fase 5 de sua classificação de fome, a pior na escala, está em curso na Cidade de Gaza —onde Israel realiza nova ofensiva— e que as áreas de Deir al-Balah e Khan Yunis estão na fase 4, mas se encaminhando para a fase 5 até setembro.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, chamou o relatório de “mentira descarada”. “Israel não tem uma política de fome”, em Gaza, disse o premiê em comunicado divulgado por seu gabinete.
A fome em Gaza se tornou o principal vetor de pressão internacional contra Israel em 2025, quando a guerra completa dois anos, em outubro.
Depois de um início de ano com um cessar-fogo que durou quase dois meses, de janeiro a março, a situação humanitária no território passou a se deteriorar rapidamente, em particular após o bloqueio total imposto por Tel Aviv à entrada de ajuda humanitária, que esvaziou os estoques em Gaza.
O bloqueio foi levantado em maio e, paralelamente, Israel instituiu uma via alternativa de distribuição de ajuda em parceria com uma obscura organização chamada Fundação Humanitária de Gaza (FHG), que opera quatro centros em torno dos quais dezenas de palestinos já foram mortos em busca de auxílio.
Enquanto Tel Aviv afirma que o auxílio entra em Gaza mas não chega aos palestinos por culpa de supostos roubos do Hamas e da ineficiência de organizações internacionais que atuam ali e fazem a distribuição, essas entidades acusam os israelenses de bloquear, dificultar e não assegurar um mínimo de segurança para o trabalho humanitário.